Não Há Amor na Zona da Morte (BL) - Capítulo 86

86: Capítulo 83. Um Muro Alto 86: Capítulo 83. Um Muro Alto “Conseguimos alguém do linguístico do outro mundo para o nosso lado, há um sistema rolando na tradução,” Eugene reportou o progresso enquanto Zein tomava assento em sua cadeira giratória, agora permanente, no laboratório. Era a mais próxima da janela de vidro, de onde ele podia convenientemente olhar para a lasca.

Com o tempo, Zein experimentou se comunicar com a lasca sem toque direto. Expandindo sua consciência para o cristal pulsante. Até agora, ele conseguiu pelo menos mandar a lasca parar de rejeitar a presença dos pesquisadores. Ele tentou enviar pensamentos simples como cumprimentos através da janela de vidro.

Exatamente como agora. A lasca emitiria uma onda de mana diferente para cada resposta diferente, e o pesquisador capturaria isso para ser analisado. Então o papel de Zein no momento era como um parceiro de conversa com esta lasca.

Um dia, eles talvez pudessem perguntar à lasca sobre o método para dissolver completamente o miasma ao seu redor. Enquanto eles eram capazes de registrar o processo com a ajuda da pedra de mana corrompida, compreendê-lo era uma questão diferente.

“Ainda sem pistas sobre os núcleos do Espectro?” Zein perguntou após uma sessão de trocas de saudações com a lasca.

“Não, a composição é totalmente única. Aquela equipe ainda não tinha ideia de como o mana elemental e o miasma poderiam se mesclar em equilíbrio,” Eugene suspirou, olhando para o invólucro na mão do guia. “Isso é um doce?”

“Hmm…” Zein colocou um pequeno pote de doces sortidos na mesa de forma despreocupada, o que despertou o interesse dos outros pesquisadores — que sempre desejavam açúcar como combustível para o cérebro –. “Ao invés de saber como isso funcionou, vocês podem apenas usá-lo para fazer um detetor de Espectro ou algo do tipo? Já que a composição é única, o padrão da frequência do mana no núcleo deveria ser único também. Se a gente pode detectar um Espectro, a gente pode detectar uma lasca também… o quê?”

Os pesquisadores, que estavam no meio de abrir o pote de doces, pausaram e encararam Zein como se fossem estátuas.

“Vocês…nunca pensaram nisso?”

Eugene pigarreou, enquanto os assistentes viravam a cabeça para o lado envergonhados. “Eu vou… chamar aquela equipe,” Eugene disse com um sorriso embaraçado. “Cara, Zein — nós realmente precisamos de você aqui.”

“Senhor Zein, posso saber para qual escola você ia?” perguntou um dos assistentes pesquisadores, curiosamente.

“Ah, eu também estava curioso sobre isso…”

“É, Senhor Zein realmente sabe muito sobre isso,”
“Isso não é óbvio? Senhor Zein é um especialista afinal…”

Tomando o café que Balduz fez para ele, Zein girou sua cadeira para se esconder do olhar inquisitivo dos assistentes. Seu papel na pesquisa foi marcado como Especialista, mas não havia detalhes sobre no que ele era especializado.

Era verdade, porém, que comparado a qualquer pessoa aqui, Zein era o mais conhecedor sobre a Zona da Morte e o fragmento de Setnath. Ele poderia ser ignorante em qualquer outra coisa, e não fazia ideia de como operar qualquer coisa nesta sala, mas se fosse sobre quaisquer detalhes a respeito da lasca ou núcleo de mana, ele tinha vantagem.

Esse conhecimento vantajoso e sua atitude confiante, porém relaxada, faziam ele parecer como um sábio estudioso, quando na verdade ele nem sequer terminou qualquer escola.

Como ele poderia, quando foi forçado a trabalhar desde seus dez anos? A única razão dele não parecer tão ignorante era o livro didático de seu irmão que ele às vezes lia.

“Bobagem! Senhor Zein é um guia, então claro que se formou no Templo.”

Bom, isso também estava errado. Mas era uma perda de tempo corrigi-los, então Zein apenas ignorou a discussão sobre ele e tentou se comunicar com a lasca novamente.

O que ele não esperava era ouvir a mesma pergunta dos seus pintos — ahem, subordinados.

“Para qual Templo você foi, Capitão?” Dheera, que nunca hesitava em lhe fazer muitas perguntas, um dia perguntou, enquanto Zein atirava uma faca de madeira em direção a cinco guias na arena.

