Ligada a um Inimigo - Capítulo 92
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92: Você Está Errado 92: Você Está Errado Ashleigh debatia com os eventos dos últimos dias. O tempo estava embaralhado em imagens sobrepostas e memórias desconexas. Cada momento se entrelaçava com outro até que ela mal podia distingui-los.
O que era real? O que ela havia imaginado?
Bell lhe disse repetidamente que a doença havia alterado seus humores, memórias, até mesmo seu raciocínio. O que ela fez ou disse enquanto isso acontecia não era culpa dela.
No entanto, as coisas que Ashleigh conseguia se lembrar a preocupavam. Havia uma imagem de Galen no chão, seus olhos com dor. Sangue na mão dele.
Caleb fizera seu pulso acelerar; ela havia ficado no frio desesperadamente esperando por ele. Sua mente tinha sido consumida com o medo de que ele a culparia pela lesão de Galen.
E então ele a apunhalou no coração.
“Não…” Ashleigh sussurrou para si mesma, balançando a cabeça. “Isso não foi real.”
Ela se levantou da cama e foi para o banheiro. Primeiro, jogando água fria no rosto para ajudar a se concentrar. Depois, olhando nos próprios olhos no espelho, ela tentou organizar seus pensamentos.
“Meu coração parou”, ela disse calmamente, “real.”
“Eu fui… apunhalada… no coração, não é real.” Mesmo sabendo que era um sonho, as palavras eram difíceis de dizer. E o medo que Ashleigh sentira era ainda muito real.
Granger surgiu em sua mente, olhando para ela, seu rosto coberto de hematomas no quarto do hospital.
“Real”, ela disse, tristemente.
“Juro, Ash, eu achei que era uma flecha de treino! Eu só queria surpreendê-lo, acertá-lo e fazê-lo perder a concentração o suficiente para que eu pudesse escapar. Eu não queria machucá-lo! Não de verdade.” As palavras de Granger, e as lágrimas que ele derramou com elas, entraram em sua mente.
“Real?” ela disse, insegura do porquê essa era uma pergunta.
Uma calor se espalhou em seu corpo, uma memória subindo à superfície.
“Estou aqui com você, Ashleigh”, Caleb sussurrou suavemente contra sua garganta, sua respiração quente fazendo cócegas em seus nervos e enviando mais uma onda de prazer que atingia até os dedos dos pés.
Sua boca pressionava beijos delicados atrás da orelha e descia pela nuca, fazendo surgir pequenos suspiros e gemidos de deleite dela.
Ela inalou profundamente, segurando a bancada firmemente enquanto seus joelhos enfraqueciam com as ondas de calor que percorriam seu corpo.
“Não… real…”, ela sussurrou pesadamente, de olhos fechados.
Mais uma vez, Ashleigh jogou água no rosto para recuperar os sentidos.
“Isso não está me levando a lugar nenhum”, ela rosnou para si mesma.
Ficar em seu quarto e dissecar cada memória ou imagem que encontrava seu caminho em seus pensamentos era inútil. E a irritava. Ela precisava respirar.
Ashleigh rapidamente trocou de roupa para seu equipamento de treino. Neste horário do dia, era certo que haveria alguém no campo de treinamento. Logo, ela precisava de uma sessão de treino.
O ar frio a caminho do campo de treinamento foi refrescante. A brisa parecia pequenas agulhas colidindo com sua pele, cada picada dolorida a acordando um pouco mais do estado confuso de sua mente.
Ela chegou ao campo de treinamento a tempo de ver os lobos mais jovens terminando sua sessão.
Sua mente viajou de volta no tempo para o que parecia ser uma vida atrás, embora na verdade fosse apenas alguns anos. Para todos os treinos, as sessões extras, os ossos quebrados. Quando seus colegas corriam livremente pela floresta, ela estaria aqui, treinando.
Ashleigh tinha treinado mais duro do que a maioria dos outros lobos. Seu tempo na encosta da montanha na tempestade de neve havia gravado uma realidade dura em sua alma. Apenas o forte sobrevive.
Desde o momento em que voltou, ela passou todo o seu tempo treinando. Lutando para ser a mais forte, a melhor.
O coelho que havia salvado sua vida, alimento para conseguir descer a encosta da montanha. Todos esses anos, ela acreditou que era um sinal, uma mensagem da Deusa. O coelho fraco havia morrido na tempestade de neve, enquanto Ashleigh, o lobo, havia sobrevivido.
Por pouco.
Essa era a base de sua mentalidade como uma Guerreira Fria, como uma Berserker. Para abandonar sua fraqueza. Para nunca mais sentir a presença iminente da morte esperando por ela na sombra de seus fracassos. Mas, em vez disso, para agarrá-la pelo pescoço e escolher viver. Assim como ela fez com o coelho.
Mas ela sabia a verdade agora.
O coelho não havia sido uma mensagem da Deusa sobre a força da sobrevivência. Em vez disso, foi um presente de Caleb. O menino que temia o lobo mas mesmo assim o alimentou.
