Capítulo 1960: Chamas do Flagelo (Parte 2)

Enquanto Lith usava a projeção corporal e mental para tecer seus feitiços, ele também deu uma respiração profunda. Seus olhos negros e prateados se acenderam, dividindo a luz do elemento escuridão na energia mundial e enviando-os em direções diferentes.

A luz negra se moveu da boca do Tiamat até sua garganta e entrou em seus pulmões, irrompendo entre as escamas à medida que percorria seu corpo. A luz prateada, em vez disso, se moveu para o coração e de lá se concentrou nas asas emplumadas em seus quadris.

Quando Lith abriu a boca, uma explosão de Chamas do Vazio saiu dela enquanto um fluxo prateado de Chamas do Flagelo irrompeu de suas asas.

As Chamas Originais infectadas respectivamente por Caos e Decomposição se moveram tão rápido quanto uma bala, atingindo duas unidades Despertas diferentes cujos membros estavam lutando costas a costas contra o exército de sombras.

As Chamas do Vazio explodiram no impacto, gerando uma onda de choque que lançou os Despertos pelos ares. O fogo negro queimava tudo do lado de fora, corroendo sua carne, auras e equipamentos.

As Chamas do Flagelo, no entanto, atravessaram a escuridão do Vazio, permitindo que suas vítimas perplexas vissem o que estava acontecendo ao redor delas. Eles acreditavam que um de seus aliados estava ajudando-os a se livrar rapidamente dos Demônios.

Ou foi o que pensaram até perceberem que a luz cegante estava comendo-os por dentro enquanto fortalecia as sombras a cada segundo. A Decomposição era apenas alimento para os Demônios e morte para qualquer outra coisa.

O fogo prateado queimava e curava-os ao mesmo tempo, consumindo a carne, o metal e os encantamentos apenas para forçá-los a se recuperar um segundo depois. Eles não causavam dano, mas infligiam um grande fardo não apenas na força vital de suas vítimas, mas em seus núcleos também.

Curar e consertar drenaram a energia, respectivamente, do mana e dos núcleos de energia.

Lith sempre foi capaz de usar as Chamas do Vazio, então aprender a conjurar o Flagelo foi como uma segunda natureza para ele no momento em que ganhou sua segunda asa emplumada.

Usar duas Chamas Amaldiçoadas ao mesmo tempo exigia a ajuda de seus olhos, mas também diminuía o peso sobre sua força vital. Ele não precisava injetar parte de seu lado Abominação nas Chamas Originais porque agora tinha uma forma de conjurar o Caos com a energia mundial e direcionar com segurança a Decomposição que o processo criava.

Ele deu outra respiração profunda, pronto para soltar uma segunda saraivada de Chamas Amaldiçoadas gêmeas quando algo o atingiu em cheio no peito. O impacto foi forte o suficiente para levantar o Tiamat do chão e imbuído de tanto mana que perfurou seu peito, apesar da Armadura do Andarilho do Vazio.

‘Que porra?’ Lith pensou enquanto sangue borbulhava de sua boca e o Chamado do Vazio desaparecia.

Para sua surpresa, ambas as unidades que ele havia atacado pareciam cansadas, mas ilesas. Bastaria a eles apenas algumas respirações de Invigoração para retornar ao seu estado máximo.

‘É pior do que eu pensava.’ Zoreth disse a ele por meio da ligação mental que haviam estabelecido com antecedência. ‘Não são muitos, mas todos podem usar tanto a Aniquilação da Silverwing quanto o Bastião! É por isso que eles formaram unidades de sete homens.’

Lith não tinha ideia do que ela estava falando, mas graças ao Monóculo de Menadion que ele compartilhou com Solus, ele conseguiu não apenas refazer o momento em que havia sido derrubado como também analisar os feitiços desconhecidos.

Aniquilação e Bastião faziam parte do legado que Lochra Silvering, o Primeiro Mago, tinha espalhado por Mogar. Eles exigiam que sete Despertos de núcleo violeta fossem conjurados porque cada um deles invocaria e ajustaria um elemento diferente.

