Navios da Estrela - Capítulo 55

55: A Coisa Mais Assustadora Em Qualquer Sala 55: A Coisa Mais Assustadora Em Qualquer Sala “Relaxa, eu estava só brincando. Estou testando vários tipos de humor que encontrei online,” disse Jun Li, fazendo com que eu desse um suspiro de alívio. Quer dizer, eu iria para outra nebulosa atrás de poeira cósmica, mas fiquei feliz que não era necessário.

“Que tal deixar o humor para o Sha Shou?” Eu perguntei enquanto meus olhos continuavam a vasculhar o quarto escuro. Haviam luzes vermelhas, azuis e brancas girando o que eu gostaria de chamar de pista de dança, mas sinceramente eu não fazia ideia do que era aquilo.

“Ah, mas eu estava vendo uns vídeos de pegadinhas online e queria tentar eles a seguir,” ele reclamou. Quase senti falta do desprezo que ele estava me demonstrando antes. Quase.

“Você é o Implacável?” veio uma voz roncante e baixa do outro lado da cabine. Eu olhei para cima para ver o que só podia chamar de lobisomem sentado na minha frente.

Em termos mais técnicos, ele era uma espécie bípede com uma estrutura muscular grande, coberto até onde eu podia ver de pelos, e tinha duas orelhas com aparência bem canina no topo da cabeça. Embora eu não pudesse ver qualquer tipo de roupa cobrindo-o, esperava que ele ao menos estivesse usando calças por baixo da mesa.

Mas de novo, talvez fosse normal para ele andar nu por aí. Contudo, independentemente do que fosse, eu ia garantir que meus olhos estivessem fechados quando ele se levantasse.

“Sou eu,” eu disse. Eu estava sentada o mais ereta possível, mesmo antes do lobisomem se sentar na minha cabine, mas mesmo assim eu era completamente ofuscada pelo ser à minha frente.

“Você é menor do que eu pensava que seria,” ele rosnou, sua boca exibindo um número impressionante de caninos. No entanto, levei um minuto para perceber que suas palavras não correspondiam ao movimento da boca. Obrigada, Jun Li, por insistir em programar o fone de ouvido com um programa de idiomas.

“É muito mais fácil para entrar e sair de lugares assim,” eu respondi com um dar de ombros, como se ele não tivesse me apunhalado o coração com o comentário sobre o meu tamanho. Eu era do lado pequeno para uma mulher humana. A altura média para mulheres no País M era 5’4, mas eu parecia praticamente uma criança aqui no universo. E eu não estava falando da minha idade, embora eu estivesse disposta a apostar que aos 25 anos era considerada incrivelmente jovem.

O Lobisomem apenas grunhiu em concordância. “Além do mais, com esse disfarce, ninguém conseguiria te reconhecer.” Ele parou de falar por um segundo e cheirou o ar. “Eu nem consigo te cheirar.” Ele inclinou sua cabeça gigante para o lado e me estudou. “Não sei se gosto do fato de você não ter cheiro.”

“Você gosta do fato de eu ter as armas que você pediu?” Eu perguntei, trazendo o assunto de volta para negócios. De jeito nenhum eu queria que ele conseguisse me identificar pelo cheiro. Isso lhe daria uma vantagem distinta em ser capaz de me rastrear. Eu sabia que o universo era grande, mas não iria arriscar que ele ainda seria tão vasto quando eu precisasse que fosse.

“Sim,” o lobo rosnou. “Estou muito feliz que você tenha minhas armas. Mas não as vejo com você, a não ser que esteja escondendo todas elas embaixo da mesa,” ele continuou com um desdém.

“Posso ser pequena, mas não sou nem um pouco estúpida,” eu disse enquanto inclinava a cabeça. Pelo menos o véu escondia o meu rosto, então isso não podia dizer exatamente o que eu achava dele. “Tem um corredor com todos os seus novos brinquedinhos dentro. Você transfere o meu dinheiro, e eu transfiro para você os códigos para entrar no corredor.”

Eu não tinha pensado nessa parte da troca, como transferir as armas, mas Jun Li sim. E aparentemente, tínhamos um monte de corredores não utilizados nos convés inferiores que eram usados pela antiga tripulação para ir ao planeta nas folgas.

Bem, eles não vão mais precisar deles, então podemos muito bem fazer bom uso deles.

O lobo me olhou com desdém. “Não sou nenhum filhote. Não vou transferir o dinheiro até ver as armas.”

Eu dei de ombros como se não fosse grande coisa. Levantando, eu esperei que o lobo me seguisse para fora da boate e em direção a onde o corredor estava atracado.

Eu estava extasiada em te informar que a espécie dele usa roupas, pelo menos eles usam algo parecido com calças. E vendo que eu ia até o umbigo dele, fiquei excepcionalmente aliviada com isso.

Eu conduzi o caminho, bem ciente do lobo pairando sobre mim. No entanto, eu tinha mais do que alguns ‘coringas’ na manga, sendo o mínimo deles o tecido à prova de balas, os brincos de escudo e, claro, minha armadura. Eu estava preparada para o pior. Vamos esperar que pudesse resistir a um lobo.

Os corredores foram ficando cada vez mais vazios à medida que continuávamos a caminhar. Jun Li escolheu especificamente uma baía de atracação longe de tudo apenas para evitar suspeitas. Que tipo de suspeitas ele estava esperando, já que este era um planeta de mercado negro, eu não sabia. Mas entre nós dois, ele era muito mais familiarizado com esse novo mundo do que eu.

“Você é como um filhote sem medo explorando fora de sua toca pela primeira vez,” refletiu o lobo por cima da minha cabeça.

“No meu planeta há um ditado,” eu disse, mantendo um ritmo constante. “Sempre haverá alguém maior, mais bonito, mais inteligente, mais rápido ou mais forte que você.”

“Não entendo,” disse o lobo, confuso.

“Basicamente significa que se você acha que é a pessoa mais assustadora da sala, haverá alguém mais assustador. Nunca descansar até que você seja o mais assustador.”

“Não entendo,” ele repetiu, praticamente dobrando o corpo ao meio para poder me olhar nos olhos. “Fale claramente.”

“Falar claramente?” eu perguntei, parando completamente e encarando o ser que definitivamente era maior que eu, mais rápido que eu e mais forte que eu. “Tenha cuidado se você acreditar que entre nós dois, você é a maior ameaça. Não tente me passar a perna e pegar as armas sem pagar por elas. Eu nunca vou parar até ser a coisa mais assustadora em qualquer sala.”