Ligada a um Inimigo - Capítulo 778

Capítulo 778: Presumi que nunca iria terminá-lo

Ashleigh olhou fixamente para o edifício. Era, inegavelmente, uma casa.

Coberta por várias pedras cinzas e madeira escura. Luzes com um brilho suave alaranjado em diferentes lugares ao redor dela.

Havia três níveis que ela podia ver. O primeiro não tinha janelas e duas grandes portas com painéis que davam para o caminho que levava até ela.

Ao lado do primeiro andar havia uma grande e larga escadaria que levava à entrada do segundo andar. Portas duplas, de madeira escura com painéis de vidro fosco. Diretamente acima do primeiro andar sem janelas, havia três janelas. Cada uma era grande o suficiente para que ela e Caleb pudessem ficar lado a lado dentro delas.

Acima do segundo andar havia um terceiro. Este era menor que os outros, mas essa não era a única diferença. Este, Ashleigh reconheceu.

Era estranho. Ela só havia estado do lado de dentro, não sabia exatamente como o reconheceu olhando do lado de fora, mas reconheceu.

E Caleb também.

“Isso é….”

Ashleigh ouviu Caleb sussurrar em descrença. Ela se virou para vê-lo olhando para o terceiro andar. Seu peito subia e descia em rápidas respirações.

“Então…” a voz de Fiona chamou por trás dele, “você está surpreso?”

Ashleigh olhou além dele para Fiona, que sorriu de volta para ela.

“Isso é…!” Caleb gritou.

O peito de Ashleigh apertou quando ela sentiu sua confusão, dor e alívio.

Fiona sorriu e deu um passo na direção de Caleb.

“Não havia como salvar a árvore,” ela disse tristemente.

Ela olhou além de Caleb, captando o olhar de Ashleigh.

“Mas isso, eu consegui fazer.”

Ashleigh inspirou bruscamente. Ela fechou os olhos com a picada familiar de suas lágrimas e se abaixou em posição de cócoras enquanto suas pernas quase cederam sob ela.

Ela pensou que Fiona tinha destruído tudo. Pensou que tudo havia sido jogado fora.

Ashleigh colocou a cabeça em suas mãos. Ela respirava devagar e profundamente. Mas a dor em seu peito era intensa, e as vozes em sua memória eram muito altas.

‘Estou surpresa que você não tenha derrubado já.’

Ashleigh fez uma careta ao som de sua própria voz.

‘Na verdade, estou surpresa que você não tenha queimado para a vigília.’

Como ela pôde dizer aquilo? Como pôde pensar aquilo?

Ashleigh afastou as mãos do rosto e olhou para o andar superior. Seu coração doeu ao pensar em todas as memórias que ela e Caleb compartilharam lá. Do futuro que cada um deles sonhou.

“Como?” Caleb finalmente perguntou. Ele se virou para olhar para as ruínas de seu santuário. “Achei que você tivesse dito que estava destruída. Eu vi o buraco no chão…”

Fiona se aproximou dele, sorriu e pegou sua mão.

“A árvore estava morrendo. Se eu a tivesse deixado sozinha, a casa teria sido destruída,” Fiona começou. “Mas, em vez disso, eu pedi a uma equipe que removesse a árvore e depois desmontasse a casa, peça por peça, antes que estivesse completamente apodrecida.”

Ela respirou fundo e olhou para a casa.

“Eu não tinha certeza se conseguiria remontá-la. A estrutura principal foi projetada para ser alojada e sustentada por aquela árvore… mas encontramos uma maneira após muitos designs e um pouco de reestruturação.”

Caleb respirou fundo e soltou uma leve risada.

“Isso é…” ele começou, mas não conseguiu terminar a frase.

O dia em que visitou a cratera deixada por seu antigo santuário foi um dos piores dias da vida de Caleb. Tantas mudanças e tantos finais. Ele tinha certeza de que poderia manter os olhos no futuro, de que poderia superar qualquer coisa que tivesse perdido com facilidade. Mas naquele dia, enquanto olhava para aquele buraco vazio, foi abalado em seu âmago.

