Capítulo 2028: Circunstâncias Desagradáveis (Parte 2)

Sair de Belius a pé levaria muito tempo e a magia Dimensional Espiritual era muito dispendiosa em mana. Além disso, para mostrarem todo o seu poder, as Feras Divinas e Imperadoras precisavam de um espaço aberto, então elas foram posicionadas fora da cidade, na borda do campo da matriz que defendia a cidade.

Humanos Despertados e Fae de pequeno porte, em vez disso, davam apoio aos humanos. Eles seriam a última linha de defesa, certificando-se com a Visão de Vida que ninguém abriu um Portal Espiritual dentro da cidade sem ser detectado.

Mesmo com quatro asas e fusão gravitacional, Lith tinha dificuldades em voar sem magia do ar. Ele estava acostumado a conjurar correntes de ar para estabilizar seu voo e encher suas asas, enquanto agora só podia contar com seu treinamento.

‘Eu sou tão gracioso quanto um falcão com um derrame.’ Ele pensou ‘Estou tão feliz por ter mantido uma forma de tamanho humanoide. Assim, ninguém vai testemunhar minha execução patética à distância.’

Suas esperanças por anonimato se despedaçaram quando ele se aproximou de sua posição designada e encontrou um regimento inteiro à espera dele. Havia pelo menos 3.000 pessoas, um décimo delas magos, dispostas em formações quadradas.

A área ao redor de Belius deveria ser plana, mas os magos haviam erguido pequenas colinas completamente feitas de pedra sólida para garantir a eles terreno elevado e cobertura contra feitiços de nível cinco de área de efeito poderosa.

“É um pássaro?” Um soldado disse apontando para Lith.

“Não, é muito grande.” Um mago respondeu.

“Um wyvern, então?”

“Muito desajeitado. É…” O medo e a surpresa a fizeram engasgar com suas palavras enquanto Lith descia e suas características se tornavam reconhecíveis.

O Tiamat pousou tão ligeiro quanto uma avalanche, produzindo um som abafado e abrindo uma cratera abaixo de seus pés.

Lanças se erguiam como uma floresta de metal e varinhas eram apontadas para ele de todas as direções. O problema de lutar contra um exército cheio de metamorfos era que você não podia confiar nem mesmo em seus próprios sentidos.

“Senha?” A maga perguntou, os cinco anéis em sua mão direita apontados para Lith.

“Kraken vermelho.” Ao ouvir a resposta correta, os soldados suspiraram aliviados, mas continuaram apontando suas armas para ele até que seu oficial comandante interveio.

“À vontade.” Um homem alto com cabelos loiros ostentando a insígnia de coronel disse. “Obrigado por vir, major Verhen. Parece que estamos destinados a nos encontrar apenas em circunstâncias desagradáveis.”

Lith reconheceu imediatamente o coronel Varegrave.

Ele estava agora na casa dos quarenta e vários cabelos grisalhos marcam tanto seu cabelo quanto sua barba. O resto era idêntico a como Lith se lembrava de Varegrave em seu primeiro encontro durante a praga em Kandria.

“Você está bem? Pela forma como voou até aqui, você parecia ferido.”

A voz amigável não combinava com o olhar severo dos olhos azuis do coronel. Ele estava genuinamente preocupado com Lith, mas presumia que era apenas porque o Reino precisava que ele estivesse com sua força máxima.

Assim como em Kandria, o coronel parecia estar longe de agradecer por sua presença.

“É bom te ver de novo, coronel.” Lith ofereceu-lhe sua mão escamosa e Varegrave a apertou apenas após alguns segundos, sentindo todos os olhos nele. “Não se preocupe, estou bem. São apenas as matrizes de Belius fazendo seu trabalho.”

“Bom saber.” Varegrave assentiu com um sorriso satisfeito no rosto.

“O que você e suas tropas estão fazendo aqui, coronel?” Perguntou Lith. “Eu achei que cuidaria da vanguarda sozinho.”

