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- Capítulo 135 - 135 Alguns planos novos e antigos 135 Alguns planos novos e
135: Alguns planos novos e antigos 135: Alguns planos novos e antigos Jessica jazia encolhida no chão frio de pedra do seu quarto, seu corpo tremendo enquanto ondas de dor a atravessavam. A agonia parecia estar a rasgá-la por dentro. Seus dedos agarravam a borda da cama enquanto ela ofegava por ar, e seus dentes rangiam contra a dor lancinante. Ela odiava isso— a sensação insuportável que atingia toda vez que sentia Damien e Anne juntos. Era como uma adaga torcendo em seu peito, um lembrete cortante de que o vínculo que tinha com Damien era incompleto e fraturado.
Ela podia senti-los agora, fazendo amor. A meia-marca que carregava, aquela que havia sido forçada sobre ela, a conectava a Damien de maneira cruel. Ela não era sua parceira verdadeira, e ainda assim sentia cada faísca das emoções dele, cada momento de ternura que ele compartilhava com a mulher.
Lágrimas turvavam a visão de Jessica, mas ela rapidamente as enxugava.
Ela nunca quis estar nessa posição. Não havia pedido esse vínculo, essa maldita marca que a prendia a Damien de uma forma tão torcida. Mas seu pai não tinha dado a ela escolha.
Ela havia crescido sob o seu rígido controle, e quando ele decidiu que seria ela a garantir o poder ao se tornar a companheira de Damien, ela sabia que não havia escapatória. Recusá-lo significaria sofrer um destino muito pior do que o que ela suportava agora.
Então ela fez isso. Seguiu as ordens de seu pai.
Ela estava presa em um pesadelo real. Sozinha, sem amigos e odiada pelas próprias pessoas entre as quais fora forçada a viver. Os lobos desta matilha não a viam como uma das suas. Viam-na como um parasita, um lembrete da desordem que seu pai havia causado.
Supostamente, Damien deveria estar com Anne. Todos sabiam disso. Eram parceiros verdadeiros, destinados um ao outro de uma maneira que Jessica jamais poderia competir. Ela tinha sido uma ferramenta usada para criar discórdia, e agora era nada mais que uma presença indesejada.
A dor em seu peito flamejava novamente, uma sensação de queimadura que a fazia se encolher ainda mais. Não havia lugar para ela aqui. Sem amor. Sem gentileza. Ela nem sequer conseguia lembrar a última vez que alguém havia falado com ela sem malícia na voz.
O coração dela pulou quando o telefone tocou.
Seu pai.
Só de pensar no nome já apertava o peito com temor. Alfa Jackson não ligava a menos que quisesse algo, e esse algo nunca era a favor dela.
Jessica hesitou por um instante, seu dedo pairando sobre a tela antes de atender a chamada.
“Jessica,” a voz dele era fria, afiada e comandante, como sempre. Não havia fingimento de preocupação ou afeto. Apenas negócios.
“Pai,” ela respondeu, tentando manter o tremor fora de sua voz. Ela já podia sentir que essa chamada tornaria tudo pior.
“Ouvi sobre os planos do Damien,” Jackson continuou sem qualquer preâmbulo, suas palavras cortantes e diretas. “Ele está organizando uma grande cerimônia de acasalamento para as alcateias.”
Jessica permaneceu em silêncio. Não tinha nada a dizer. Ela não queria fazer parte disso mais. Ela nunca quis nada disso desde o começo. Mas Jackson não era um homem que se importava com o que ela queria.
“Estou enviando sua tia para você,” Jackson continuou, seu tom mais baixo, mais sinistro. “Ela vai cuidar das coisas.”
Seu coração disparou. Tia Elara.
A garganta de Jessica apertou. Sua tia era uma vidente, alguém que mexia com artes obscuras—poções, amuletos, feitiços que beiravam o proibido. Se seu pai estava enviando ela, significava apenas uma coisa: ele estava planejando algo novamente, algo perigoso. Algo que forçaria Jessica a se enredar ainda mais em seus esquemas.
“Eu não preciso da Tia Elara aqui.” Jessica protestou fracamente, sabendo muito bem que suas objeções não importavam. “Eu—”
“Jessica,” Jackson interrompeu-a bruscamente, sua voz como gelo. “Você fará o que eu digo. Elara está vindo, e você seguirá as instruções dela à risca. Você entende?”
A mão de Jessica se apertou ao redor do telefone, seus nós dos dedos ficando brancos. Ela queria gritar, dizer não, dizer que já tinha tido o suficiente das suas manipulações, seu controle sobre a vida dela. Mas as palavras não vinham. Elas nunca vinham.
“Sim,” ela sussurrou, sua voz mal audível, a palavra uma rendição amarga.
