Capítulo 960: Tão maligno

“… Vocês querem que a gente administre a empresa mesmo se vocês a comprarem? Vamos mantê-la e reter uma pequena parte? Além da compra?”

Theo e até mesmo seu pai leram essa cláusula várias vezes antes de fazer a pergunta. Afinal, eles precisavam ter certeza, porque esse contrato parecia bom demais para ser verdade.

Será que a maré de azar deles finalmente tinha acabado, e agora eles estavam sendo abençoados?

“É verdade, e é o único tópico que eu gostaria de discutir com vocês dois,” Penny assentiu. “Eu pensei muito e decidi adicionar essa cláusula. Claro, ainda depende de vocês se concordam com isso. Eu estaria disposta a comprometer-me ou aceitar quaisquer condições que vocês quisessem adicionar.”

Condições? Como os Millers poderiam ter outras condições? Eles vieram aqui pensando que aceitariam a oferta e venderiam a empresa pelo preço que Penny lhes disse na noite anterior. Penny provavelmente já sabia disso e estava dizendo isso por formalidade.

Mesmo que não fosse o caso e Penny fosse naturalmente generosa, Penny era empresária. Ela construiu o Grupo Prime do zero e agora era a matriarca da Família Pierson.

Como eles se atreveriam a negociar e arriscar ofender essa porta de oportunidade?

“Senhorita Penelope, ha ha… isso é… isso é algo que eu não esperava,” Senhor Miller riu de forma constrangida. “Para ser sincero com você, nós viemos aqui por causa da compra. Nós não esperávamos por cláusulas adicionais.”

“Bem, como eu disse, se vocês não gostarem, podemos sempre prosseguir com o plano original.”

Theo animou-se. “Não é isso que meu pai está dizendo, Senhorita Penelope. Tudo que estamos dizendo é… isso é… isso é incrível! Mas não queremos abusar da sorte. Então, estamos um pouco confusos. Por que você está nos dando tanto?”

“Tanto assim?” Penny repetiu inocentemente e deu de ombros. “Acho que parece mesmo um pouco demais.”

Alguns milhões de dólares não eram nada para ela? Os Millers quase engasgaram ao ouvir sua resposta significativa, mas então se lembraram de quem era seu marido. Zoren poderia comprar mais dez empresas dos Millers, e isso nem sequer faria um arranhão em seu fluxo de caixa.

Aquele homem estava ganhando milhões a cada segundo que respirava.

Dá para imaginar quantas centenas de milhões entravam e saíam da Corporação Pierson todos os dias.

“Se eu puder ser franco, por que vocês estão nos pedindo para administrar a empresa?” Theo reuniu coragem para saciar sua curiosidade. “É verdade que nós ouvimos falar da Família Bennet a caminho daqui, então eu esperava que uma vez finalizada a compra, o Atlas Bennet assumiria o comando.”

“Meu primeiro irmão não soube disso, mas tenho certeza de que ele recusará,” Penny sorriu para eles. “Ele aceitaria se tivesse tempo — provavelmente, mas ele está bastante ocupado.”

Ocupado fazendo o quê?

Atlas tinha sido literalmente chutado da Global Prime Logistics. Ou seja, ele estava desempregado!

“Oh…” Theo franziu a testa, ainda com muitas perguntas em sua mente. No entanto, ele não queria bombardear Penny com perguntas e irritá-la.

“Não pense demais,” Penny comentou de forma tranquilizadora. “O único motivo para eu ter adicionado esta cláusula é porque minhas mãos estão atadas no momento. Além disso, eu não planejo expulsar as pessoas erradas e substituí-las pelas minhas. Se houvesse alguém que deveria fazer isso, deveriam ser as pessoas que sabem quem merece ficar e quem não merece.”

“Mantendo vocês no comando sob minha orientação, tenho certeza de que a Companhia Miller voltará a ser uma das melhores.” Seu sorriso se transformou em um leve sorriso de canto conforme ela inclinou a cabeça levemente para o lado. “O que vocês acham?”

Senhor Miller e Theo olharam um para o outro com olhos arregalados. Tentaram esconder seu entusiasmo, mas estava evidente em seus olhos.

Hoje, assinar aquele pedaço de papel significaria o fim de seu sofrimento.

‘Mesmo que a participação seja apenas alguns pontos percentuais, se a empresa se recuperar, essa pequena porcentagem provavelmente valeria metade do dinheiro da compra,’ Theo pensou. ‘Não, com a Corporação Pierson por trás dela, o dinheiro da compra seria mais como uma compensação.’

‘Se fosse antes, eu pediria uma porcentagem maior. No entanto, nossa empresa está definhando e concordar com uma compra — um pagamento único — sem pedir uma vaga na reunião de acionistas é suficiente para nós. Considerando que o preço oferecido por ela poderia cobrir nossas perdas, pagar nossas dívidas e ainda nos deixar com algo para viver confortavelmente pelo resto de nossas vidas ou iniciar um novo negócio, pensei que não deveríamos mais ser gananciosos,’ Senhor Miller ponderou, segurando sua mão no colo para conter sua felicidade e excitação. ‘Será que realmente podemos aceitar essa generosidade?’

