Navios da Estrela - Capítulo 98

98: Pauzinhos e Pedras Podem Quebrar Meus Ossos 98: Pauzinhos e Pedras Podem Quebrar Meus Ossos “Está pronto?” perguntou Jun Li assim que saí do meu quarto. Meus sandálias pretas de tiras clicavam pelo corredor enquanto eu me dirigia à ponte.

“Pronta? Pra quê?” respondi, sem me importar com a resposta dele. Pronta ou não, lá vou eu. “E se eles estão te dando tanta dor de cabeça, simplesmente exploda-os do céu,” eu acrescentei. Se iam ser uma dor no meu traseiro, então não precisavam ficar por perto mais tempo do que o necessário para apertar um botão.

“Se fizermos isso, então os Saalistaja saberão que temos a tecnologia deles,” disse Jun Li, me lembrando porque estávamos mantendo um perfil baixo. Entretanto, o problema era que, naquele momento, eu realmente não me importava.

“Admitirei que ser humana me coloca em desvantagem em várias coisas, mas tenho certeza de que o universo é um lugar bem, bem grande,” eu respondi com um largo sorriso no rosto. “Inferno, talvez seja até grande o suficiente para se esconder por algumas décadas.”

“Décadas?” perguntou Jun Li. “Quão curta você acha que é a memória dos Saalistaja?”

“Ah, tenho certeza de que eles têm uma memória bem longa. Mas, de novo, se os Sisalik roubaram deles inúmeras vezes e nunca foram pegos, então nada os impede de continuar.”

“E o seu ponto é?” perguntou Jun Li, intrigado.

“Meu ponto é que, se você tiver que mandar a Stargazer pelos ares, faça isso,” eu respondi, sentando na cadeira do capitão e cruzando as pernas. A saia pendia para ambos os lados, revelando o comprimento inteiro das minhas pernas mas escondendo o fato de que meus pés não tocavam o chão.

“Mas isso colocará os Saalistaja atrás de nós!” exclamou Jun Li, claramente pensando que eu era estúpida.

“Ou, isso alertará eles para o fato de que alguém está roubando-os, e você deixa um rastro até os Sisalik. Afinal, não são eles os verdadeiros ladrões?” Eu me inclinei para trás na cadeira e coloquei os braços nos apoios. Pode não ser um trono, mas eu podia fingir que era. “Fique à vontade para responder a Pippa a qualquer momento agora.”

—-
“Sua vadia,” rosnou a morena na tela na minha frente. Eu a observei andando de um lado para o outro no convés de comando da Stargazer. “Você não pode simplesmente fazer o que deveria fazer pelo menos uma vez?”

“Olá, Pippa,” eu disse com um sorriso, completamente ignorando as palavras dela. “Eu perguntaria se o dia está bonito onde você está, mas presumo que todo dia seja um bom dia na L19820… ah, digo, Stargazer.”

“Eu sei o que você está tentando fazer,” ela disse com um sorriso irônico. Claramente, o que quer que estivesse acontecendo na vida dela estava a estressando um pouco. Talvez ela devesse fazer meditação ou até yoga. Esse tipo de estresse não era saudável.

“E o que, exatamente, estou tentando fazer?” Eu perguntei. Ela ainda precisava entender que eu realmente não me importava com a opinião dela ou com a importância que ela pensava ter. Eu não iria dançar conforme a música dela. Ela precisava seguir em frente e encontrar outra pessoa para incomodar.

Em vez de pensar nela, pensei na minha roupa. Talvez devesse pegar uma tiara para esses vestidos. Ou será que isso seria exagero? Em minha defesa, já tinha uma coroa para meu uniforme de traficante de armas. Uma tiara não era tão diferente.

“Você está tentando arruinar tudo para nós! É isso que você está fazendo.” A voz aguda me fez olhar para a câmera no canto. “Se ela não puder manter os decibéis em um nível aceitável, sinta-se à vontade para desligar. Ficarei mais do que feliz em falar com ela depois que ela tiver tido tempo para se acalmar.” Eu tinha o suficiente no meu prato e não iria entreter uma humana histérica que não estava fazendo sentido nenhum.

“Você é uma vadia,” disse Pippa, respirando fundo e se forçando a se acalmar.

“Estou ciente,” eu disse com um aceno e um sorriso. “Gravetos e pedras podem quebrar meus ossos, mas correntes e chicotes me excitam.” Eu sabia que não era assim que o ditado realmente era, mas ainda era engraçado ver a expressão no rosto dela.

“Eu preciso que você traga L11042 de volta para a Aliança, jure fidelidade e entre na linha. E eu precisava que você fizesse isso ontem,” ela disse enquanto caminhava até a cadeira do capitão e se sentou, tentando copiar minha postura. Infelizmente para ela, estava falhando miseravelmente.

Eu dei uma risada baixa e olhei para a mulher sentada na minha frente. Tempo e espaço provavelmente nos separavam, e ainda assim, parecia que estávamos no mesmo cômodo. “Uma coisa que você vai ter que aprender muito rápido sobre mim é que eu nunca me submeto. Especialmente não para alguma criança que pensa que é a rainha da merda. Você não é nada. Fique na sua galáxia, e nos daremos bem. Mas não venha até aqui começar a fazer exigências. Você não vai gostar das consequências.”

“Consequências? Você age como se não estivéssemos na mesma nave. O que a L11042 tem, a Stargazer tem, você não tem nada para me ameaçar.”

Eu assenti com a cabeça, entendendo melhor o relacionamento dela com a Stargazer. “É isso que você realmente pensa? Parece que sua nave está escondendo segredos de você,” eu disse com um sorriso luminoso. “Tsk, tsk.”

“A Stargazer me conta tudo o que preciso saber,” rebateu Pippa enquanto jogava o cabelo sobre os ombros. “E se ele está escondendo algo de mim, é para o meu próprio bem.”

Não pude me conter. Joguei a cabeça para trás e comecei a rir. “Ah, essa é boa,” eu disse assim que consegui recuperar o fôlego. “Eu realmente precisava dessa risada. Sério.”

Eu alisei minha cintura e saia, compondo-me antes de voltar minha atenção para a outra humana. “Você está realmente dando uma má fama para nós. Sabe disso, né?”