Capítulo 2014: O Preço da Mudança (Parte 2)

O exército Real, por outro lado, estava apaixonado pelo pacote completo.

Trocar feitiços significava dobrar o poder ofensivo e defensivo de suas tropas. Se o mesmo princípio pudesse ser aplicado às ferramentas alquímicas, até mesmo a habilidade dos soldados regulares aumentaria muito.

A rede tinha para o exército o mesmo fascínio que tinha para a Associação. Pouparia dinheiro do exército com papel e seria uma ótima ferramenta de ensino. No entanto, o que realmente capturou seu interesse foram os trens.

“O transporte público é ótimo, mas e se criássemos algo menor e melhor blindado com o mesmo núcleo de energia que deve alimentar um trem?” Disse o General Berion. “Os soldados regulares poderiam cruzar os céus e fazer chover morte sobre nossos inimigos.

“Seríamos o primeiro país em Mogar com uma frota aérea e, desde o advento da magia, quem controla o céu também controla o solo. A menos que os outros países desenvolvam uma tecnologia similar por conta própria, seríamos imbatíveis!”

Entretanto, o entusiasmo de cada facção foi abrandado pelas notas amargas que eram as exigências de Lith.

Desculpas públicas pelo que aconteceu com Raaz, a proteção de sua família, igualdade de direitos para todas as criaturas inteligentes aos olhos da lei e a reintegração de Kamila como Policial Real foram as mais difíceis de engolir.

Os Reais faziam muitas coisas, mas nunca se desculpavam. Isso criaria um precedente perigoso.

Proteger a família de Lith agora exigiria muitos recursos. As pessoas ainda estavam com medo da ideia de ter feras como vizinhos e todos sabiam que Lith era Tiamat.

Provavelmente, cada membro de sua família seria hostilizado e o negócio de sua família, boicotado por preconceito. Escrever uma lei e colocá-la em prática todos os dias eram duas coisas completamente diferentes.

Lith havia exigido direitos iguais para Fadas e Feras Imperadores porque sabia que só era uma questão de tempo antes que alguém entendesse que Tista era o Demônio Vermelho. Então poderia ser a vez de Aran, Leria ou até mesmo sua irmãzinha Despertar.

Em vez de fazer cada um deles uma exceção, era muito melhor torná-los a regra, para que até mesmo os filhos de Protetor e Marth estivessem a salvo. Por último, mas não menos importante, ninguém queria um violador de juramentos fazendo cumprir a lei.

Até mesmo falar isso em voz alta soava ridículo, hipócrita e insensato. Qualquer advogado decente só tinha que lembrar o tribunal do passado de Kamila para tornar qualquer prova que ela apresentasse irrelevante.

“Temos certeza de que queremos que nossos filhos cresçam com monstros disfarçados como seus companheiros de brincadeiras?” Disse o Arquimago Lema, Diretor do Grifo de Fogo. “O que diremos a um pai depois que seu filho morrer de uma mordida ‘brincalhona’?

“Não tenho nada contra as outras raças, mas as feras são muito mais fortes do que nós enquanto as plantas têm habilidades regenerativas das quais carecemos. Se começarem a viver nas cidades humanas, as pessoas com certeza ficarão com medo.

“Devemos criar distritos residenciais especiais e escolas para eles.”

“Isso é a maior besteira que já ouvi!” Marth pulou de raiva. “Eu me casei com uma Dríade e ela nunca me machucou. Quando eu era aluno do Grifo Branco, eu me tornei amigo de Feras Imperadores e plantas como todos os meus colegas.

“O mesmo acontece nas seis grandes academias desde sua fundação. Se você tivesse se dado ao trabalho de verificar as estatísticas, o número de incidentes por ano é ínfimo. Além disso, a maioria dos conflitos acontece porque os alunos provocam os habitantes da floresta, tratando-os como você propôs, como monstros!”