Aos poucos, Theo e seu pai levantaram a cabeça, seus olhos brilhando tanto que Penny quase podia vê-lo. Eles estavam radiantes! Como se estivessem olhando para sua deusa, sua salvadora, seu tudo!

“Ahem!” Penny pigarreou. “Então? Vocês aceitam isso? Não estou dizendo que não haverá mudanças, mas provavelmente tudo continuará igual. Contanto que vocês me escutem, não precisam se preocupar com nada. Vocês administram o negócio com o pensamento de ser o número um em logística.”

Desta vez, sua postura amigável mudou conforme seus olhos se tornaram mais penetrantes. “Eu já tenho alguns investidores e clientes que estão esperando que a papelada seja finalizada.” Ela então pegou o papel que havia mostrado a eles anteriormente, deslizando-o na frente deles com uma caneta em cima.

“Quanto antes, melhor. O processo da documentação leva tempo, então podemos finalizar o acordo hoje?” ela sugeriu, recostando-se confiante.

“Uh… Moça Jovem Bennet, eu tenho que…” Senhor Miller hesitou, sabendo que tinha que contar isso para Penny antes de prosseguirem. Caso contrário, isso poderia ser o começo de um problema para essa parceria. “… Há alguns meses, peguei um empréstimo para cobrir nossos prejuízos. Os juros eram nas alturas, e—”

“Não se preocupe com isso,” Penny deu uma risadinha. “Tenho certeza que isso já está coberto pelo pagamento da compra, não está?”

Senhor Miller e Theo a olharam perplexos, só para vê-la rir.

“Posso ser jovem, mas cresci vendo meu pai ficar acordado até tarde trabalhando,” disse Penny. “Eu não compro as coisas sem a devida pesquisa, Senhor Miller. Eu sei sobre o empréstimo e os juros exorbitantes. Não é essa parte da cobertura dos prejuízos?”

Bem, os Millers já haviam calculado, e se tivessem que pagar os juros, ainda assim sobraria o suficiente para eles.

“Se isso está claro, podemos prosseguir?”

Theo e Senhor Miller se olharam primeiro antes de o último acenar com a cabeça para o filho. Theo retribuiu o aceno, observando seu pai pegar uma caneta e assinar o papel após uma leitura rápida. Depois disso, Theo tirou sua caneta do bolso, assinando o papel sem hesitar um segundo. Theo já tinha lido o que estava escrito no papel enquanto seu pai assinava.

Em seguida, Theo passou o papel para Penny, que o assinou casualmente.

“Estou ansiosa para trabalhar com você,” Penny se levantou, oferecendo sua mão ao Senhor Miller.

Senhor Miller segurou sua mão com as duas mãos dele. “O sentimento é mútuo, Senhorita Penelope. Fique tranquila que meu filho e eu não vamos decepcioná-la.”

“Não se preocupe em me decepcionar — não vou deixar que isso aconteça,” Penny respondeu enquanto retirava sua mão, apenas para apertar a mão de Theo. “Estou ansiosa para trabalhar com você, Theo Miller.”

“A honra é minha.” Theo concordou alegremente e com vigor, segurando a mão de Penny com firmeza. “Obrigado por esta oportunidade.”

Como ele desejava que sua irmã fosse metade boa quanto Penny.

E assim, o buyout prosseguiu, com todos os assuntos legais sendo tratados tanto por Graça quanto pelo advogado escolhido pelos Millers.

—

Momentos depois…

Penny já estava no carro, deixando a Corporação Pierson. Mesmo antes de ir embora, Zoren ainda não havia retornado. Pelo que ouviu, a reunião ainda estava acontecendo.

“Considerando que é uma discussão sobre a aposentadoria da Vovó…” ela parou de falar, discando para alguém antes de colocar o telefone no ouvido. “Tio Wild.”

“Oh, você ligou! Depois de uma eternidade!”

Penny sorriu. “Desculpe, um pouco ocupada.”

“É… eu ouvi. Seu irmão mais velho foi expulso pelo próprio tio. Deve ter ferido o orgulho dele.”

“Na verdade, não.” Ela deu de ombros. “Enfim, Tio, os Millers concordaram com o buyout. Eu já enviei a documentação para o escritório da Graça.”

“Oh! E o empréstimo?”

“Apenas deixe estar,” ela ordenou. “Eles têm feito os pagamentos, com medo desses juros insanos. Assim, consegui comprá-los sem ultrapassar o nosso orçamento. Nem pela metade.”

Wild riu. “Oh ho! Que menina má. Se não fosse aquele empréstimo que oferecemos a eles, não teriam afundado tão rápido. Tsk tsk tsk. Devem estar muito gratos, sem saber que estamos pagando a eles com o próprio dinheiro deles. Tão perversa — eu gosto disso! Muito bem, se está tudo acertado, marcarei o empréstimo como concluído — err… sobre a empresa, você vai colocá-la sob o Grupo Prime ou como de costume?”

“Vou pensar sobre isso mais tarde. Estou desligando agora.” Com isso, Penny desligou e olhou pela janela. Enquanto fazia isso, seus lábios lentamente se curvaram em um sorriso irônico. ‘Patricia Miller, você está acabada.’