Agora, enquanto olhava para aquele andar superior, sentiu algo dentro de si. Um brilho, um calor, uma flor.

Não era sua casa na árvore. Não era seu refúgio secreto onde ele podia se esconder das coisas que o sobrecarregavam.

Era diferente, estava mudado, como tudo mais. Mas, de alguma forma, parecia que ele havia encontrado seu ponto de ancoragem.

“Por que você não me contou?” Ashleigh perguntou, sua voz mal acima de um sussurro.

Ela olhou para Fiona, lágrimas descendo por seus olhos com uma expressão dolorida no rosto.

Caleb abaixou os olhos ao ouvir o som pesaroso em sua voz. Só então percebeu o quanto Ashleigh parecia impactada pela revelação. Moveu-se para ir até ela, mas Fiona apertou sua mão e o puxou de volta.

Ele hesitou, olhando para sua esposa encolhida no chão. Ele engoliu em seco e acenou para sua mãe, confiando que isso precisava ser resolvido entre elas.

Fiona soltou a mão de Caleb, caminhou para frente e estendeu a mão para Ashleigh.

Ashleigh engoliu em seco e pegou a mão de Fiona, levantando-se. Elas olharam nos olhos uma da outra. Um par estava cheio de emoção pura. O outro estava calmo, em paz.

“Não vou mentir,” Fiona começou, um sorriso gentil nos lábios, “na noite em que te contei sobre a árvore, fiquei bastante zangada com sua resposta.”

Ashleigh baixou os olhos e acenou com a cabeça.

“Eu não te culpo,” ela sussurrou.

“Bom,” disse Fiona, “porque eu planejava dizer que queria encontrar uma maneira de preservar a casa, mas em minha raiva infantil não quis compartilhar nada com você depois que você foi embora.”

Fiona olhou para o andar superior.

“Levou semanas para desmontá-la e meses para encontrar uma maneira de remontá-la,” ela continuou. “Nesse tempo, você estava se enterrando em missões, e Galen e eu estávamos lutando para impedir que o Verão implodisse…”

Ela respirou fundo.

“Mas eu não estava pronta para deixar ir meu filho, ou você, ou o futuro que vocês poderiam ter juntos,” Fiona disse. “Eu projetei este lugar para quando você o encontrasse e o trouxesse de volta para nós.”

Ashleigh engoliu em seco.

“Não mais uma base secreta, foi feita para ser uma casa,” Fiona sorriu. “Privada o suficiente para criar um espaço fora da alcatéia, mas ainda mantendo vocês conectados. Grande o suficiente para vocês dois e… qualquer outra pessoa que viesse junto.”

Por trás delas, Caleb soltou uma leve risada ao ouvir o desejo de sua mãe por um neto.

“A estrutura principal foi finalizada algumas semanas antes de Galen se tornar Alfa,” Fiona disse. “Quando tudo estava feito, eu planejava contar para você. Mas até então, não queria colocar nenhuma pressão sobre você, Ashleigh.”

Ashleigh respirou fundo.

“Então Galen se tornou Alfa…” Fiona suspirou. “Bem, depois disso, deixei a casa de lado. Presumi que nunca a terminaria, então não havia mais razão para te contar nada.”

Ashleigh entendeu o raciocínio de Fiona.

Ashleigh magoou muitas pessoas com todos os seus comentários raivosos e amargos. Não era mais surpresa que houvesse coisas que ninguém queria compartilhar com ela, não quando ela deixou tão claro que não se importava.

“Sinto muito,” disse Fiona, tocando no ombro de Ashleigh. “Mesmo que não pudéssemos nos entender, não pudéssemos lamentar ou ter esperança da mesma maneira… Eu gostaria de ter sido mais clara sobre como me sentia… que eu poderia ter te deixado saber que você não estava sozinha, mesmo quando pensou que estava.”

Ashleigh respirou fundo e puxou Fiona para um abraço apertado.

“Sinto muito,” ela sussurrou. “Por tudo…”

Fiona deu uma risadinha e deu um tapinha suave nas costas de Ashleigh.

“Está tudo bem,” ela sussurrou. “Vamos superar isso juntas desta vez.”