MAGO Supremo - Capítulo 2560

Capítulo 2560: Filhos de Glemos (Parte 4)

“Caso contrário, ela teria se tornado a primeira Fomor pura e estável e não precisaria mais dele. Glemos fez isso para mantê-la na coleira e forçá-la a se tornar sua esposa, na esperança de conseguir alguém melhor que Garrik.” Ryla disse.

“Por que você está me contando tudo isso?” Morok perguntou.

“Porque Glemos estava certo. Você é melhor que ele.” Ela respondeu. “E no momento que você contou a história dele se sacrificando por você, eu soube que era mentira. Aquele desgraçado teria sacrificado qualquer um para se salvar.

“Como ele gostava de dizer, ele sempre poderia ter mais filhos. Você e Garrik nunca significaram nada para ele. Ele só precisava de prova do sucesso de suas experiências para replicá-las quantas vezes quisesse.

“O que significa que ou você o matou ou o mandou matar. Não me importa como ou por que você fez isso. Apenas saiba que você não precisa mentir para mim.”

“Se aquele desgraçado do Glemos te fez passar por tanto sofrimento, por que você confia tão rápido em mim?” Morok encarou seu rosto, notando que, apesar de seu ataque anterior, a Fomor não sentia admiração nem lealdade por seu “deus”.

“Você acha que eu o matei e, pelo que você sabe, você e Garrik podem ser os próximos. Além disso, se você nunca acreditou naquelas bobagens, por que se comportou como um zelote e trabalhou tanto para manter vivo o culto maluco do Glemos?”

“Eu confio em você não apenas porque acho que o matou, me libertando e a meu filho, mas também porque a primeira coisa que você fez depois que apresentei seu meio-irmão a você foi protegê-lo em vez de explorá-lo.” Ryla apontou para as mãos de Morok que ainda cobriam os ouvidos de Garrik.

“Se você fosse como Glemos, teria fingido um senso de irmandade que não sente e então me perguntaria quais são as habilidades de Garrik para ver se ele poderia ser útil para você. Depois, você teria me pedido para levá-lo ao laboratório e pegar o que acredita ser seu por direito.

“Em vez disso, seu primeiro pensamento foi fazer perguntas sobre o nosso bem-estar. Você se preocupou com quem somos para você, não com o que podemos fazer por você. Preocupar-se com a inocência de Garrik e recusar-se a destruir a imagem do pai dele selou nosso acordo para mim.

“Não sei qual é o motivo real que o trouxe aqui, Morok Eari, mas sei quem você é. Um bom homem. Quanto à sua pergunta sobre minha fachada de alta sacerdotisa, isso apenas prova que você é ingênuo e que seu coração é puro.

“Um homem astuto saberia que, não importa o que eu sinta por Glemos, a autoridade dele é minha autoridade. Um homem cínico saberia que tirar a máscara após o desaparecimento dele significaria colocar a mim e meu filho em perigo.

“Se eu contasse a verdade, os zelotes me despedaçariam, enquanto aqueles que já perderam a fé, como o tribunal de Syrah, me matariam por ser a prostituta de Glemos todo esse tempo. Manter a fé viva me mantém viva e é minha melhor chance de garantir a sobrevivência de Garrik.

“Uma vez que tenhamos que nos mudar para nosso novo refúgio, serei forçada a revelar sua existência. Os crentes serão sua espada e escudo. Aqueles que ainda temem Glemos não se atreverão a tocá-lo, não depois do medo que ele instigou em seus corações e que eu mantive crescendo depois que ele desapareceu.”

“Bons deuses!” A cabeça de Morok girava com a revelação, fazendo-o se perguntar se a astúcia de Ryla vinha de seus instintos maternais ou se os Fomors eram mais relacionados aos Tiamats do que aos Tiranos.

Mas em meio ao caos e à confusão, enquanto tentava juntar tudo e decidir o que fazer, suas mãos nunca deixaram Garrik.

“Está tudo bem?” O garoto perguntou depois que o silêncio se prolongou por muito tempo e vendo a expressão chocada do irmão mais velho. “Estou com medo.”

Ele se agarrou à sua mãe, que havia mantido o sorriso o tempo todo para não trair a natureza sensível da conversa.

“Não se preocupe, irmãozinho.” Morok levantou o feitiço para tranquilizá-lo. “Estou apenas chocado porque não sabia que tinha um irmão. Eu estive sozinho a vida inteira, então essa coisa de família é meio nova para mim.”

“Eu também estive sozinho, mas pelo menos tenho minha mãe. E a sua?” Garrik perguntou.

“Nós nunca nos demos bem. Ela é má.” Morok não podia dizer a um garoto tão jovem que uma mãe poderia abandonar seu filho nem afirmar que ela estava morta.

A mentira assustaria Garrik e forçaria Morok a inventar ainda mais mentiras para dar a ela uma morte supostamente pacífica para não assustá-lo ainda mais.

“Não se preocupe, da próxima vez que eu ver o pai, vou pedir-lhe para resolver as coisas entre você e sua mãe. Ele é um deus muito bondoso e nunca me diz não. Até aquele momento, minha mãe e eu podemos ser sua família.

“Assim, você e eu não estaremos mais sozinhos.”

A mente ingênua de Garrik não questionou a absurdidade da situação. Ele estava muito feliz por ter um irmão para se preocupar com detalhes menores, como onde Morok esteve até aquele momento e por que nunca se conheceram antes.

“Obrigado, irmãozinho.” Morok sentiu uma pontada no coração enquanto bagunçava o cabelo do menino.

“Por favor, aguente só mais um pouco. Minha mãe e eu ainda temos algumas coisas chatas de adultos para discutir.”

“Sem problemas.” Garrik assentiu, pensando que Morok chamando Ryla de “mãe” selou o acordo e os tornou uma família.

Colocar o Feitiço Silêncio de novo foi uma das coisas mais difíceis que o Tirano já fez. Se antes a missão era colocar as mãos no legado de sua linhagem e talvez salvar alguns monstros de lado, agora era pessoal.

Embora ele tivesse conhecido Garrik por alguns minutos, o jovem Fomor era como ele. Outra criança cuja vida fora orquestrada por Glemos desde o nascimento, sem se importar com sua felicidade.

O sangue não significava nada para Morok, mas ele ainda sentia um parentesco com Garrik devido às manipulações de que ambos haviam sido vítimas.

‘Não vou deixá-lo passar por toda a merda que tive que suportar.’ Morok pensou. ‘Não me importo se tiver que dividir o legado dos Tiranos com Garrik, Faluel ou todo o Conselho. Vou garantir que ele saia daqui vivo e com a mãe dele.

‘Eu me recuso a deixar aquele desgraçado do Glemos arruinar a vida de outro de seus filhos além do túmulo.’

“Mais uma coisa.” Morok disse depois de cobrir as orelhas do jovem Fomor. “Entendo alimentar os outros com essa história de deus, mas por que você não contou a verdade ao seu filho?”

“Que bem teria feito?” Ryla deu de ombros. “Era melhor para Garrik acreditar que tinha um pai amoroso que estava sempre ausente por um chamado maior do que ser o último de uma longa linha de experimentos realizados por um monstro sedento de poder.

“Fazê-lo acreditar que seu pai está sempre observando-o era a única maneira de convencê-lo a não me seguir e ficar em casa. Se eu contasse a verdade, ele ainda seria prisioneiro nesta casa, mas também seria muito mais infeliz.”