Capítulo 1951: 1951. Curvado
O Divino Demônio havia partido com o velho cultivador. Tempestades sopravam em seu rosto enquanto ele inspecionava seu oponente. A vitalidade que sua figura irradiava criava um contraste marcante com suas costas curvadas e barba branca, e a cena eventualmente provocou a curiosidade do Divino Demônio.
“Antes de começarmos a nos matar,” o Divino Demônio perguntou enquanto se aproximava do cultivador, “tenho uma dúvida que estou morrendo de vontade de resolver.”
O velho cultivador ainda estava um pouco irritado com a interação anterior com Noah, mas aquela pergunta repentina do Divino Demônio o deixou surpreso. Céu e Terra obviamente já o haviam estudado por ele ser uma ameaça potencial, então parecia estranho perceber traços de estabilidade mental nele.
“Por que você não consertou suas costas?” o Divino Demônio rapidamente continuou, fazendo a surpresa do especialista se desintegrar.
“Você é literalmente um deus próximo ao auge da jornada de cultivo,” o Divino Demônio comentou enquanto espalhava seus braços em incredulidade. “Por que você manteria essa aparência? É até desconfortável beber vinho assim.”
O velho cultivador encarou o Divino Demônio tirando uma taça cheia de vinho de seu anel espacial e tentando beber enquanto fingia ter as costas curvadas. Parte do líquido caiu, mas ele prontamente o parou com sua energia mental.
“Talvez eu esteja fazendo errado,” o Divino Demônio supôs antes de pegar outra taça e entregá-la ao cultivador. “Mostre-me como você faz.”
O velho cultivador sentiu vontade de atacar o Divino Demônio naquele momento, mas se conteve enquanto continuava a voar adiante. Ele ignorou completamente a oferta. Afinal, ninguém jamais aceitaria bebidas de um inimigo.
“Ser enigmático não vai aproximá-lo do Céu e Terra,” o Divino Demônio zombou enquanto esvaziava ambas as taças e jogava uma fora. “Acho que as costas curvadas também não vão.”
A taça em suas mãos voltou a ficar cheia no momento em que ele a abaixou. O velho cultivador não perdeu esse detalhe, mas Céu e Terra já haviam registrado aquilo. Ainda assim, ele queria confirmar que o Divino Demônio não havia perdido aquela habilidade após recuperar aquela aparente clareza mental.
“Talvez seja uma técnica de cultivo necessária à sua lei!” o Divino Demônio exclamou enquanto seus olhos vermelhos brilhavam. “Não, espere, é chamado de mundo para aqueles no nono rank. O mundo das costas curvadas que derruba oponentes com suas curvas afiadas! Fica mais forte dependendo do ângulo que você cria?”
O Divino Demônio bebeu de sua taça enquanto coçava o queixo. Ele parecia ter esquecido que uma batalha mortal estava prestes a acontecer. Todo o seu foco permanecia em tentar resolver aquela dúvida.
“É sobre respeitar a forma que você tinha quando obteve poderes divinos,” o velho cultivador eventualmente explicou. Ainda assim, ele permaneceu surpreso ao sentir um lampejo no nível de cultivo do Divino Demônio.
“Não se preocupe,” o Divino Demônio suspirou. “Isso acontece às vezes. Acabo superando desafios que ficaram comigo durante milênios. Provavelmente tinha um sobre costas curvadas. Não posso ter certeza. A maioria das minhas memórias ainda está nebulosa.”
O velho cultivador fez questão de memorizar tudo o que o Divino Demônio dizia. Ele até tentou encontrar detalhes que Céu e Terra poderiam ter perdido após entrarem em estado parcialmente dormente. Mesmo assim, o Divino Demônio era difícil demais de estudar. Sua existência nunca parecia clara. Inspecioná-lo poderia até causar confusão.
“Como você sequer alcançou o passo antes do nono rank?” o velho cultivador perguntou enquanto sua curiosidade se tornava insuportável.
“Sou um demônio,” o Divino Demônio explicou. “Simplesmente pago o preço para avançar, seja em vidas, dor ou memórias.”
