Capítulo 1955: Subindo de Ranking (Parte 1)
“Nesse ponto, não importa o quanto demore, eu encontrarei a Boca de Menadion e a darei a você, Solus”, disse Bytra.
***
Reino do Grifo, acima de um gêiser de mana na região de Nestrar, Grifo Dourado.
Thrud ia várias vezes ao dia verificar as cápsulas da Loucura de Arthan, onde seus generais estavam sendo injetados com o ambrosia para se tornarem Feras Divinas. A academia era automatizada e Hystar checava seus vitais 24/7, pronta para alertá-la caso algo desse errado.
Mas isso ainda não era suficiente para manter Thrud calma.
Depois de passar tanto tempo com aquelas Feras Imperadores antes do início da guerra, sendo sua mentora, amiga e líder, eles se tornaram mais do que meros soldados no coração da Rainha Louca.
Eles tiveram inúmeras oportunidades para desertar uma vez fora do Grifo Dourado ou sempre que ela removia os efeitos do array da Lealdade Inabalável de seus corpos. Em vez disso, serviram-lhe fielmente, colocando coração e alma em seu plano mestre, como se o sonho de vida dela fosse o deles.
Seus soldados geralmente voltavam do campo de batalha com corpos desfigurados e deixavam a academia após uma única noite de sono.
Até mesmo quando enfrentavam um dos velhos monstros do Conselho Despertado, lutavam até seu último suspiro e apareciam na câmara de regeneração da academia depois de serem despedaçados.
Nenhum dos campeões da Rainha Louca havia colocado sua própria dor acima da missão, sacrificando-se, repetidamente, não importando o quão traumático seria a sua morte. Thrud os considerava seus amigos, pessoas com as quais ela queria compartilhar a vitória final e seus despojos.
Ela se sentia responsável pelas vidas que haviam mais uma vez confiado a ela sem pensar duas vezes, e esse peso quase a esmagava. Thrud sabia o quão perigoso era o procedimento e ajustou as configurações da Loucura o mais lento e estável possível.
As Feras Imperadores geralmente eram maiores que um humano, mas em comparação com uma Fera Divina, eram meros filhotes. Para que seu corpo crescesse tanto em tamanho, para desenvolver músculos fortes e ossos capazes de sustentá-lo, geralmente precisavam da ajuda de Mogar.
Era o planeta que rearranjaria o corpo de uma criatura em evolução, garantindo que seus órgãos não entrassem em colapso devido ao esforço e mantendo suas proporções perfeitas.
Mogar, no entanto, não iria ajudar os soldados de Thrud e cabia à Rainha Louca garantir que tudo corresse sem problemas. Um pequeno erro e seus generais surgiriam com corpos imperfeitos.
O procedimento de Xedros tinha demorado metade disso, mas quando ele saiu de sua cápsula, sua nova massa era a mesma de um Dragão não despertado, sem nenhum traço de aprimoramento corporal, e ele morreu por causa disso.
Iata e os outros, ao invés disso, desenvolveram seu novo corpo devagar, permitindo que eles usassem a Acumulação durante todo aquele tempo e filtrando as impurezas de sua carne e ossos no momento em que se formaram.
Assim como quando ela deu à luz a Valeron, quanto mais o dia final se aproximava, mais ansiosa ela ficava. A Loucura não era seu útero, mas ainda assim era o trabalho de vida de Thrud e o legado que seu pai havia lhe confiado.
Seus generais estavam prestes a renascer através de sua própria versão da Loucura e isso os tornava seus filhos também.
Agora que os temporizadores contavam os minutos até que as cápsulas se abrissem, ela não conseguia parar de andar nervosamente diante da linha das Loucuras de Arthan, mordendo as unhas de frustração.
“É assim que um pai se sente?”, ela pensou em voz alta. “Completamente impotente enquanto aguarda o lançamento dos dados?”
