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- Capítulo 117 - 117 Uma Fenda 117 Uma Fenda Anne congelou os olhos
117: Uma Fenda 117: Uma Fenda Anne congelou, os olhos arregalados enquanto seus sentidos se aguçavam. Era inconfundível, ainda que vagamente, o cheiro que impregnava as roupas de Damien, o mesmo cheiro que ela odiava. Seu coração batia acelerado no peito enquanto ela olhava para Damien, a excitação rapidamente se drenando, substituída por um sentimento de pavor que a afundava.
Seus olhos encontraram os dele, e ela viu. Culpa.
O rosto de Damien, que se iluminara no momento em que a viu, agora vacilava. Seu sorriso tremia, e a confiança que ele normalmente exalava se rachava. Ele tentou manter o contato visual, mas Anne podia ver a tempestade de emoções se formando por trás de seus olhos – a tensão em sua mandíbula, a maneira como seus ombros se enrijeciam como se estivesse se preparando para um golpe.
— Damien — ela sussurrou, a voz trêmula com a mistura de emoções que corriam dentro dela. Seus dedos, que estavam a poucos centímetros de tocá-lo, agora pairavam no ar, incertos.
— O que… o que é isso?
Por um momento, ele não disse nada. Seus lábios se abriram, mas nenhuma palavra saiu. Ele baixou o olhar, incapaz de encontrar os olhos questionadores dela. Seu silêncio era mais condenatório do que qualquer coisa que ele poderia ter dito.
O coração de Anne se comprimiu dolorosamente, e ela deu um passo para trás, a mente acelerada. Ela não queria tirar conclusões precipitadas, mas o cheiro estava lá, e a expressão culpada de Damien era inegável. A ideia de vê-lo perto de Jessica lhe gelava o sangue. Ela não queria questioná-lo ali; na frente de todos, ela agiu como se nada tivesse acontecido.
Damien ficou lá, observando impotente enquanto Anne pegava Ryan nos braços, se afastando dele tanto fisicamente quanto emocionalmente.
— Vou levar Ryan para o andar de cima — disse Anne baixinho, sem olhar para ele. — Conversaremos mais tarde.
Com isso, ela se virou e se afastou.
Liana não perdeu tempo para ir direto ao ponto. — Damien — começou ela, o que está acontecendo com o conselho? E como Blaze conseguiu se enredar nessa confusão?
Damien exalou bruscamente, passando a mão pelo cabelo. — Estou me perguntando a mesma coisa — murmurou ele, o tom cortante. Ele caminhava pela sala, a linguagem corporal transbordando de agitação. — Eu avisei tanto a você quanto ao papai sobre Blaze e Jackson. Eles têm tramado há meses — manipulando as coisas nos bastidores, causando problemas — mas nada foi feito.
Os olhos de Liana se estreitaram um pouco.
A expressão de Damien endureceu, a frustração fervendo. — E Blaze — ele é mais perigoso do que qualquer um de vocês percebe. Vocês deveriam ter previsto isso. Agora, o conselho está envolvido, e eu sou o único que tem que limpar a bagunça.
Liana endureceu, seu orgulho ferido por sua acusação. — Temos administrado a situação.
— Administrando? — Damien a interrompeu, a voz levemente elevada. — É isso que você chama? Blaze apareceu com o conselho, pronto para destruir a Anne. Ele e Jackson têm trabalhado juntos, e você deixou eles chegarem tão perto.
Liana cruzou os braços, o maxilar apertado. Ela não estava acostumada a ser falada desse jeito, não pelo seu filho. Mas Damien não era apenas qualquer Alfa; ele era o futuro rei, e sua raiva era justificada. — Não percebi que tinha ficado tão mal — admitiu ela, embora seu tom ainda fosse resguardado. — Mas ainda não entendo como o conselho se envolveu tão rapidamente. Blaze nunca foi capaz de influenciá-los assim antes.
Ele respirou fundo, tentando se acalmar. — Tem mais. Não é apenas Blaze e o conselho. Jessica… ela me prendeu no hotel. Eu pensei que poderia evitá-la, mas ela me seguiu. Fui atingido por algo e perdi a consciência; quando acordei… ela estava no meu quarto, e tinha me marcado.
A sala ficou em silêncio; o rosto de Liana imediatamente se escureceu, seus olhos se estreitando em fendas perigosas. Alfa Falcon, que estava de pé no canto, com os braços cruzados, endireitou-se.
— Ela fez o quê? — A voz de Liana estava impregnada de veneno.