“Ninguém no exército está sozinho, filho.” Respondeu Varegrave. “Todos aqui se ofereceram voluntariamente para cobrir suas costas e garantir que você possa recuar em segurança para a primeira linha de defesa de Belius.”

“E como você pretende fazer isso, exatamente?” Lith não conseguia entender como pessoas que pareciam desprezá-lo tanto poderiam escolher ficar ao seu lado no campo de batalha.

“Nós podemos ser apenas humanos, mas treinamos a vida inteira para isso. Contanto que você cuide das Feras Divinas, nós garantimos que ninguém mais se meta na sua luta.” Varegrave andou ao redor do Tiamat, estudando suas garras, escamas e cauda, procurando por qualquer vestígio do menino que ele conhecia.

Após estar de frente com Lith, ele encontrou. Seus olhos permaneciam os mesmos, agora com pupilas verticais e de muitas cores diferentes.

“E se eu falhar? E se o inimigo for muito forte para mim sozinho ou se eu tiver que enfrentar duas Feras Divinas ao mesmo tempo? O que você fará então?”

“Nesse caso, arriscaremos nossas vidas para lhe dar tempo para recuperar suas forças e fugir.” O coronel respondeu. “Não sobreviveremos, mas eu posso garantir que as 3.500 pessoas reunidas aqui possam resistir por alguns segundos, independentemente do adversário que enfrentarmos.”

“O quê?” Ao ouvir essas palavras, Lith viu os soldados se tensionarem com medo, mas suas expressões estavam cheias de orgulho por essa reivindicação ridícula.

“Você me ouviu.” Disse Varegrave. “Sabemos que o seu tipo pode se recuperar instantaneamente. Meus soldados e eu nos oferecemos voluntariamente para ser sua espada, seu escudo e, se necessário, sua poção de cura.”

Olhando ao redor, Solus reconheceu os soldados e magos um a um, vinham de todo o Reino e eram pessoas que já haviam conhecido Lith pelo menos uma vez durante suas viagens.

O que ele confundiu com hostilidade, era a dor de sua traição e a tristeza de pensar que não voltariam para suas casas. Para aquelas pessoas, Lith significava a morte de seus inimigos, mas também a deles próprios.

“Afinal, o que são alguns milhares de cidadãos leais do Reino em comparação com uma criatura de 25 metros (82 pés) de altura que pode tecer feitiços com sua mente e se curar de ferimentos incapacitantes em meros segundos? Poeira. Somos apenas poeira.”

O andar de Varegrave se tornou furioso, expressando a frustração que sentia por ser fraco. Todos os anos praticando magia, todas as suas ricas experiências de batalha e suas décadas de serviço ofuscadas por alguém, ou melhor, alguma coisa, com menos de vinte anos.

Os soldados e os magos sentiam o mesmo, balançando a cabeça em sinal de acordo enquanto o coronel falava.

“Bem, garoto, hoje essa poeira fará a diferença. Eu não me importo se você tiver que literalmente jogá-la nos olhos de seus inimigos. Faça o que achar necessário para derrubar o máximo que puder. Fui claro?” Varegrave parou na frente de Lith para encarar seus olhos.

“Senhor, sim senhor!” Lith o saudou, depois se virou para as tropas e repetiu o gesto.

“Agora, o mínimo que você pode fazer por mim é ser honesto. Durante aquela emboscada de sete anos atrás, você matou Velagros para proteger seus pequenos segredos sujos ou ele realmente foi morto em ação?” O coronel perguntou.

“Eu não o matei.” Lith balançou a cabeça. “As Garras nos pegaram de surpresa e massacraram a unidade do Corpo da Rainha. Eu sobrevivi apenas graças às minhas habilidades como um Despertado.”

“Que alívio.” Varegrave suspirou, sentindo como se um grande fardo tivesse sido tirado de seu peito. “Uma última pergunta. Todas aquelas pessoas que morreram no acampamento, você falhou com elas de propósito ou realmente não havia nada que você pudesse fazer para salvá-las?”