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Capítulo 580: Luto, Lamentando, Planejamento
Xuan Yang concordou. “Na noite em que você… voltou,” sua voz suavizou levemente na palavra, “Xu Zeng teve que levar Bai Mo para o lado várias vezes para que ele pudesse chorar longe dos outros. Até Xu Hu Zhe foi para aplacá-lo.”
Os lábios de Xu Feng se abriram levemente.
Xuan Yang continuou, sua voz fluindo com um zumbido suave, “Xu Zeng pode não querer admitir, mas eu o vi chorar também. Nos braços de Hu Zhe. Eu não o teria deixado chorar sozinho.”
Xu Feng piscou, processando as palavras.
Xu Zeng havia chorado?
Xu Zeng, que sempre se portou com uma calma, uma aura inabalável?
Xu Feng de repente pensou sobre o quão próximos os três tinham se tornado recentemente. Eles eram os pilares um do outro, um sistema de apoio silencioso que tinha se fortalecido na sua ausência. E ainda, ele—
Ele não havia deixado eles lamentarem adequadamente.
Ele não havia deixado eles sentirem.
Em vez disso, havia evitado egoisticamente a dor deles porque ele não conseguia lidar com a própria.
Ele pensou no segredo de Bai Mo—o que quer que fosse. Ele havia planejado esperar até depois dos exames de Bai Mo para falar com ele, mas… ele deveria esperar?
Seria ok falar com os outros agora?
Então outro pensamento o atingiu. Bai Mo sabia que ele estava visitando hoje, no entanto, por um momento, Xu Feng havia completamente esquecido da existência dele.
Ele ainda estava em negação também?
Ele havia, como Xuan Yang, pensado que tudo isso era apenas um sonho?
Xu Feng engoliu em seco. Isso não era verdade, não se encaixava… mas ainda assim…
Ele não sabia o que estava acontecendo consigo mesmo, muito menos com todos os outros. Mas ele não podia continuar reprimindo-os só porque não queria vê-los chorar.
Apenas porque ele não queria chorar também.
Sua voz saiu mais suave do que esperava, quase hesitante.
“Vocês e Jian também estiveram chorando?”
Ele não estava esperando uma resposta honesta.
Mas Xuan Yang não hesitou.
“Sim.”
A respiração de Xu Feng prendeu em sua garganta.
Xuan Yang exalou, seu aperto se apertando um pouco mais. Sua voz, quando ele falou de novo, foi baixa, quase um fato consumado.
“Jian mais do que eu. Ele não gosta de chorar na frente dos outros, mas eu sei.” Ele fez uma pausa por um momento, e então acrescentou, “Ele passou a maioria do tempo sozinho antes de você voltar. Ele não queria que ninguém o visse desmoronar.”
Xu Feng fechou os olhos brevemente.
Jian. Seu Jian.
Na sua ausência, ele havia ficado sozinho no seu luto.
Os dedos de Xu Feng apertaram ao redor dos de Xuan Yang, seu peito dolorosamente contraído.
“E você?” ele murmurou.
Xuan Yang não respondeu imediatamente.
Então, em uma voz mal acima de um sussurro, ele admitiu, “Eu chorei uma vez. Mais de uma vez. Algumas vezes.”
Xu Feng virou para olhar para ele, realmente olhar para ele.
A expressão de Xuan Yang era indecifrável, mas havia algo cru na forma como seus dedos deslizavam sobre o dorso da mão de Xu Feng, traçando as linhas de sua pele distraidamente.
“A primeira vez foi na noite em que seu corpo desapareceu,” disse ele, sua voz estável mas quieta. “Jian e eu sentamos na estufa, bebendo o vinho que você havia feito. Ele não acreditava, mas eu sabia que você tinha ido.”
Xu Feng não se moveu.
“Nós bebemos até duas grandes jarros estarem vazios, e quando Jian finalmente adormeceu, eu—” Ele exalou bruscamente como se impedindo de dizer mais.
Xu Feng engoliu com dificuldade, sua garganta apertada.
Ele não precisava de Xuan Yang terminar. Ele conseguia ver na forma como ele se portava, na maneira como ele falava, no peso de suas palavras.
Ele tinha perdido ambos.
E eles tinham perdido ele.
Por todo o seu fugir, por toda a sua evasão, ele os deixou para trás para sofrerem sozinhos.
Xu Feng soltou um suspiro trêmulo. “Eu—”
“Não.” Xuan Yang o interrompeu gentilmente. “Não peça desculpas por algo que você não pôde controlar.”
Xu Feng estremeceu.
“Mas—”
Xuan Yang ergueu suas mãos unidas, pressionando um beijo demorado nos nós dos dedos de Xu Feng.
“Você voltou.”
A visão de Xu Feng embaçou novamente, mas desta vez, as lágrimas não caíram.
Ele tinha voltado.
E agora, era hora de começar a seguir em frente.
Xu Feng não sabia o que dizer em seguida. Havia luto, e todos estavam de luto. Não era algo que muitos tinham experiência — um ente querido voltando da morte. Mas a vida tinha que continuar. Isso não significava que o passado pudesse ser apagado.
Ele deixou escapar um sopro lento, apertando levemente a mão de Xuan Yang antes de murmurar, “Obrigado por me afastar.”
Demorou um momento, mas Xuan Yang acompanhou. Ele era mais perspicaz que a maioria, capaz de acompanhar o fluxo e refluxo dos pensamentos de Xu Feng, mesmo quando se moviam como marés em constante mudança, o que era sempre.