O Divino Demônio podia parecer complicado de estudar, mas o velho cultivador parecia entender algo após aquela resposta. Céu e Terra frequentemente pensavam na existência do Divino Demônio como uma lei intrincada com potencial ilimitado. Os governantes até prestavam muita atenção nele porque seu mundo poderia se tornar parte crucial de seus poderes. No entanto, essa avaliação agora parecia equivocada.
O velho cultivador conseguia sentir uma pureza inata na mente do Divino Demônio. Este último não era estúpido. De fato, ele era uma das existências mais inteligentes de toda a totalidade do mundo quando se tratava de coisas que desejava. No entanto, sua motivação central não parecia ter muitas reviravoltas. Ela se sentia extremamente simples, como um impulso que ele não podia deter.
“Você é um caso especial no mundo,” o velho cultivador declarou após algum tempo. “Você poderia trazer imensos benefícios ao Céu e Terra se decidisse se juntar a eles espontaneamente.”
“Impossível,” o Divino Demônio resmungou. “Talvez eu considere ensinar algo a eles se ficarem de joelhos para mim por cem mil anos, mas não quero dar falsas esperanças.”
“Estou falando dos governantes do mundo,” o velho cultivador repetiu enquanto uma expressão de desagrado surgia em seu rosto.
“Você pode estar certo,” o Divino Demônio riu. “Cem mil anos são pouco para eles. Vamos fazer um milhão, e eu pensarei nisso.”
“Céu e Terra!” o velho cultivador gritou enquanto apontava para o céu, “Os verdadeiros governantes do mundo. Como eles deveriam se ajoelhar?”
“Esse é o problema deles,” o Divino Demônio respondeu despreocupadamente. “Essa é minha oferta por enquanto. Pode ser dois milhões daqui a alguns anos.”
O velho cultivador finalmente entendeu o problema com o Divino Demônio. Ele só podia ser ele mesmo. A natureza de uma situação não importava. Seus obstáculos não importavam. Ele era o Divino Demônio porque essa era a única forma que sua existência jamais havia permitido tomar.
“Então temos que nos matar,” o velho cultivador suspirou.
“Não havíamos decidido isso já?” o Divino Demônio perguntou enquanto voltava sua mão para o queixo. “Eu não esqueci, esqueci?”
O velho cultivador balançou a cabeça antes de inspecionar seus arredores. Sua conexão com Céu e Terra o fez entender sua posição atual. Ele havia colocado distância suficiente do lago, e os outros campos de batalha também estavam longe. Aquela área era perfeita.
O especialista estalou os dedos, e as tempestades se desintegraram, limpando uma imensa área que poderia conter a batalha iminente. O Divino Demônio exibiu um sorriso frio diante daquela cena, e não hesitou em jogar sua taça fora, mesmo que ainda tivesse um pouco de vinho.
“Você não terá desafios da minha parte,” o velho cultivador anunciou. “Estudamos você por tempo demais para lhe dar tal vantagem.”
“Eu não seria um desafio se fosse tão fácil de conquistar,” o Divino Demônio riu enquanto sua aura se espalhava pelo ambiente e tomava o controle de parte do mundo.
“Devo também admitir algo,” o velho cultivador revelou enquanto vestia uma expressão complicada. “Você é forte, e sua lei parece ilimitada.”
“Obrigado?” o Divino Demônio respondeu com um tom confuso.
“Céu e Terra têm uma consideração tão alta por você que não nos permitem matá-lo,” o velho cultivador explicou. “Eles há muito tempo prepararam algo destinado a capturar sua lei. Lamento. Você não terá uma batalha.”
O velho cultivador levantou a mão, e o mundo emitiu um ruído zumbindo. Um pilar de luz perfurou as tempestades e ativou uma das funções que Céu e Terra haviam adicionado ao mundo.
Uma prisão cúbica materializou-se de repente ao redor dos dois especialistas. Paredes feitas do mesmo tecido do céu apareceram ao seu redor antes que eles sequer pensassem em reagir. O espaço dentro daquela gaiola também se desintegrou e se fundiu com o material branco, deixando-os flutuando no vazio.