MAGO Supremo - Capítulo 2490

Capítulo 2490: Sombra Pesada (Parte 2)

Não havia amuleto de comunicação na sala, apenas quatro cadeiras e Zekell estava sentado em uma delas.

“Pai? O que você está fazendo aqui? É noite no Reino e você deveria descansar.”

“Quem se importa com o sono quando meu filho precisa de mim?” O ferreiro caminhou até Senton, apertando sua mão e dando tapinhas nas costas dele.

“Por que eu precisaria de você? Está tudo bem, pai.”

“Mesmo? Então por que você sai da sala sempre que Leria me mostra o último feitiço que aprendeu? Como pode passar a maior parte do tempo em Lutia e voltar para sua esposa apenas tarde da noite?” Zekell perguntou cautelosamente.

“Além disso, eu não sou cego nem surdo. Posso ouvir vocês dois discutindo o tempo todo. Vejo a raiva que move seu martelo enquanto trabalhamos e como você é frio com sua esposa e filha.

“Se não fosse pelo fato de você ainda ser um pai amoroso para seus trigêmeos, eu diria que foi substituído por um Doppelganger. Porque um PeleMuda faria um trabalho muito melhor se passando pelo meu filho.”

“Isso não é da sua conta.” Senton franzia os lábios. “Estamos passando por um momento difícil. Acontece com todos os casais.”

“De fato, mas este está durando semanas.” Disse Raaz. “Eu considero você um bom homem e pai, Senton, mas não gosto de como está tratando minha filha. Acho que é hora de abordarmos o elefante na sala, ou melhor, o Tiamat.

“Você nunca gostou muito do Lith e isso é justo, já que o sentimento é mútuo. Desde o gala, no entanto, você estendeu seu descontentamento a Rena e Leria também. Isso é inaceitável.”

“Claro que você diria isso!” Senton rosnou. “É o seu brasão de família pendurado sobre minha casa. É o seu nome que minha esposa e filhos usam primeiro para se apresentar. Eu não sou nada. Não presto para nada.

“As roupas que usamos são de Lith, assim como todos os aparelhos mágicos que usamos todos os dias. Aonde quer que eu vá, vejo a sombra dele e o pior é que até meu próprio pai o ama mais do que eu!”

Enquanto encarava Zekell, a fúria deixou os olhos de Senton e foi substituída por mágoa.

“Como você pode dizer isso?” Zekell se levantou. “Você é meu orgulho. Meu único e amado filho. Tudo o que construí é para você e seus filhos herdarem.”

“Palavras bonitas para alguém que sempre exibiu seu genro, em vez de seu filho verdadeiro, em todas as reuniões da aldeia!” Senton rosnou. “Você chama Lith de ‘filho’ e sempre faz de tudo para agradá-lo.

“Você jogou fora o sobrenome que comprou com muitos sacrifícios e até construiu um templo para ele! Não me lembro de você fazer algo assim por mim.””

“Eu exibi o Lith nas reuniões da aldeia porque mencioná-lo nos dava prioridade para consertos e reduções de impostos!” Zekell retrucou. “Porque com o dinheiro que economizamos, conseguimos continuar tocando nossa ferraria mesmo quando não tínhamos muito trabalho.

“Fiz tudo para agradar o Lith, como você diz porque ele me trouxe negócios. Ele pagou pelo meu artesanato e me ensinou coisas que um ferreiro da aldeia só poderia sonhar. Se não fosse por isso, ainda estaríamos fazendo ferraduras e arados.

“Em vez disso, agora sei como purificar Oricalco. Manipulei prata suficiente para abrir uma ourivesaria. De onde você acha que consegui os materiais para praticar? Naquela época, uma única barra de prata valia mais do que nossa casa e loja juntas.

“E nem vou começar a falar sobre os carrinhos de bebê, os tabuleiros de xadrez e todas aquelas coisas que o Lith inventou. Temos um monopólio sobre muitos itens altamente procurados porque você se casou com a irmã dele e eu trabalhei muito para me tornar seu cara de confiança!

“Mesmo que ele não fosse meu genro, teria feito o mesmo se isso significasse ganhar dinheiro honestamente. Quantas vezes você me viu me curvar a um nobre? Beijar o traseiro e lamber os sapatos deles quando pediam?”

“Muitas para contar.” Senton cerrou os punhos com raiva ao lembrar das humilhações passadas.

“E quando isso mudou? Quando penduramos aquele maldito brasão da família Verhen em nossa porta. Quando a mulher que atendia a campainha se apresentava como Rena Verhen. Aí era a nossa vez de ter nossos traseiros beijados e nossos sapatos lambidos, mas não me lembro de você reclamar sobre isso.”

“Isso é diferente!” Senton encarou seu pai nos olhos, seus narizes quase se tocando.

“Não, não é.” Zekell não se abalou. “É só que você estava muito feliz em ser respeitado para se importar com o motivo de nossos clientes de repente sorrirem. Filho, quero que você tire o véu do seu ego ferido e olhe para a vida que construímos para nós mesmos.

“Uma vida que não teríamos se não fosse pelo nosso relacionamento com Lith. Fiz tudo de que você me acusa, mas o fiz por nossa família. Mesmo quando ele ainda era assistente da Nana, Lith odiava os moradores da vila.”

“Mesmo depois que você se casou com Rena, a atitude dele não mudou, então tive que fazê-la mudar. Nunca me importei com o nome que qualquer um de nós carrega, contanto que estejamos seguros. A presença de Lith nos protegeu, trouxe negócios, conforto e mais dinheiro do que jamais sonhamos.

“Claro, coisas ruins aconteciam de vez em quando por causa dele, mas ele sempre consertava a bagunça que fazia. É graças a ele que Lutia não é mais uma vila nojenta. Moramos em uma cidade de médio porte que continua crescendo.

“Fiz aqueles fanáticos construírem um templo para ele porque nossa cidade estava morrendo e nossos amigos também. Não era uma questão de acariciar o ego do Lith, mas de sobrevivência!”

Zekell fez uma pausa para recuperar o fôlego e deixar suas palavras serem absorvidas.

“Você realmente sente falta de morar em nossa velha casa, que era fria no inverno e quente no verão? Sente falta da nossa antiga ferraria, que era pouco mais do que um barraco? Nossa casa agora é digna de Derios e nossa ferraria tem um prédio próprio.

“Não somos mais ferreiros da aldeia. Somos empresários e artesãos respeitados. Agora você tem quatro filhos lindos que nunca passarão necessidade. E não porque o Lith vai pagar por isso, mas porque nós o faremos.

“Você deveria saber melhor do que ninguém que eu passei inúmeras horas na fornalha antes e depois de se casar com Rena. Claro, eu explorei o nome do Lith, mas apenas para viver em paz sem o assédio da nobreza.

“Eu também explorei a fama do Lith para atrair clientes, mas cada moeda de cobre que fizemos veio do nosso trabalho árduo. Sou grato a Lith porque o considerava meu patrono que me deu uma oportunidade, mas eu fui quem a aproveitou.

“Você nega isso?” O olhar do velho ferreiro era frio como aço e quente como a sua forja.

“Não.” Senton baixou o olhar, lembrando-se de como a empresa familiar cresceu ao longo dos anos com esforço e sacrifício contínuos.

A casa dos Proudhammer poderia ter sido digna de um nobre rural se Zekell não tivesse reinvestido cada moeda que ganhava em seu próprio negócio em vez de desperdiçá-las em itens de luxo e roupas encantadas.