Capítulo 2000: Harmonia da Dissonância (Parte 2)

Ao contrário dos objetos encantados comuns, os Golems precisavam se mover, seguir ordens e escolher os melhores feitiços de acordo com as instruções que recebiam.

Alimentar até mesmo uma inteligência artificial limitada exigia uma enorme quantidade de energia que nenhum número de cristais poderia fornecer durante uma luta. Os Golems perderiam energia conforme lutassem e precisariam de um longo tempo para recarregar, a menos que fossem fornecidos com uma fonte de energia como uma matriz.

O quarto conjunto de runas prolongava a autonomia deles na batalha e reduzia o tempo necessário para encher suas reservas de mana.

O quinto e o sexto conjunto absorveriam parte da energia cinética e mágica que atingiria os Golems durante uma luta, transformando-os em um campo de energia protetora.

O sétimo e oitavo conjunto tinham propriedades semelhantes, mas funções diferentes. O primeiro transmitiria as ordens telepáticas de Lith e Solus em uma forma que os Golems pudessem entender, enquanto o último substituiria o sistema nervoso.

Embora o Cristal Espiritual funcionasse como um cérebro, ainda precisava de uma forma de operar o corpo que lhe era dado. Ter a astúcia estratégica e a experiência de Lith não adiantava se o Adamant não tivesse as habilidades físicas para pô-los em prática.

O propósito do oitavo conjunto de runas era garantir que o corpo de Adamant e o núcleo de energia respondessem aos comandos do Cristal Espiritual com a velocidade do pensamento. Se feito corretamente, os Golems teriam uma proeza mágica e física sem paralelo.

Nem mesmo um Desperto de núcleo violeta seria capaz de igualar a eficiência de uma criatura que não precisa tecer feitiços e a durabilidade do Adamant purificado. Os únicos pontos fracos dos Golems comuns eram sua curta autonomia e o fato de que seguiam ordens cegamente.

Não importava quão complexo fosse o núcleo de energia deles ou quão detalhada fosse uma ordem, a falta de criatividade de um constructo o tornava previsível, enquanto sua incapacidade de se adaptar ao oponente limitava sua proeza em combate quando o efeito surpresa se perdia.

Transformar o Cristal Espiritual em um cristal de memória resolveu esses problemas. Ao conceder aos golems parte da mente de Lith, o cristal tornaria os padrões de ataque deles imprevisíveis.

O nono conjunto encobriria tanto o núcleo de energia quanto as formações de runas, impossibilitando que qualquer Forjador comum estudasse-as. Qualquer bom mago sabia que tinha que proteger seus segredos antes de vender suas peças.

No caso de um Golem, as coisas eram ainda piores. Se durante uma batalha eles ficassem sem energia, nada impediria um inimigo de arrebatar e estudá-los na segurança de seu laboratório.

Claro, os Golems não podiam ser armazenados dentro de um item dimensional nem perderiam sua marca, mas ainda seria uma grande perda para Lith.

Foi a razão pela qual o décimo e último conjunto de runas não apenas funcionava como um feitiço de rastreamento, mas também fornecia constantemente à torre as coordenadas dimensionais dos Golems em tempo real.

‘Eu queria poder criar algum tipo de mecanismo de autodestruição.’ Lith ponderou. ‘Pena que isso também me custaria a Raiz da Terra e todos os materiais. Pelo menos assim eu sempre tenho a chance de recuperar os Golems e mesmo que sejam roubados, eles ainda podem recarregar com o tempo.’

Quando Lith terminou de tecer a última runa, toda a superfície dos Golems estava coberta de glifos violeta brilhantes que ainda tinham que se fundir com a estrutura de metal a apenas alguns milímetros abaixo deles.

Antes de concluir o procedimento e torná-lo irreversível, Solus usou o sentido de mana da torre junto com os Olhos de Menadion para estudar a interação entre as runas e o sistema circulatório de mana.