Uma flecha com a ponta rombuda voou de outro lado, fazendo com que os guias se espalhassem como galinhas. Eles estavam treinando seus reflexos, e Zein fazia isso ao arremessar coisas nos guias até que eles conseguissem evitá-las. Ele também pediu à Sierra para ajudá-lo, depois de encontrar o esper um dia na cafeteria.

Nora, que se agachou perto deles com a respiração ofegante do treino anterior, olhou para Zein, e o mesmo fizeram os outros guias. Assim como sua aparência, seu Capitão era realmente envolto em mistério. Até agora, eles só sabiam que ele era um guia de classe A com um nível de habilidade quase equiparável a um Santo, que de algum modo passou os últimos quatro anos na fronteira antes de vir para a Trindade através de recrutamento pessoal.

E eles meio que já adivinharam de quem veio esse recrutamento pessoal — parecia que o boato sobre o Capitão Guia e o Comandante do Ataque nunca iria desaparecer.

Mas havia algo sobre o passado do Capitão? Nem um pouco. A única que poderia fornecer informações, Nora, também se mantinha calada sobre isso. Então todos eles estavam esperando por qualquer novidade sobre seu evasivo Capitão.

Sem nem piscar ou diminuir a força do seu arremesso, Zein respondeu de modo despreocupado. “Eu não fui a nenhum Templo.”

O que deixou o resto dos guias sem palavras — exceto pelo que estava rolando pela arena de treino.

“Huh? Então como você–”
“Eu tive algumas dicas de guias mais velhos e aprendi por mim mesmo.”

“Wha…” Dheera não conseguia nem formar palavras coerentes, apenas abria os lábios em choque, admiração e confusão.

Nora encostou a cabeça na parede, olhando para Zein com um sorriso amargo. Nunca mudava — aquele costas eram como uma muralha gigante. A razão de alguns guias desprezarem Zein era, curiosamente, a mesma razão pela qual outros o amavam — aquele talento esmagador.

Zein mesmo provavelmente não sabia disso, o quão absurdo era ser capaz de aprender a guiar sozinho, com apenas indicações ruins de outros guias — guias da zona vermelha, nesse caso. Mas mesmo tendo tal talento, não havia ninguém que se esforçava tanto quanto ele para melhorar.

Para sobreviver — ele disse.

Essa muralha chamada Luzein, era algo que as pessoas ou usavam como proteção ou atiravam pedras.

Mesmo após quatro anos, nada tinha mudado. Não — parecia que enquanto Nora estava preso sendo um capacho para outros guias, Zein continuava melhorando. Pelo menos se estivessem falando sobre habilidades.

Outras coisas, porém… Nora ainda lembrava da profundidade da escuridão naqueles olhos azuis quando ele perguntou a Zein se ele estava cansado de viver em perigo daquela forma.

“Tudo bem, isso é tudo!” Zein bateu palmas então, para o alívio do último grupo de guias. “Vamos terminar depois de um quiz rápido.”

Os guias, que antes estavam chocados, agora gemiam e imploravam por misericórdia. Zein sempre encerrava as sessões de treinamento com questionários sobre as feras e várias características das masmorras. Parecia que eles estavam se preparando para um exame do Bureau Sentinela.

Na verdade, o exame do bureau podia ser mais fácil que o de Zein.

Antes mesmo de terminarem de se queixar, seus commlinks já apitavam e a questão já tinha sido enviada para sua interface pela assistente inexpressiva. Por algum motivo, o rosto impassível de Alice sempre parecia um pouco mais feliz cada vez que ela enviava os questionários.

Enquanto eles lutavam com o questionário, Zein tinha sua própria sessão de treinamento, fazendo com que Sierra atirasse nele com sua verdadeira bala de mana rapidamente. Então os guias também lutavam para se concentrar no questionário ou assistir ao fascinante reflexo do seu Capitão.

“É um bom dia amanhã,” Zein deu um raro sorriso enquanto o dia terminava, para o espanto dos outros. “Seus uniformes estão aqui.”

Finalmente, o rosto cansado se animou. “Antes disso, no entanto, vocês irão ao quarto andar amanhã.”

Os rostos sorridentes se endureceram então, enquanto Zein soltava outro sorriso, mais sinistro.

“É hora do treinamento de simulação de vocês.”

* * *
“Ei, o que exatamente você fez com o Bas?”

A sala de controle do treinamento de simulação, que ficava no quarto andar e estava cheia de murmúrios nervosos do guia, bem como das vozes da equipe controlando a simulação dentro de cada câmara, de repente caiu em silêncio.

