1005: CAPÍTULO BÔNUS: UMA HISTÓRIA ANTIGA 1005: CAPÍTULO BÔNUS: UMA HISTÓRIA ANTIGA Iris se lembrava desse velho homem, mesmo que não o visse há mais de dezesseis anos. Ele era o homem do mercado negro. O velho, calvo e cego.

 
A última vez que o encontrou foi durante a guerra com Decrático. Ele lhe contou sobre a luz que emanava dos Serafins. A luz que ela tinha, e que guiava cada alma até ela.

 
Ela não se lembrava do nome dele, se é que alguma vez perguntou e Lou a levou até ele.

 
“Você pode perguntar a ele.” Lou sentou-se na cadeira e serviu-se de bebida e petiscos.

 
Após a guerra, Iris não prestou realmente atenção nele, porque muitas coisas aconteceram e muitas mais pessoas morreram.

 
Iris nem mesmo se lembrava dele até agora. Mesmo que se lembrasse, assumiria que ele morreu durante o massivo ataque, onde mais de metade da população dos transformadores se foi.

 
“Oh, a mulher brilhante…” Ele a saudou em linguagem Andel.

 
Isso foi o que ele a chamou anos atrás. Ele ainda se lembrava, apesar dos anos terem passado.

 
O cego vivia nesta pequena casa, que parecia um pouco apertada com três pessoas dentro, mas Lou não prestava realmente atenção a isso, ele se sentia em casa. Iris se perguntava quanto tempo esse comerciante passava aqui.

 
“Receio que ainda não saiba seu nome. Desculpe-me pela minha ignorância.”

 
O homem cego acenou com a mão, ele parecia tão velho, mas mais vivo do que na última vez que Iris o encontrou. “Eu tinha um nome com o qual nasci, mas agora prefiro ser chamado de Kal.”

 
“Kal.” Iris sentou-se ao lado de Lou e ele empurrou os petiscos sobre a mesa, mas ela não estava com disposição para comer nada. “Tenho certeza de que Lou já te contou por que vim aqui.”

 
“Então, é verdade… sobre o que aconteceu com o rei. É uma pena… ele foi um ótimo rei.”

 
Diziam que o rei Cano estava doente, mas não havia uma explicação específica sobre qual doença, outro rumor dizia que Cano apenas queria se aposentar cedo e passar o tempo com sua companheira, já que seu filho havia começado a ter um papel ativo nos assuntos do palácio. Era crível, já que as pessoas sabiam o quanto o rei e a rainha se amavam.

 
A regra de não ter amantes e ter apenas seu companheiro destinado ou escolhido como parceiro foi criada com base no amor do rei por sua rainha.

 
“Obrigada.” Iris assentiu. “Ficaria muito grata se pudesse me dar alguma dica de como salvar a vida do meu companheiro.”

 
“Entendo, sei por que está me procurando.” Kal sentou-se em frente a Iris e Lou.

 
Agora, Iris entendia por que Kal escolhera este pequeno espaço como sua casa, porque facilitava seus movimentos e ele parecia saber onde todas as coisas estavam.

 
“Você conhece a história da menina e do monstro?” Kal perguntou.

 
“Sim, eu conheço.” Claro, ela conhecia porque havia contado essa história para todas as suas crianças, as crianças do orfanato e Lu. Ela recontou a história inúmeras vezes.

 
“Esta é a parte surpreendente,” Lou disse, enquanto comia o petisco. “Escute com atenção.”

 
“Você sabe de onde veio a história original?”

 
“Não.”

 
“Continente Andel. Houve uma pequena revisão aqui e ali quando chegou ao outro continente.” O cego se inclinou para frente, como se fosse atraído pela luz e sorriu suavemente. “Você sabe que a história original é contada no continente Andel há séculos? A origem dela vem do primeiro Serafim e do lycan.”

 
Iris ficou surpresa. Ela não sabia disso.

 
“Veja, eu disse que esta parte é muito importante e…” Lou imediatamente fechou a boca quando Iris lhe lançou um olhar de adaga.

 
Kal então recontou a história original que veio do Continente Andel, à medida que aprendeu sobre ela quando ainda estava no Reino Sagrado.

 
Iris ouviu atentamente, ela não percebeu que havia contado uma história sobre Lu e Na todo esse tempo.

 
Não é de se admirar que Lu sempre adorava quando ela lhe contava isso. Com o quanto Lu amava Na, agora fazia sentido para Iris.

 
Esse lycan sempre quis se apegar a qualquer coisa sobre ela.

 
“A floresta da história, é a floresta secreta, onde fica o Grande Santuário. O lugar que restaurou todas as cinco espadas que continham o poder do primeiro Serafim.”

 
“Mas, as espadas foram destruídas.” Iris explicou o que aconteceu e como ela soube disso.

 
“Você realmente acha que a espada feita com o poder do primeiro Serafim será como qualquer espada normal?”