“Eu não me salvei naquele dia. A Deusa não me salvou…” ela pensou consigo mesma, “Caleb fez, e ele nem mesmo sabe disso.”
“Ashleigh”, uma voz reconhecível a chamou.
Ashleigh se virou para encontrar Saul atrás dela. Eles se cumprimentaram silenciosamente.
“O que você está fazendo aqui?” Ashleigh perguntou, “Você ainda não está de licença?”
“Estava”, ele disse, “mas eu sou o próximo Berserker classificado depois de você.”
Ashleigh olhou para ele com confusão.
“E daí?” ela disse.
“Então, sou a escolha lógica para te substituir”, ele respondeu.
“Me substituir?” Ashleigh perguntou, incerta do que ele queria dizer. Ela se perguntou se havia esquecido algo. “Para quê?”
“Treinar o Alfa Caleb.”
Ashleigh deu um passo para trás, surpresa, confusa.
“O quê?”
Agora era Saul quem parecia confuso.
“Recebi ordens do Alfa Wyatt ontem à noite”, respondeu Saul, “Eu vou tomar o seu lugar no treinamento do Alfa Caleb como um Berserker.”
“Mas eu tenho a classificação mais alta.”
“Sim, eu sei.”
“O acordo entre nosso povo era que o Alfa Caleb sendo o seu guerreiro mais forte, me treinaria. O que ele fez”, Ashleigh afirmou. “E nosso Berserker de maior classificação deveria treiná-lo.”
“Sim, eu sei”, Saul suspirou.
“Eu tenho a classificação mais alta.”
Saul não respondeu, apenas levantou a sobrancelha.
“Eu não entendo.”
Ashleigh cruzou os braços, irritada e com raiva.
“Eu não sei porque a tarefa foi dada para mim, só sei que foi”, Saul respondeu.
Saul se moveu em direção ao campo de treinamento. Ele parou logo depois de passar por ela. Ele respirou fundo e então se virou para ela.
“Se eu tivesse que adivinhar”, ele disse, despertando o interesse de Ashleigh. “Eu diria que talvez as ações de Granger e sua conexão com ele criaram uma situação que o Alfa Wyatt sente que poderia se tornar um problema.”
“Ações de Granger?” Ashleigh questionou. Sentindo-se imediatamente irritada com a escolha de palavras dele.
Saul assentiu.
“Eu não sei o que você ouviu, mas Granger foi a vítima! Galen atacou-o sem motivo!” Ashleigh gritou defensivamente.
Saul olhou para ela. Ele queria simplesmente ir embora, não se importava em se envolver, assim como não havia querido falar com Granger naquela noite. Mas ele não podia. Não quando pessoas boas estavam sendo falsamente acusadas.
“Você está errada.”
“O quê?” Ashleigh ficou surpresa. Ela esperava que ele fosse embora. Talvez um resmungo como resposta no máximo.
“Eu não sei o que você ouviu”, afirmou Saul. “Mas você está errada se acredita que Galen estava sem provocação ou que Granger foi vítima.”
“Não, Granger me contou–”
“O que ele quis que você ouvisse”, Saul interrompeu, agora também se sentindo irritado.
Saul se aproximou de Ashleigh. Ele ficou diante dela e tentou mostrar que não tinha motivos, apenas a verdade através de suas palavras e ações.
“Eu estava no campo de treinamento naquela noite. Vim falar com ele sobre alguns dos homens sob seu comando e o comportamento deles.”
“Sim, ele me contou.”
“Contou?” Saul questionou, “Ele te contou a resposta dele?”
Ashleigh não entendeu, “ele disse que iria falar com os homens sobre o problema.”
“Não”, disse Saul secamente.
“Talvez você tenha entendido mal–”
“Não há mal-entendido”, Saul disse, não tentando mais controlar sua irritação. “Granger não só não se importava com o comportamento inadequado de seus homens, mas também os incentivava.”
“Isso não é possível”, Ashleigh balançou a cabeça, sentindo o café da manhã revirar em seu estômago.
“Eu vi o Beta Galen se aproximando enquanto nossa conversa estava ficando inapropriada”, continuou Saul. “Eu dei a Granger mais uma oportunidade de mostrar qualquer tipo de respeito a alguém. Em vez disso, ele escolheu insultar o Alfa Caleb e revelar seu verdadeiro caráter para mim.”
“Como ele insultou Caleb?” ela perguntou sem querer.
“Ele disse que o Alfa Caleb era ‘mais um lobo que precisa aprender a não tocar no que não lhe pertence'”, Saul soltou um grunhido de nojo. “Eu sabia que o Beta Galen ouviu suas palavras. Eu sabia o que viria a seguir. Então, eu avisei Granger que ele receberia uma lição em respeito antes de me afastar.”
Ashleigh levou a mão à boca, sentindo-se mal. Tudo que Granger havia contado a ela sobre aquela noite era uma mentira distorcida. Ela acreditou nele; lançou acusações a Galen sem pensar. Machucou-o, machucou Caleb.
Por nada.