Olhares e ouvidos se voltaram para o centro da sala então, onde o Capitão Guia estava sentado casualmente com os braços cruzados e os olhos focados nas várias telas mostrando o visual dentro da simulação. Encostando no guia por trás, com os braços apoiados no ombro do guia e o queixo descansando na cabeça do guia, estava o chefe pesquisador, que ousadamente fez a pergunta no meio da sessão de treinamento.

“O que você quer dizer?” Zein respondeu indiferente, antes de clicar no botão do alto-falante para falar com os guias na simulação. “Certo, nós falamos sobre isso. Tudo o que vocês têm que fazer é se acostumar com a atmosfera da masmorra. Sintam tudo e mantenham a mente estável. Para cada ponto negativo, adicionarei uma volta extra ao exercício diário de vocês.”

Não eram apenas os guias dentro da simulação que gemiam, mas também os que ainda esperavam sua vez. Os guias dentro da simulação, no entanto, faziam isso silenciosamente, enquanto se agachavam no meio de uma selva escura.

“Você é um demônio,” Han Shin riu, coçando o pescoço do guia de brincadeira enquanto fazia isso. “Mas enfim, o Bas andou meio aéreo ultimamente, como se estivesse num transe. Você deve ter feito alguma coisa…”

“Não sei do que você está falando,”
“O que vocês estavam fazendo no encontro de vocês mesmo?” o curandeiro inclinou a cabeça. Ele tinha certeza de que qualquer coisa estranha acontecendo com a Bassena tinha alguma relação com Zein.

A essa altura, as pessoas dentro da sala de controle ficaram ainda mais silenciosas e afiaram os ouvidos para escutar atentamente.

“Estamos só dando uma volta–aumente o som da fera na sala 3,” os olhos azuis varreram as telas de novo, “E Ambrosia.”

“Que diabos? Você vai lá sem mim?!” Han Shin deu um tapa no ombro do guia por reflexo, e Zein olhou para ele com uma sobrancelha erguida. “Ah certo, você está num encontro…” Han Shin sorriu de forma constrangida, “–mas mesmo assim!”

“Ele pediu uma caixa para você–adicione gravidade na sala 1,”
“Ah… bem, nesse caso…” Han Shin deu de ombros e se encostou no guia novamente, como um coala pegajoso. “Hmm… a última vez que eu o vi assim foi quando você o limpou até ficar branco naquela vez…”

Então um silêncio total se seguiu, já que Han Shin também pausou e ficou imóvel nas costas de Zein. Os guias também arregalaram os olhos e taparam a boca com a noção de o Senhor da Serpente algum dia receber uma limpeza completa.

A alta muralha que era o Capitão deles parecia apenas ficar mais alta.

Mas Han Shin estava reagindo a algo completamente diferente. “Você–”
“Não,” Zein respondeu imediatamente, antes que o curandeiro pudesse terminar a pergunta.

“Não?” Han Shin estreitou os olhos com desconfiança.

“Não estávamos fazendo nenhum trabalho de guia.”

“Hngg…” o curandeiro inclinou a cabeça para lá e para cá em reflexão, bagunçando o cabelo preto do guia que usava como travesseiro. “Você o beijou bem ou algo assim?”

Zein bateu com o cotovelo em contemplação. Ele não tinha visto Bassena desde o encontro deles, e embora não tivesse pensado muito nisso antes, agora sentia que era bastante estranho. O esper normalmente sempre encontrava alguma desculpa para vê-lo quando o homem não estava em uma viagem de negócios.

Mas eles não tiveram uma troca acalorada como aquela vez no salão de treinamento, apenas…

“Só na bochecha…” Zein respondeu baixinho, quase como um murmúrio, mas o suficiente para ser captado na sala silenciosa.

Nas suas costas, Han Shin sorriu largamente, acariciando o queixo mascarado do guia de brincadeira. “Você íncubo bonitão, você~”
“Sai de cima,” Zein deu de ombros com um suspiro exasperado, justo quando o commlink bipou com um anúncio.

“Por que, por que, você está ficando nervoso, hein? Nosso estoico Zein~” o curandeiro riu, antes de parar ao ver a expressão séria do guia. “O que? O que é isso? Você está bravo?” ele perguntou com cautela.

Mas os firmes olhos azuis de repente se estreitaram de forma incisiva, e Han Shin pôde sentir o sorriso por trás da máscara. “O que? O que?” ele espiou a interface do guia, e assobiou.

“Então chegou, hein?” o curandeiro riu, virando a cabeça para olhar para os outros guias. “Sua primeira incursão oficial no calabouço.”