Eles eram conhecidos como feitiços anti-Guardiões, destinados a permitir que os Despertos enfrentassem um Guardião enlouquecido ou pelo menos sobrevivessem ao encontro. Seu poder igualava o dos feitiços de Camada de Lâmina, mas, ao contrário deles, não tinham requisitos específicos.

Qualquer pessoa qualificada poderia usar o Bastião e a Aniquilação.

Os grupos Despertos haviam usado o primeiro para resistir às Chamas Amaldiçoadas e o último para derrubar o Tiamat. Essas formações eram o procedimento padrão do Conselho ao lidar com Bestas Divinas.

Claro, até mesmo as Bestas Divinas podiam usar esses feitiços, mas enquanto os membros do Conselho viviam em comunidade, a prole dos Guardiões vivia sozinha. Era raro encontrar dois deles, quanto mais sete e dispostos a cooperar.

Tanto as Chamas quanto o Vazio falharam em ferir os Despertos, mas o plano ainda foi um sucesso.

Senara só percebeu o desaparecimento de Solus e dos outros quando o véu da escuridão desapareceu. Durante aquele tempo, eles haviam terminado de preparar seus feitiços e se posicionaram atrás das linhas inimigas para atingi-los no ponto cego que o Chamado do Vazio havia criado.

Além disso, a escuridão que havia roubado os sentidos dos Despertos também havia sido a única coisa que manteve-os a salvo das Abominações. Agora que Bytra e os outros podiam vê-los novamente, o contra-ataque começou.

Solus conseguia enxergar através do Vazio, então já havia desferido seu primeiro golpe. Ela ativou um dos poderes de sua Fúria, a Chuva Ardente. Depois de atirar o martelo, ele se dividiu em nove cópias, com os cristais de mana de um vermelho intenso.

As gemas místicas sugaram a energia mundial, amplificando o elemento fogo ao extremo até que as Fúrias foram envolvidas pelas chamas. O calor aumentou, fazendo com que os martelos ficassem vermelho-sangue até branco-pristino, enquanto voavam entre os inimigos sem tocá-los.

Então, uma vez que as Fúrias alcançaram seu verdadeiro alvo, elas explodiram em inúmeros fragmentos flamejantes. A Chuva Ardente transformou os nove martelos em estilhaços de Davross branco-quente que atacavam os Despertos de todos os lados.

O feitiço atravessou as proteções e a carne, fazendo ferver o sangue de suas vítimas. Os soldados Despertos haviam formado círculos, apoiando-se uns nos outros para proteger suas costas, mas o Vazio os cegou e eles não conseguiram ver as Fúrias voando no meio de sua formação.

A própria técnica que deveria permitir que se defendessem no momento certo maximizava os efeitos da Chuva Ardente, atingindo nove unidades de sete homens ao mesmo tempo quando ainda estavam agrupados.

Quando o Chamado do Vazio começou a desaparecer, Zoreth e Bytra correram em meio aos Despertos que rolavam no chão. Os soldados de elite tentavam apagar as chamas enquanto também usavam suas técnicas de respiração para curar antes que fosse tarde demais.

A luva na mão de Zoreth estendia os dedos em garras de metros de comprimento que cortavam cinco cabeças de cada vez com um simples movimento de pulso. O novo Perfurador do Céu era feito de Adamant e estava tão fortemente encantado que não tinha problemas para cortar as armaduras encantadas danificadas.

Solus notou como se parecia com as Mãos de Menadion e se perguntou o quanto Bytra sabia sobre o trabalho de sua mãe. Havia muitas coisas que a Raiju poderia ensiná-la, se ao menos Solus conseguisse suportar sua presença.

Enquanto Zoreth ceifava vidas Despertas como trigo maduro, Bytra lançou a Absolvição. O martelo encantado se dividiu em oito cópias exatas que foram envoltas em energia do Caos, desencadeando a versão da Ruína do antigo feitiço Hammerfall da Fúria de Bytra.