“Acalme-se, mãe. Tenho certeza de que tudo vai ficar bem. No pior dos casos, o array da Lealdade Inabalável irá consertá-los”, disse Protheus, o Primeiro Doppelganger.
Ele parecia uma mistura de Thrud e Jormun, com olhos prateados e cabelo verde claro. As características andróginas de seu corpo humano tornavam difícil entender seu gênero, e normalmente ele não tinha nenhum.
Protheus tirava de seu padrasto quando precisava consolar sua mãe ou brincar com Valeron, enquanto tirava de Thrud quando tinha de lidar com as tropas.
“Você não entende, Protheus.”, ela balançou a cabeça. “No pior dos casos, eles ficarão presos em corpos defeituosos que farão com que a vida deles seja um pesadelo eterno. Dor crônica, demência e loucura são apenas alguns dos-”
O som do líquido enchendo as cápsulas sendo drenado disse a Thrud que o procedimento acabou e o medo a interrompeu. O barulho das cápsulas enquanto o ar as enchia parecia os passos do algoz para ela.
À medida que as trancas de segurança eram liberadas uma de cada vez com um clique, Thrud ficou tão nervosa que se cobriu de suor frio, ansiosa para saber se anos de preparação e quase um mês de cuidados maternais tinham valido a pena.
“Bom dia, minha majestade.”, disse Iata a Escorpicore, saindo da cápsula em sua forma humana. “Ou já é noite? É difícil acompanhar o tempo aqui dentro.”
“Quem é que se importa com a hora e o clima? Só me diga como você se sente.”, disse Thrud a ela, usando sua técnica de respiração, Fluxo Regal, para verificar a condição de cada um de seus generais.
“Me sinto incrível.”, respondeu Iata. “Tudo o que eu preciso é de uma refeição de verdade e estarei pronta para treinar com meu novo corpo. Estou cansada de beber essa gosma.”
“Bobagem.”, Thrud balançou a cabeça. “O treino pode esperar, você precisa descansar!”
“Passamos o último mês dormindo na maior parte do tempo!”, disse Ufyl a Hydra. “Se eu ver uma cama ou uma maldita banheira, vou enlouquecer. Estive tão encharcada por tanto tempo que um pouco de sujeira e suor soam bem.”
“Não se preocupe, mamãe, ficaremos bem.”, disse Leari o Pássaro de Fogo com um tom de deboche. “Eu prometo que no momento em que sentirmos que algo está errado, diremos a você. As últimas semanas pareciam a morte. O que precisamos agora é viver um pouco.”
A palavra atingiu a Rainha Louca como um soco no estômago, deixando-a imóvel até que todos eles saíram da sala em busca de comida e companhia. Eles haviam passado muito tempo confinados em uma cápsula transparente sozinhos e os estômagos deles não eram a única parte do corpo que exigia o que lhe era devido.
“Deuses, eles crescem tão rápido.”, disse Thrud enquanto uma lágrima silenciosa escorria por seus olhos.
“Sim.”, respondeu Jormun, enquanto carregava o bebê em seus braços e entregando Valeron a ela para acalmá-la. “De 20 (66′) a 30 (100′) metros em um mês é um belo crescimento.”
“Aproveite seu tempo e desfrute de ser um garoto, Valeron.”, disse ela enquanto embalava o bebê. “Os adultos têm muito trabalho e sacrifícios a fazer.”
O Doppelganger olhou para a cena familiar e a Loucura com inveja. Todos estavam se tornando mais poderosos enquanto seu núcleo de mana acabara de entrar no verde. Com tantas Feras Divinas em potencial, Protheus temia que agora tivesse se tornado irrelevante.
A morte não o assustava comparado à ideia de ser deixado de fora da guerra e de assistir impotente à margem.
Thrud percebeu seu descontentamento e deu um tapinha em seu ombro.
“Não se preocupe, meu filho. Ainda temos muito a fazer.”