“Bom,” Jackson respondeu, seu tom final. “Ela chegará em breve. Não cometa erros, Jessica. Você sabe o que está em jogo.”
A chamada terminou abruptamente, deixando Jessica olhando para o telefone, sua mente atordoada.
Ela sabia o que estava em jogo—os planos de seu pai, seu desejo por poder, sua necessidade de controlar cada aspecto da vida dela. Ele a tinha forçado nesse vínculo torcido com Damien, e agora, com Elara vindo, estava preparando-se para manipular as coisas ainda mais.
Jessica se recostou na parede, seu coração pesado com uma mistura de medo e impotência. Damien estava seguindo em frente com sua vida, preparando-se para celebrar um futuro com sua parceira verdadeira, e aqui estava ela—ainda um peão nos esquemas de seu pai, ainda presa por um vínculo que nunca quis.
Sua tia viria, e seja qual fosse o plano que Jackson tinha em movimento, Jessica sabia que ela seria arrastada para ele, assim como sempre foi. Seu destino não era mais seu.
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Os olhos do Alfa Falcão, suaves e cheios de calor, estavam focados no pequeno feixe de energia brincando no canto do quarto. Ryan estava perseguindo um brinquedo de madeira, sua risada soando como sinos nos espaçosos aposentos.
“Vem aqui, pequeno guerreiro!” Falcão chamou, sua voz profunda tingida de uma afeição que ele reservava para poucos. Ryan olhou para cima, suas bochechas ruborizadas com a excitação da brincadeira, e sem hesitar, correu para os braços à espera de Falcão.
Falcão o levantou sem esforço, jogando-o no ar apenas o suficiente para mandar o menino em acessos de riso antes de pegá-lo e puxá-lo para perto. “Você, meu garoto, vai ser o melhor Alfa de todos,” Falcão disse, sorrindo enquanto beijava Ryan na testa. “O melhor neto que alguém poderia desejar.”
Liana estava na porta, observando a cena se desenrolar. Ela sempre soube o quanto Falcão adorava Ryan. Ele havia se dedicado ao menino desde o momento em que ele nasceu, praticamente grudado em seu lado sempre que tinha tempo. Para ele, Ryan era a epítome da linhagem perfeita.
Ela engoliu o nó em sua garganta e forçou um sorriso. “Pai,” ela disse, entrando no cômodo, sua voz suave, “Eu queria falar com você sobre a grande cerimônia de acasalamento.”
Falcão relutantemente desviou o olhar de Ryan, que havia começado a brincar com a barba do avô Alfa, puxando-a divertido. “Ah? O que tem ela?”
“Estamos organizando uma grande este ano,” Liana disse, mantendo seu tom neutro. “Estamos convidando membros de todas as alcateias, incluindo a sua. Será uma boa oportunidade para Malcolm encontrar sua parceira.”
Malcolm era o irmão mais novo de Liana, que ainda estava sem par.
Falcão riu, o som rico e cheio de incredulidade. “Ah, Liana, você ainda está presa nessa ideia de ‘parceiros verdadeiros’, não é?” Ele transferiu Ryan para o seu colo e deu uma cutucada brincalhona no menino. “Veja, é aí que nos diferimos.”
Liana levantou uma sobrancelha, seu sorriso forçado não alcançando seus olhos. “O que você quer dizer?”
Falcão se inclinou para trás, seus ombros largos relaxando como se preparando para uma palestra. “Eu nunca acreditei em parceiros verdadeiros,” ele disse de forma direta. “Quer dizer, olhe para nós, Liana. Eu escolhi Richard para você, não escolhi? E veja como isso deu certo. Você teve um filho forte em Damien, e agora você tem esse pequeno guerreiro perfeito aqui.” Ele bagunçou o cabelo de Ryan carinhosamente, seu sorriso se alargando.
O coração de Liana apertou. Falcão sempre foi tão certo de suas decisões, tão orgulhoso da vida que ele havia projetado para ela.
“Você teve uma vida maravilhosa com Richard, e agora Damien está crescendo e se tornando um líder como seu pai. Por que complicar as coisas com essa bobagem de ‘parceiro verdadeiro’?”
O estômago de Liana revirou, mas ela manteve a compostura. Como ela poderia dizer a ele? Como ela poderia olhar nos olhos dele e despedaçar a ilusão que ele havia construído ao redor deles?
Se ele soubesse a verdade — que Damien não era seu filho, não estava nem mesmo ligado à linhagem de Falcão — isso o destruiria.
Em vez disso, ela concordou, forçando as palavras para fora com dificuldade. “Talvez você esteja certo, pai. Mas ainda assim, pode ser bom para o seu irmão participar. Há sempre uma chance de ele encontrar alguém.”
Falcão a dispensou com uma risada. “Veremos, veremos.”