Damien assentiu, andando de um lado para o outro novamente, incapaz de ficar parado. — Foi uma armadilha. Chris veio me buscar nesta manhã e me encontrou no meu quarto de hotel com Jessica. E quando a confrontei, ela admitiu ter planejado tudo.
As mãos de Liana se fecharam em punhos ao lado do corpo, seu lobo mal contido por trás de sua expressão feroz. — Isso é uma declaração de guerra — ela cuspiu, a voz cheia de fria fúria. — Essa mulher cruzou todas as linhas.
Alfa Richard, que vinha ouvindo em silêncio, finalmente falou. Sua voz era profunda.
— Ninguém ataca o futuro Rei Alpha e fica impune. Vamos garantir que ela pague por isso.
— Primeiro eu preciso visitar o conselho e resolver essa bagunça — Damien declarou e se afastou.
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Damien estava à porta do quarto deles, a mão repousando na maçaneta por um momento a mais do que o necessário. Ele não tinha certeza do que esperar ao entrar, mas o silêncio era ensurdecedor. Anne estava sentada junto à janela, de costas para ele.
Ela não se virou quando ele entrou; ela não reconheceu sua presença. Era como se ela estivesse em um mundo distante. Sua companheira, o amor de sua vida — que agora parecia tão inalcançável.
Ele respirou fundo, se fortalecendo, e se aproximou. — Anne — disse ele suavemente, a voz baixa e cheia de arrependimento.
Ainda assim, ela não se virou. Suas mãos repousavam em seu colo, os dedos vagamente entrelaçados, mas a tensão em seus ombros era inegável. Finalmente, ela falou, a voz fria e distante. — Não quero ouvir, Damien.
Suas palavras cortaram fundo, mais afiadas do que qualquer lâmina. Ele esperava raiva, talvez até lágrimas — mas isso? Essa indiferença calma e desapegada era algo completamente diferente. Ela não estava gritando ou acusando. Ela nem mesmo estava pedindo uma explicação. Ela simplesmente não se importava.
Damien se aproximou mais, o desespero infiltrando-se em sua voz. — Anne, não é o que você pensa. Eu juro para você, eu nunca te trairia assim. Ele parou alguns passos atrás dela, a vontade de tocá-la e puxá-la para seus braços era avassaladora. Mas ele não se atreveu. — Jessica me armou uma cilada. Eu não me lembro do que aconteceu, mas eu sei que não fiz.
Anne levantou a mão para interrompê-lo, cortando suas palavras. — Estou bem, Damien — disse ela, o tom desprovido de emoção. Ela finalmente se levantou da cadeira, mas ainda não olhou para ele. — Sério. Estou bem. Não quero falar sobre isso.
— Anne, por favor. — Sua voz agora era quase implorante, crua com as emoções que ele lutava para manter sob controle. — Você não está bem. E eu sinto muito. Sinto muito mesmo. Mas precisamos conversar sobre isso. Preciso que você entenda — Jessica planejou isso. Ela está tentando nos separar.
Pela primeira vez, Anne se virou, seus olhos se encontrando com os dele. Não havia raiva ali, nenhum fogo — apenas uma calma gélida que gelou Damien até o âmago. — Eu entendo perfeitamente, Damien — disse ela, suas palavras lentas e deliberadas. — Entendo que ela tem sido um problema há muito tempo. E entendo que isso vai continuar acontecendo repetidamente, a menos que eu aprenda a aceitar isso.
Suas palavras o atingiram como um soco no estômago. Damien deu um passo à frente, balançando a cabeça. — Não. Você não precisa aceitar isso. Isso não vai continuar acontecendo. Eu vou garantir isso.
Anne lhe deu um sorriso triste e fraco. — Você não pode controlar tudo, Damien. Não a Jessica, não o conselho, não o que as pessoas dizem ou fazem. E nem a mim.
— Não posso perder você — Damien sussurrou, a voz rachando sob o peso do medo que ele vinha reprimindo. — Não vou.
— Você não vai — Anne respondeu, sua voz agora gentil, mas ainda havia uma distância em seus olhos. — Mas as coisas estão diferentes agora, Damien. Nós estamos diferentes.
Ele abriu a boca para protestar, mas ela levantou a mão novamente, silenciando-o mais uma vez.
— Vamos apenas superar isso — disse ela suavemente. — O que está acontecendo com o conselho, com Blaze, com Jessica — isso não importa agora.
Ele fechou os olhos brevemente, se recolhendo. — O conselho — começou ele, a voz rouca. — Você precisa vir comigo para esclarecer essa bagunça. Eles foram alimentados com mentiras.
Ela assentiu levemente, a expressão ilegível. — Certo — disse ela após um momento. — Irei com você.