Ela e Lith encontraram a posição teórica perfeita para os dez conjuntos, mas não havia como saber se eles falharam em considerar algo. Manter tantas sequências ativas ao mesmo tempo sem deixá-las penetrar no Adamant era uma tarefa gigantesca, mas Lith suportou em silêncio.

Solus demorou-se, deixando os olhos completarem sua análise e depois comparando-a com suas próprias leituras.

‘Droga, não consideramos a pressão de mana exercida pelos cristais. Mesmo com a Raiz da Terra canalizando seu poder, eles ainda criam pequenos campos de distorção para as runas próximas que comprometem-‘

‘Economize a aula para depois!’ Lith a interrompeu. ‘É recuperável?’

‘Sim, mas nós-‘

‘Apenas faça isso!’ Ele tomou fôlego para reabastecer sua energia diminuindo com o Garra do Demônio.

Solus rearranjou as runas mais próximas aos cristais antes de passar para outras. Seus dedos ágeis rearranjaram dez runas de cada vez, fazendo apenas uma breve pausa entre os movimentos para verificar se a harmonia do fluxo de energia não havia piorado.

Quando ela terminou, Lith havia usado Garra do Demônio mais uma vez.

‘Pronto! Desculpe pela espera.’ Solus disse.

Lith respondeu com um suspiro, pois ele finalmente pôde soltar as duas gigantescas formações de energia. Os complexos padrões de runas brilhavam com o resplendor de uma pequena estrela antes de desaparecerem sob a superfície do metal.

‘Na próxima vez, menos conversa e mais ação.’ Um estalar de dedos os levou à Oficina, onde o resto do grupo estava praticando em duas réplicas dos Golems.

Lith se sentia cansado, mas graças à sua ligação com a torre, estava rapidamente recuperando suas forças. Os outros, porém, estavam muito pior. Além de Faluel, estavam cobertos de suor e ou amaldiçoavam quem quer que tivesse gerado Adamant ou ofegavam para recuperar o fôlego.

“O que há de errado?” Perguntou Lith.

“Acho que você calculou errado.” A Hidra ofereceu-lhe uma esfera de energia brilhante para estudar. “Você deveria ter dado a eles uma seção de núcleo de energia adequada não apenas ao núcleo de mana deles, mas também à habilidade deles.”

“Foi exatamente o que eu fiz.” Solus respondeu. “Eu atribuí a cada um de vocês apenas o que vocês deveriam ser capazes de lidar. Eu até deixei um espaço para manobra.”

“Então, ou você superestimou as pessoas ou elas exageraram seu talento ao trocar pontos de Forgemestre com você.” Faluel deu de ombros.

Lith verificou o núcleo parcial, descobrindo que a Hidra havia seguido suas instruções à risca e até melhorado o resultado final. As runas que formavam a esfera de energia estavam densamente compactadas e os espaços vazios deixados para outros preencherem não a desestabilizavam.

“Eu não exagerei nada.” Quylla disse entre ofegos. “Solus me atribuiu um núcleo parcial que eu posso criar. O que ela não levou em consideração é que eu nunca trabalhei com algo dessa complexidade.

“Manter tanta energia estável por um tempo consome muito da minha energia, especialmente depois que é amplificada pelo Adamant.”

“Talvez eu tenha exagerado um pouco. Talvez-” Um arroto cortou o Protetor pouco antes de vomitar devido ao cansaço.

“Eu não sei qual é o meu problema, só sei que isso é demais para mim.” Friya largou sua Fúria no chão antes de erguer as mãos em rendição. “Assim que o processo de amplificação começa, leva tudo de mim para não fazer o núcleo parcial estourar.”

“Igual.” Phloria encostou-se à parede. “Nem todos aqui têm as Mãos de Menadion.”

“Pessoal, vocês não precisam deixar a amplificação começar.” Solus revisou suas anotações no Soluspedia e as confrontou com as da Biblioteca.

“Por quê?” Disse Tista, com a voz reduzida a um sussurro.