Navios da Estrela - Capítulo 102

102: Uma Boa Defesa Era Um Bom Ataque 102: Uma Boa Defesa Era Um Bom Ataque “Mei Xing?” chamou Jun Li suavemente, me acordando de um sono profundo. Talvez na próxima vez que ele decidisse me despejar em um planeta desconhecido, ele pudesse mandar também minha cama. Tornaria as coisas muito mais suportáveis, com certeza.

“Oi?” perguntei enquanto me sentava e me espreguiçava. Minha coluna estalou em vários lugares conforme relaxava os músculos tensos. Comecei a me perguntar se a garantia do meu corpo estava prestes a expirar, agora que eu tinha 25 anos. Eu podia jurar que isso só acontecia quando eu fizesse 30.

“Chegamos,” disse a nave, e eu podia perceber que algo não estava bem com ele.

“O que está acontecendo? Fala comigo,” eu disse, saindo da cama e indo até o meu armário. Pegando meu uniforme de trabalho incrível, me vesti rapidamente.

“Estou falando com você,” desconversou Jun Li, fazendo-me sorrir.

“Acertei?” perguntei, já sabendo a resposta. Se não houvesse nada de errado, Jun Li seria o primeiro a me dizer que eu estava errada, e que ele, claro, estava certo.

“Não consigo determinar se você está correta com uma certeza acima de 92%. No entanto, detectei múltiplas ondulações no espaço ao redor do nosso ponto de encontro,” ele respondeu.

“E para aqueles de nós que não falam ‘nave’?” perguntei enquanto começava a fechar meu corpete. Me abaixei para tentar calçar minhas botas em seguida. No entanto, era praticamente impossível. A estrutura do corpete mantinha minha postura perfeita, mas isso também significava que eu não conseguia me dobrar por nada neste mundo.

Suspirando, afrouxei os cordões nas costas e então desabotoei o corpete. Depois de calçar as botas corretamente, colocar a saia no lugar certo e ajustar as mangas longas e luvas, lutei novamente para entrar no corpete.

“Desculpe, você disse algo? Não consegui ouvir,” disse enquanto fechava o zíper ao lado e começava a laçar o corpete nas costas.

“Significa que um monte de naves realizou o salto hiperespacial para este setor nos últimos minutos, perturbando o espaço ao seu redor,” disse Jun Li.

“O que é uma chwila?” perguntei, confusa. Voltaria ao fato de que estaríamos cercados em apenas um minuto.

“Chwila é uma unidade de medida de acordo com o idioma padrão da Aliança, que significa 60 cliques,” disse Jun Li. Queria poder dar um tapa na cabecinha dele agora, mas, já que ele era minha nave, isso era meio difícil.

“Vou entender que cliques são segundos e chwila são minutos. Estou perto?” exigi enquanto dava o último nó. Me recusei a apertar o corpete de forma que prejudicasse minha respiração ou movimento. Bem, o movimento lateral. Tocar os dedos dos pés era totalmente impossível.

“Você está correta,” resmungou Jun Li.

“Assim como estou correta em dizer que estamos entrando em uma armadilha,” sorri, forçando Jun Li a admitir o que ele nunca queria admitir.

“Você está correta,” reconheceu a AI.

“E se eu estivesse correta, e você tivesse uma opinião contrária, o que isso te faria?” coloquei a balaclava e enfiei dentro do colarinho do meu vestido. Esta não era a típica balaclava que tinha três buracos menores no rosto para olhos e boca, ou até mesmo um único buraco grande. Em vez disso, cobria completamente meu rosto, tornando-o opaco por fora, mas eu podia ver facilmente por dentro.

Ah, tecido no espaço realmente era extraordinário.

“Isso me faria estar errado,” resmungou Jun Li, e eu ri de forma bem-humorada.

“Sem problemas, todos nós estamos errados de vez em quando. O importante agora é garantir que possamos transformar essa situação em nossa vantagem,” disse enquanto pegava meu capacete com véu sobreposto.

“E como você sugere que façamos isso?” perguntou Jun Li enquanto eu saía do meu quarto e seguia para a ponte de comando.

“Você está configurado com todos os identificadores Sisalik?” fiz uma pergunta própria.

“Estou,” ele disse com confiança. “Não foi muito difícil porque tecnicamente sou uma nave série L Sisalik. Todo mundo sabe disso. Mas os códigos de comunicação e endereços identificadores mudam a cada poucas horas, então demorei um pouco mais para encontrá-los e atribuí-los a mim mesmo.”

“Ótimo,” disse com um aceno enquanto me sentava na cadeira do capitão. “Você consegue identificar onde estão todos os pontos de emboscada?” continuei enquanto o plano começava a se formar na minha mente. Não sei quem disse, mas eu acreditava firmemente que uma boa defesa era um bom ataque.

“Consigo,” disse Jun Li lentamente. “Mas não entendo.”

“Tudo bem, você vai entender,” eu disse, despretensiosa. Ele tinha a mim para pensar nas coisas de forma que nunca o faria. E se ele não podia pensar nelas, é bem provável que os outros também não as considerariam.

“Quantas naves?” perguntei enquanto me inclinava para trás na cadeira e tamborilava minhas unhas afiadas no braço da cadeira.

“Quinze,” disse Jun Li, começando a soar muito mais como seu velho eu.

“Você tem a habilidade de travar em cada uma dessas naves?” continuei com um sorriso. Se você queria minha cabeça, primeiro tinha que pedir permissão. Caso contrário, bem, eu podia ficar um pouco irritada.

“Tenho,” disse Jun Li. “Alvo adquirido. Travando no alvo. Pronto,” ele disse, enquanto seu corpo entrava na ponte de comando e ia sentar na sua estação habitual.

“Bom. Agora, chama o Lobisomem. Se não conseguirmos falar com ele, ligaremos para o rato,” disse enquanto colocava o capacete e me sentava mais ereta. Não que o maldito corpete me permitisse fazer algo além de sentar ereta.

“Tentando comunicação com o Lobisomem,” repetiu Jun Li enquanto seu corpo começava a digitar rapidamente algo no console à sua frente.

“Ei,” disse um Midnight muito confuso. “Não vamos nos encontrar daqui a algumas horas? O que está acontecendo?”