“Mmm,” ele respondeu, com a voz firme. “Jian enviará os espiões para longe, conforme prometemos quando foram trazidos para a propriedade.”
Eles haviam se vendido à escravidão, e Xu Feng havia deixado claro desde o início que seria um mestre misericordioso. Ele havia mantido essa promessa, assim como seus maridos na sua ausência. Mas também havia deixado claro que os que não se adaptassem a sua casa não seriam mantidos.
Cada servo, independentemente de seu status, recebia um salário. Aquela prata era deles para guardar. Se tinham sido econômicos, se tinham guardado bem, tinham meios para recomprar seus contratos. Se não, então a culpa era deles.
Mas Jian e Yang tinham um plano.
“Os três que agiram como traidores não voltarão para Beiyin,” continuou Xuan Yang, com a voz calma, distante. “Depois de recolherem seus pertences — sob estrita supervisão, é claro —, serão levados para além das fronteiras de Donghua.”
Xu Feng inclinou a cabeça levemente, ouvindo.
“Eles serão enviados para Shechao,” continuou Yang. “O território das serpentes.”
Xu Feng piscou.
Shechao.
Fazia sentido enviá-los para longe, mas parecia um desconhecido distante. Ele vinha de Dongmen — um país e uma época com transportes mais acessíveis. Isso não era o caso no continente de Dongzhou. Viajar não era fácil para aqueles que não eram ricos.
Mesmo a riqueza não garantia uma viagem segura de um lugar para outro. Viajar fora das fronteiras da terra natal era perigoso e desconhecido. Algo que apenas corajosos comerciantes e caravanas faziam frequentemente.
Deve parecer um fim impossível para aqueles que deixavam a Propriedade Nanshan.
“Eles não serão levados para a capital, Cidade de Shechao.” Xuan Yang esclareceu, antecipando já seu próximo pensamento. “Serão deixados em Beihua — uma cidade menor no território de Shechao, onde não chamarão atenção.”
Xu Feng assentiu lentamente.
Ele entendia as medidas que estavam sendo tomadas. Informações haviam sido vazadas não apenas para a residência principal Xuan, mas para a cidade de Yilin — para a jovem senhorita da Família Sun. Os três — não, cinco — servos não podiam simplesmente ser dispensados. Eles precisavam efetivamente desaparecer.
Um novo país significava que qualquer informação que tivessem sobre os assuntos da propriedade, sobre ele, sobre sua família — nada disso poderia fluir livremente. Não nesta época. Haveria distância. E distância significava tempo. Tempo para as coisas desaparecerem, para o mundo seguir em frente.
Xu Feng exalou, seu olhar desviando para seu marido. “Quanto tempo levará a viagem?”
A expressão de Xuan Yang não mudou, mas havia algo sabedor em seu olhar. “Várias semanas, incluindo o tempo necessário para retornar.”
O cenho de Xu Feng se franziu levemente. “E Jie está levando-os?”
“Jian achou que era somente justo,” murmurou Xuan Yang. “Jie os selecionou inicialmente.”
Xu Feng soltou um murmúrio silencioso de compreensão. Era razoável. Jie havia sido o responsável pela seleção dos servos comprados de Beiyin. Deixar que ele cuidasse da remoção daqueles que haviam se mostrado inadequados era um plano justo, mas não era como se fosse sua culpa que o traíram.
Xuan Yang continuou, com a voz suave. “Isso também lhe dará uma chance de explorar um mercado diferente. Precisamos de mais mãos, e ele pode retornar com melhores seleções se também visitar a Cidade de Shechao no retorno.”
Xu Feng recostou-se levemente, seus dedos ainda entrelaçados com os do seu marido.
Mais mãos.
Era verdade — havia apenas tantas pessoas administrando sua casa agora. Mesmo com a reestruturação, só se podia fazer muito com tão poucos. Se quisessem se sustentar ativamente, se quisessem avançar, precisavam de mais pessoas.
Xuan Yang pareceu ler seus pensamentos. “Com as coisas mais organizadas, será mais fácil administrar a propriedade mesmo quando estivermos fora.”
Xu Feng murmurou novamente, pensativo.
Ele vinha evitando certas conversas. Coisas que estavam no fundo da sua mente, esperando o momento certo. Talvez agora fosse esse momento.
Ele exalou devagar, e então finalmente falou.
“Eu quero administrar um orfanato não oficial.”
Xuan Yang não reagiu de imediato, mas também não parecia surpreso.
“As crianças parecem gravitar em volta de mim,” continuou Xu Feng. “E eu não posso simplesmente assistir enquanto são abandonadas, uma após a outra, sem nenhuma consequência.”
Por um momento, houve apenas silêncio.
Então Xuan Yang sorriu.
Não um sorriso pequeno, não um sorriso sarcástico ou uma expressão condescendente — mas um sorriso caloroso, ciente. Como se ele estivesse esperando que Xu Feng dissesse isso o tempo todo.
“Você já está fazendo isso,” ele murmurou.
Xu Feng piscou.
Xuan Yang inclinou a cabeça levemente, seus olhos escuros brilhando. “Nossos números só aumentaram desde sua chegada, Feng’er.”
Xu Feng entreabriu os lábios levemente, mas nenhuma palavra saiu.
Ele havia estado reunindo pessoas, coletando desgarrados e criando um lar para aqueles que não tinham para onde ir. Ele havia feito isso sem pensar, sem querer.
E Xuan Yang tinha visto isso antes dele.
Xu Feng soltou uma risada suave, sem fôlego.
Ele não tinha certeza do porquê, mas…
Ele se sentia leve.