Capítulo 288: Lar

“Tudo bem,” disse Da’kea, chegando ao meu lado. Eu estava deitada no sofá em frente à lareira, apenas olhando para as chamas falsas como se elas contivessem todas as respostas do universo.

E talvez tivessem.

Talvez a resposta para tudo fosse queimar tudo e começar de novo.

Me pegando no colo, ele nos levou para a outra extremidade da sala, onde havia uma mesa redonda menor com seis cadeiras. Cada um dos meus homens estava sentado em uma, a única cadeira vazia sendo a de Da’kea. Eu me perguntava o quão distraída eu estava para não perceber que eles estavam aqui.

“Aqui está a lista de planetas que são adequados para habitação,” continuou Da’kea enquanto me acomodava em seus braços e me entregava um tablet.

“Não sei por que eles fizeram isso,” resmungou Jun Li pelos alto-falantes. “Eu tinha encontrado para você o lugar perfeito para viver,” ele continuou. Eu endureci. Eu ainda não tinha perdoado completamente o Jun Li, mesmo que não houvesse nada para perdoar. A nave era uma representação física dele; se ele não me queria nela, essa era a escolha dele.

“Queremos dar a ela opções,” grunhiu GA, sem desviar o olhar de onde ele estava rolando pela sua lista.

“Há algo que seja uma necessidade? Ou mesmo algo que você queria ter?” perguntou Ye’tab, olhando para mim, seu rosto cheio de preocupação.

Pensei no que ele tinha dito.

Essa seria minha casa para sempre. Eu queria que fosse absolutamente perfeita.

“Eu quero estações,” eu disse sem pensar. Mas, na Terra, não havia nada que eu gostasse mais do que a mudança das estações. Especialmente do outono para o inverno. Não seria um lar sem ver todas as folhas mudando de cor.

“O que mais,” perguntou Midnight enquanto digitava algo no tablet em que estava trabalhando.

“Cachoeiras e florestas,” continuei, cada vez mais empolgada com isso. Eu queria poder sair de casa e ver uma cachoeira. Era uma daquelas fantasias que eu sempre tive. Honestamente, eu nunca tinha visto uma cachoeira além de fotos ou comerciais. E quem não gostaria de passear e se perder na floresta?

“Nada muito quente ou muito frio,” eu sorri enquanto os homens concordavam. “Coisas para vocês caçarem, para que estejam felizes lá, preferencialmente uma casa pré-construída; eu não quero ter que esperar para me mudar… mas nenhum lugar com muitas pessoas também.”

Eu estava tão envolvida na minha lista que nem percebi os rapazes parando o que estavam fazendo para olhar para mim. “O que?” perguntei, inclinando a cabeça para o lado quando senti seus olhares penetrantes.

“Você quer um planeta em que possamos caçar?” perguntou Da’kea como se isso nem sequer fosse uma possibilidade.

“Claro. Eu sei que ainda teremos várias naves. Mas eu não quero que vocês fiquem longe por longos períodos.” Baixei a cabeça e estudei minhas mãos. Era muito carente da minha parte dizer isso? Eles ficariam chateados se eu não os deixasse ir caçar em outros planetas?

“Deixa pra lá,” eu disse, balançando a cabeça rapidamente. “Teremos que encontrar uma nova nave para vocês se Sha Shou decidir partir e deixá-los na mão, mas vocês podem ir caçar em qualquer planeta que quiserem.”

Da’kea assentiu com a cabeça, mas não disse nada. Ele e GA trocaram um olhar antes de voltarem a estudar a lista à frente deles.

“Eu não quero que seja muito perigoso,” comecei antes de perceber que isso poderia parecer estúpido. Eu estava bastante certa de que estaria levando meu próprio pesadelo e coelho Istar comigo, então perigoso era um termo relativo. “Eu só quero que seja seguro para que as crianças possam sair e explorar sozinhas sem ter que se preocupar,” eu expliquei.

“Faz todo sentido para mim,” grunhiu Raguk. “E se o planeta for grande o suficiente, e se você concordar, eu posso estabelecer minha horda do outro lado dele, para que eles tenham um lugar para chamar de lar.”

“Minha tripulação também não se importaria em ocupar uma parte do planeta, se houver espaço suficiente,” adicionou Midnight. “Eu sei que eles ficariam felizes em nunca mais ver o interior de uma nave novamente, se pudessem.”

“Talvez até possamos encontrar um lugar para a Princesa, se isso for o que ela quiser,” apontou Ye’tab.

Estudei os homens que meu DNA chamava de uma maneira que nunca tinha feito antes.

De repente, caiu a ficha. Eu estava criando meu próprio mundo. Será que foi assim que meus ancestrais fizeram? Encontrando um planeta e permitindo que aqueles que precisam de um lar se estabeleçam com eles? Havia algo realmente calmante sobre toda a coisa.

“Então, tirem da lista quaisquer planetas que atualmente tenham uma população. Encontraremos um lugar que seja só para nós e para aqueles que aceitarmos,” eu disse enquanto a certeza daquilo se firmava em mim.

Todos os seis homens olharam para mim antes de baixar a cabeça para olhar seus tablets.

Ninguém disse mais nada por um bom tempo.

“Acho que encontrei,” disse Tha’juen lentamente, estudando sua mesa. “Está na borda mais externa do universo conhecido, mas tem tudo o que queremos. Parece até que há quatro estruturas em quatro pontos diferentes no planeta.”

Ele me entregou seu tablet com o planeta exibido, e eu olhei. Parecia quase a Terra, mas a água tinha uma cor roxa clara em vez de azul. As florestas variavam dependendo de onde você estava, e havia até montanhas e cachoeiras nas fotos.

Era perfeito.

Mas se esse era o caso, por que ninguém tinha se estabelecido lá antes?

“Jun Li,” eu chamei, “Você pode nos levar até esse lugar?” perguntei, segurando a foto do planeta para a lente para que o AI pudesse ver.

“Posso,” concordou Jun Li.

“Então vamos para casa,” eu disse com o primeiro sorriso genuíno no rosto em muito tempo. Eu tinha um lar.