Navios da Estrela - Capítulo 74

74: Presa de Outrem 74: Presa de Outrem Eu vi uma barra na minha unidade de pulso que estava vermelha brilhante de uma ponta à outra. Coloquei meu dedo na extremidade direita da linha e deslizei tudo para a esquerda, sem ter muita certeza do que isso faria.

Quando caí do ar como uma pedra, entendi que aquela barra controlava quanta potência era colocada na minha configuração antigravidade.

Tentando não entrar em pânico ao ver o chão se aproximando tão rapidamente, deslizei meu dedo para a direita cerca da metade para cima. Pensando que essa era a configuração ‘intermediária’, fiquei extremamente decepcionado quando, novamente, disparei para cima no ar.

Me sentindo mais como um ioiô do que um ser humano, movi a barra vermelha brilhante para baixo menos de um milímetro. Desta vez, caí em direção ao chão, mas de maneira mais lenta. Pensando que essa configuração me traria de volta para a selva, não mexi novamente nela.

Infelizmente para mim, isso significava que uma vez que meu traje se ajustava à entrada de energia, eu meio que pairava no ar ao redor do nível das nuvens. Eu realmente desejava ter aquele manual bem agora, mas eu não estava disposto a contatar Sha Shou e lidar com ela, então movi meu dedo na barra de controle cerca de um centímetro para baixo.

Agora, a configuração não estava mais no meio, mas sim 3/8 da extremidade esquerda.

Uma vez mais, despenquei como uma pedra em direção ao chão até que meu traje se nivelasse e agora pairasse logo acima do dossel superior. As árvores com formato de guarda-chuva bloqueavam completamente minha visão do solo da floresta, então eu não fazia ideia do que estava acontecendo bem debaixo dos meus pés.

Percebendo o quanto as configurações de antigravidade eram sensíveis, eu não sabia se ao readjustá-las eu acabaria caindo pelas árvores de novo e pousando em outra rede. Eu queria evitar as redes e as videiras se pudesse. Ah, e os insetos venenosos, as serpentes venenosas, animais que queriam me comer e qualquer coisa que o caçador estivesse tentando capturar em primeiro lugar. Na verdade, eu realmente só queria evitar o planeta todo.

“Ainda precisamos de três Agkistrodon rhodostoma e cinco Bothrops lanceolatus,” disse Jun Li, e eu poderia jurar que ele estava lendo minha mente.

“O quê?” perguntei, confuso. “O que é que tem com os novos números?”

“O cliente agora está pedindo um mínimo de três Agkistrodon rhodostoma e cinco Bothrops lanceolatus. Eu disse a eles que não seria problema.” Claro que não seria um problema para Jun Li! Ele não era o que estava no planeta tentando achar malditas serpentes tão venenosas que eram classificadas como arma!

“Então, será que eu posso sugerir que você desça aqui e me ajude?” rosnei para a AI, nada impressionado com a declaração dele.

“Por que eu faria isso?” ele respondeu, atônito. “Você está indo bem por conta própria. Continue o bom trabalho; deveremos ter tudo de que precisamos em alguns dias.”

Respirei fundo e ignorei o babaca. Eu precisava pensar, e para isso precisava de silêncio. “Preciso que o rádio seja cortado por um tempo,” disse, sem ter ideia de como de fato fazer isso.

“Tem certeza? Não poderei ajudá-lo se precisar,” veio Jun Li, com uma voz soando preocupada. Bem, a preocupação dele era toda boa e válida enquanto ele estava na nave, seguro e a salvo. Era como enviar ‘pensamentos e orações’ quando havia uma emergência ou desastre. Sim, obrigado, apreciamos o sentimento, mas alguma ajuda também seria de grande valia.

“Sim,” eu forcejei. “Preciso de silêncio para resolver algumas coisas.”

“E como eu poderia entrar em contato com você em caso de emergência?”

“Oh, agora você acha que vai ter uma emergência? Eu não sei. Mas neste momento, eu não quero mais vozes na minha cabeça.”

“Tudo bem,” soprou Jun Li, soando como se eu tivesse acabado de insultar ele e cerca de mil gerações de seus antepassados. “Mas não poderei ajudá-lo se precisar.”

“Sim, sim,” eu disse, ainda pairando invisivelmente sobre o topo das árvores. “Agora, silêncio, por favor.”

“Certo, desligando as comunicações. Só posso esperar que você não venha a se arrepender disso. Eu as ligarei novamente em três rotações.” Assim que ele terminou sua frase, houve um silêncio abençoado. Acho que posso ficar três rotações sozinho. Se nada mais, eu poderia simplesmente subir aqui onde nada está tentando me matar.

Espera… quando ele disse rotações, será que ele quis dizer rotações como dias ou anos?

—–
Um alarme soou na unidade de pulso de Au’dtair, alertando-o. Sentado ao redor de uma fogueira aberta com Vraev’ox, Cruz’uts e Tha’juen, ele rapidamente silenciou o alarme. “Parece que uma das minhas redes foi ativada. Pode ser um pantroglodytes,” disse ele, levantando-se.

“Quer que um de nós vá com você?” perguntou Vraev’ox de onde ele estava assando a carne de sua própria caça na fogueira.

“Devo estar bem,” respondeu Au’dtair. “Essas coisas podem ser rápidas e mortais, mas ainda não conseguem penetrar a armadura.”

“Entendido. Boa caçada,” grunhiu Vraev’ox. Era raro que machos da espécie deles passassem tanto tempo juntos, mesmo durante a caça. Não havia razão para ir com Au’dtair verificar uma de suas armadilhas.

Au’dtair simplesmente virou-se e caminhou silenciosamente pela trilha quase invisível. Sua unidade de pulso poderia guiá-lo até a rede específica se fosse necessário, mas ele era um caçador experiente suficiente para não precisar da tecnologia. Ele sabia exatamente para onde estava indo. Ativando seu camuflagem, ele andou confiante pelo chão da selva, inconscientemente notando as árvores danificadas e as folhas de alguma presa sendo arrastada pela floresta.

Ignorando, continuou em seu caminho. A presa de outro não era sua preocupação.