 
Íris não achava que seria. “Mas, como pode ajudar com a condição de Cano?”

 
“O Grande Santuário era um lugar sagrado, onde o Serafim após o Serafim Na ‘limpava’ a si mesmo de toda a negatividade, para mantê-los puros. Assim como diz a história, Na manteve Lu lá para ajudá-lo com a maldição dentro dele.

 
Sim, Lu partiu, mas a maldição na alma do licantropo também afetava o seu hospedeiro. Usuários de magia não perceberão isso, porque ninguém jamais encontrou esse tipo de maldição antes.”

 
“O que você acha que eu deveria fazer?”

 
“O que aconteceu com o rei Cano é o efeito secundário da maldição do licantropo.” Foi por isso que Lu foi chamado de criatura amaldiçoada, não porque ele estava amaldiçoado, mas porque ele espalhou a maldição para todos que tocava, todos que estavam perto dele e somente Na podia neutralizá-la.

 
“Por que eu não posso neutralizá-la também?”

 
“Mesmo quando você possui a alma e o poder de Na, você ainda não é ela e o que o rei Cano está suportando agora, é o efeito secundário, não a maldição direta do licantropo. Quando o licantropo ainda estava no corpo do rei, você sabe que podia alcançá-lo, mas agora, você não pode porque o licantropo se foi.”

 
Íris baixou a cabeça. Ela pensou sobre isso por um tempo. “Você acha que eu preciso ir ao Reino Sagrado?”

 
“Sim. Você precisa levar o rei até lá.” O cego sorriu. “É lá que tudo começou entre Lu e Na e acho que é onde tudo deve terminar.”

 
O Grande Santuário no continente Andelus.

 
Era ótimo. Era ótimo que ainda havia esperança para Cano, mas ir ao continente Andelus significava que ela teria que deixar seus filhos para trás.

 
Ela sabia que eles podiam administrar o reino bem, mas ainda era demais deixar o reino nas mãos deles. Eles tinham apenas dezesseis anos e Zaya tinha apenas dez…
 
“Sei o que você está pensando,” Lou disse após um longo silêncio. “Por que você não discute isso com Zander e Zenith? Acho que eles já são maduros o suficiente para terem uma conversa séria. Vamos pensar quais opções você tem e tomar sua decisão depois de discutir com eles.”

 
“Mas…”
 
“Eles não são mais bebês, Íris. Você não pode mimá-los para sempre. Você pode pensar que será demais para eles lidarem com o reino, mas nos últimos meses eles mostraram a você que você não deve subestimá-los.”

 
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“Eu quero ir com você…” Zaya abraçou Íris. Ela enterrou o rosto no peito de Íris. “Mas…” ela ergueu a cabeça e olhou para os dois irmãos mais velhos. Ela estava dividida. Ela queria estar com seus irmãos também.

 
“Vamos dormir e pensar sobre isso,” Íris disse.

 
Assim como Lou sugeriu, ela reuniu seus filhos e explicou a eles sobre a situação. Esta era uma decisão importante que sua família tinha que tomar, portanto, seria injusto não envolvê-los e ouvir suas opiniões.

 
“Vamos discutir isso daqui a três dias, para que possamos ver quais opções temos.”

 
Mais tarde naquela noite, quando Íris estava prestes a dormir, ela ouviu uma batida na porta e a voz de Zander ecoou por trás da porta.

 
“Mãe, o pai está dormindo? Podemos caminhar um pouco?” Zander olhou para a mãe solenemente. Quando ele estava em pé na frente de Íris agora, ele era muito mais alto do que ela.

 
Ele se parecia com Cano, Íris imaginou que Cano jovem seria parecido com seus filhos.

 
“Claro.” Íris sorriu, deu um passo para fora da sala, mas lançou um olhar para dentro para ver que Cano ainda estava dormindo profundamente.

 
Eles caminharam um pouco pelo jardim, o vento estava relativamente quente e era uma noite clara com a luz pálida do luar iluminando cada canto escuro do palácio.

 
“Eu não acho que preciso de três dias para tomar minha decisão. Minha resposta é muito óbvia. Você precisa ir, mãe. O reino ficará bem.”

 
Íris já esperava essa resposta, mas mesmo se ele pedisse para eles ficarem, ela poderia entender.

 
“Isso me tornará o rei mais jovem da história?” Zander tentou animar o clima com uma piada. Ela tinha certeza de que ele pegou esse hábito de Lou e Ethan.

 
“Vejo preocupação em seus olhos, Zan.” Íris olhou para o filho gentilmente. “Do que você realmente está preocupado?”

 
“Mas, eu não tenho certeza se posso ser um bom rei como o pai.” Zander franziu a testa. “Estou com medo,” disse Zander, honestamente, e Íris o abraçou.

 
“Não seria justo fazer comparação, já que cada rei tem seus próprios desafios e viveu em diferentes situações. Você fará seu próprio nome, Zan.”