“Diretor Marth, eu aprecio seu entusiasmo, mas acho que sua perspectiva é distorcida por suas escolhas pessoais.” Disse a General Setha. “Sua esposa não é humana e seu filho é meio”-

“Você não vai se referir às crianças como animais na minha presença!”  A Rainha bateu o punho na mesa, cortando-a.

“Quero dizer, um híbrido.” Continuou Setha. “O coração do Diretor Marth está no lugar certo, mas ele não está vendo o cenário geral. A proposta do Diretor Lema é a mais razoável, senão a única escolha que temos.

“Não estou dizendo que devemos manter as outras raças restritas para sempre, apenas até que as pessoas se acostumem a elas e elas aprendam a seguir as regras da sociedade humana.”

“Você está dizendo que quer tratar as outras raças como os magos foram antes de Valeron?” A voz do Rei era neutra, mas suas palavras atingiam como um martelo mesmo assim.

No passado, ter talento mágico significava ser adorado ou perseguido. As pessoas temiam o poder dos magos e os culpavam por tudo de ruim que acontecia.

Os nobres exploraram esse medo para negar aos magos qualquer carreira política e mantê-los à margem da sociedade.

Se não fosse por Valeron alistá-los em seu exército e prometer-lhes direitos iguais, o Reino do Grifo nunca teria nascido, Garlen ainda seria como Verendi, e os Arquimagos carregariam títulos vazios sem o direito de possuir terra.

“Concordo com Marth.” Disse a Marquesa Distar. “A ideia de distritos especiais e escolas é idiota. O povo do Deserto convive com bestas mágicas e plantas por séculos.

“O Conselho Despertado prosperou bem debaixo de nossos narizes por milênios graças às suas diferenças, não apesar delas. Não podemos pedir a alguém que arrisque a vida por nós se tiver que se preocupar com fogo amigo tanto quanto com o inimigo.”

“Seria apenas uma solução temporária.” Disse o Arquimago Lema. “Devagar e sempre vence a corrida.”

“E perde a guerra.” Disse o Arcano Ernas com um sorriso. “Thrud levou, o quê, dois anos para montar um exército composto por membros de todas as raças. Meses para conquistar metade do Reino e o coração de seus habitantes, sejam humanos ou não.

“Ainda assim, estamos aqui, perdendo tempo com propostas de manter nossos aliados em prisões dignas e tratando-os como cidadãos de segunda classe. Se quisermos vencer Thrud, devemos ser como ela. Eficientes, organizados e com recompensas baseadas apenas no mérito.

“Verhen é uma Fera Divina, mas até Meln entregá-lo, todos nós teríamos jogado nossas filhas nele. A esposa de Marth é uma presença constante no Tribunal e nunca foi motivo de constrangimento, ao contrário de alguns mimados humanos e mimados como meu próprio filho, Tulion.

“Precisamos parar de ter medo de nossos potenciais aliados e nos preocupar com o que aconteceria se eles se juntassem ao lado de Thrud porque percebem que não estamos oferecendo nada a eles.”

“Concordo com o Arcano Ernas.” Disse o Rei Meron. “Adiamos a reforma do sistema de academias por décadas e o que temos para mostrar por isso? Inúmeros magos desertaram do Reino e Balkor matou milhares de inocentes em sua vingança.

“Não vou repetir o erro de meu antecessor. Digo que devemos arriscar e conceder direitos civis às outras raças.”

“E a Policial Yehval?” Perguntou a General Setha.

“Ela é uma Verhen agora, então também terá um perdão completo.” Disse Sylpha, seu olhar cortando no broto qualquer objeção que os presentes tinham. “Arcano Ernas já concordou em levar a Policial Yehval sob sua asa.

“Arcano Ernas controlará as informações que passam pelas mãos de Yehval e garantirá que seu trabalho esteja acima de qualquer suspeita.”

A ideia de Kamila se tornar uma policial apenas de nome acalmou os medos de nobres e magos.