Marido Com Benefícios - Capítulo 890
Capítulo 890: Isso…
Quando Kael parou em frente ao seu apartamento, Arabelle conseguiu se estabilizar, suas emoções já não ameaçavam sair do controle. Ela estava grata por uma pequena misericórdia: não ter se mudado ainda para morar com Sua Alteza, Príncipe Rafael Ignis. Se tivesse, para onde ela teria ido esta noite para curar suas feridas? O pensamento trouxe um pequeno, amargo conforto. Pelo menos ela ainda tinha seu próprio espaço — um santuário para se refugiar quando tudo mais parecia estar desmoronando.
Murmurando uma palavra silenciosa de agradecimento, ela desceu do carro sem dar a Kael uma chance de falar. Ela não estava pronta para palavras, não dele, não de ninguém. Sua mente estava muito cheia, girando com pensamentos e emoções que ela ainda não havia completamente processado. Esta noite havia sido uma noite de revelações — dolorosas que a deixaram questionando a si mesma.
A realização mais significativa? Ela havia se apaixonado por Rafael Ignis, e profundamente. No último mês, apesar de seus melhores esforços para se manter em guarda, ela se deixou encantar por ele. E isso foi totalmente por conta dela. Ela deveria ter previsto melhor, deveria ter visto o perigo chegando.
Em retrospecto, não era totalmente surpreendente. Ela o admirava muito antes de eles passarem tempo real juntos, seguindo seu trabalho desde o momento em que Dora começou a namorar Kael. Ela criou uma imagem dele em sua mente — uma baseada em sua reputação, suas conquistas e as mudanças pelas quais ele lutou com afinco. E mais tarde, durante suas interações limitadas, mas significativas, ela passou a vê-lo como mais do que apenas o príncipe que todos reverenciavam. Rafael Ignis era genuíno, complexo, imperfeito de maneiras que o faziam parecer real, até acessível.
Ele a fazia lembrar de Gabe de certa forma — alguém que havia cometido erros, pagou por eles e emergiu mais forte, carregando as cicatrizes, mas também a sabedoria. Como ela poderia não se apaixonar por alguém assim?
Mas a caminhada do carro para o apartamento trouxe uma revelação diferente, uma que a atingiu com tanta força quanto sua desilusão amorosa: raiva. Por baixo da dor em seu peito, ela sentia o agudo ardor da indignação, fervendo logo abaixo da superfície. Sim, ela havia cometido erros. Ela deveria ter contado a ele a totalidade de seu passado — ela teve inúmeras oportunidades de fazer isso. Quando ele falava do próprio passado, sobre o dano que havia causado a Kael e aos outros, tinha sido uma abertura perfeita para compartilhar sua própria história. E ainda assim, ela não o fez.
Por quê? Porque ela tinha vergonha, ou assim pensava na época. Ela tinha medo de como ele a veria, de como o passado poderia mudar a maneira como ele a olhava. Mas agora, depois de ouvir suas palavras — que ele estava envergonhado dela — tudo havia mudado.
Ela não estava envergonhada de seu passado. Com medo de enfrentá-lo, talvez, e ainda mais medo de compartilhá-lo com alguém que se importava. Mas vergonha? Não, não era isso. Suas decisões, falhas como poderiam ter sido, eram apenas dela. Ela as havia feito, vivido com elas, e seguido em frente, com cicatrizes e tudo.
A raiva brilhava mais intensamente enquanto ela repetia suas palavras em sua mente, cada uma um golpe afiado em seu orgulho. Como ele ousa? Ela havia mantido seu passado escondido, não por engano, mas por medo. Medo de rejeição, de julgamento, de perder o que eles tinham. Mas nunca uma vez ela se sentiu menos por causa de suas escolhas.
Dentro da casa, Arabelle fechou a porta com força atrás dela, o som ecoando pelo espaço vazio. Ela chutou a borda do sofá, a dor aguda nos dedos fazendo pouco para amenizar a dor em seu peito. Envergonhada dela? As palavras reverberavam em sua mente, cada repetição uma ferida fresca. Se Rafael Ignis realmente sentia dessa forma, então ele merecia mais do que um chute.
Lágrimas marcavam suas bochechas, mas não retardavam seus movimentos. Ela se movia pela casa com uma determinação afiada e proposital, suas mãos tremendo enquanto ela agarrava objetos — um casaco, uma bolsa, um conjunto de chaves que ela não tinha certeza se precisaria. Ela não podia ficar. Não aqui, não agora. Se ficasse, ela poderia acabar fazendo ou dizendo algo que se arrependeria, e isso não era um risco que ela estava disposta a correr. Não, ela precisava de espaço. Distância. Tempo para pensar, tempo para respirar.
A palavra — envergonhada — cortava sua resolução novamente, mais afiada que o resto. Não era a primeira vez que ela a ouvia, e talvez isso foi o que doeu tanto. Alguém havia atirado essa mesma adaga nela. Ele a tinha dito com desdém, seu tom pingando julgamento: ele estava envergonhado dela porque ela era a filha de um monstro. Alguém que se aproveitava dos fracos.
Ela havia sido abalada, mas apesar disso, esperava que ele visse além de algo assim. O resultado foi que não apenas seu coração, mas seu mundo inteiro haviam sido abalados. Isso a fez temerosa de amar e confiar em alguém.
Mesmo agora, a memória despertava uma amargura leve, por causa de tudo que ele havia tirado dela. Mas apesar de tudo, ela havia chegado a entender uma coisa. Ele era o verdadeiro tolo fraco. Mas Rafe… Ele era diferente. Ele não era um tolo fraco.
Rafe não era algum crítico sem rosto ou observador distante cujas opiniões ela não poderia se importar menos. Ele era alguém que ela admirava, alguém em quem ela havia aprendido a confiar. E em seu coração, apesar de todos seus medos e hesitações, ela havia permitido se importar com ele — profundamente.
Finalmente, ela estava pronta para sair do apartamento. Ela ia retornar agora. Ela iria voltar, se esconder, lamber suas feridas e então voltar mais forte. Se Rafe não pudesse respeitá-la então ela não estaria com ele. Eles definitivamente resolveriam algum acordo. Ela olhou para o anel que ele havia colocado em seu dedo e suspirou enquanto seus dedos se apertavam. Ela não queria tirá-lo… Balançando a cabeça por sua própria estupidez, ela se moveu para tirar o anel quando ouviu uma batida na porta. Ela parou.