Ligada a um Inimigo - Capítulo 777
Capítulo 777: Isso, eu poderia fazer
“Sobre o que você e Peter estavam falando?” Caleb perguntou enquanto descansava o queixo no ombro de Ashleigh e envolvia suas mãos em volta da cintura dela.
Ashleigh sorriu e acenou para Peter e Myka enquanto eles saíam da sala.
“Havia alguns sentimentos preocupantes vindo de você,” Caleb sussurrou, esfregando-se contra o lado da sua cabeça. “Eu estava preocupado.”
Ashleigh se apoiou nele e soltou um suspiro.
“Estou bem,” ela disse suavemente, levantando a mão para descansar sobre a dele. “Era um pedido de desculpas muito atrasado da minha parte. Felizmente, Peter estava disposto a ouvir e foi muito mais generoso do que eu teria sido.”
Caleb sorriu.
“Só consigo mesma,” ele disse.
Caleb se afastou e a virou para encará-lo. Ele repousou suas mãos nos quadris dela e sorriu para ela ternamente.
“Você é teimosa e guarda rancor,” ele disse.
Ashleigh levantou uma sobrancelha.
“Espero que isso esteja indo a algum lugar…”
Caleb riu.
“Está,” ele assentiu. “Como eu disse, você é teimosa e guarda rancores… mas é alguém que perdoa, mesmo que ache que não vai ou insista que não vai.”
Ashleigh respirou fundo, desviando o olhar dele.
“Eu não sei,” ela suspirou. “Acho que ninguém mais concordaria com você.”
Ele ergueu a mão e moveu a mecha de cabelo teimoso que havia caído sobre seu olho para trás da orelha.
“Pergunte à Alice,” Caleb sorriu.
Ashleigh franziu a testa.
“Alice provavelmente é a mais propensa a concordar comigo neste tópico…” ela disse.
“Acho que você ficaria surpresa,” ele sorriu.
Ashleigh revirou os olhos. Nos últimos dias, ela percebeu que Caleb, assim como Alice, observava as pessoas de uma forma que ela simplesmente não conseguia entender. Ele via coisas que ela não podia. Entendia o significado por trás de palavras que nunca foram ditas.
Era frustrante.
“Tudo bem,” ele disse, tocando seu queixo afetuosamente, “não fique chateada comigo. Eu só quis dizer sobre você ter dito que não consegue ser tão generosa quanto Peter. Eu não acho que isso seja verdade. Acho que você tem muito mais compreensão do que se dá crédito… só não consigo mesma.”
Ashleigh olhou em seus olhos. Ele olhou de volta para ela com o calor que era apenas para ela. A honestidade que a confortava e a fazia se sentir segura.
“É difícil acreditar que os outros podem perdoar seus erros quando você não consegue,” ele sussurrou.
Ashleigh sentiu a pressão no peito que havia se tornado uma sensação frequente nos últimos cinco anos. Perdoar a si mesma… parar de se culpar… parecia tão fácil quando outra pessoa dizia isso.
A verdade é que ela não sabia como. Ashleigh passou tanto tempo tentando convencer a si mesma e a todos os outros de que tudo o que fazia, cada erro que cometia, valia a pena. Não importava o que ela tinha que fazer, desde que Caleb voltasse.
Mesmo quando se arrependia de suas escolhas, não podia se permitir pensar muito tempo nisso. Ela tinha que continuar se movendo, continuar buscando. Parar, mesmo que momentaneamente, parecia como se estivesse colocando mais uma milha, um dia, um ano entre ela e Caleb.
Mas Peter estava certo. O impossível havia acontecido. Caleb estava de volta. Ele estava diante dela, segurando-a em seus braços. Ela não precisava continuar procurando, continuar correndo.
Ela engoliu.
“Eu—” Ashleigh começou.
“Desculpe interromper…”
Ashleigh e Caleb se viraram para ver Fiona parada próxima. Ela sorriu para eles.
“Eu esperava conseguir um momento a sós com vocês dois,” ela disse.
“Está tudo bem,” Caleb disse, olhando de volta para Ashleigh, “nós podemos conversar mais tarde, certo?”
“Definitivamente,” Ashleigh assentiu.
“Maravilha,” Fiona sorriu, “então, se puderem me conceder um pouco de tempo e me acompanhar em uma pequena caminhada, há algo que eu realmente gostaria de mostrar a vocês dois.”
Ashleigh e Caleb se entreolharam curiosamente.
“Um pouco enigmático,” Caleb sorriu. “Mas estou dentro se você estiver?”
Ashleigh riu e assentiu.
“Claro,” ela disse, virando-se para Fiona. “Lidere o caminho.”
Fiona os conduziu para fora dos prédios principais, através de várias seções da cidade, até que finalmente chegaram a um dos grandes portões que abriam para as florestas e colinas de Verão. Caleb tentou perguntar várias vezes para onde estavam indo, mas Fiona apenas sorria e lhe dizia para ter paciência.
Ela os guiou em uma direção com a qual Ashleigh estava imediatamente familiarizada. Embora os sinais de batalha tivessem desaparecido há muito tempo, ela ainda se lembrava de estar no portal ouvindo os sons da luta. Os uivos e guinchos dos monstros tentando passar por Caleb e os lobos do Crag Quebrado.
Seu coração batia mais rápido e mais rápido à medida que seus sentidos se revezavam, lembrando-a dos últimos momentos antes de entrarem naquele portal e prenderem Caleb lá dentro.
O cheiro de sangue no ar, o arranhar e romper da sua pele enquanto as vinhas se enrolavam nela. A voz de Lily dizendo para ela se concentrar no portal, em levar os lobos para o Inverno.
Caleb apertou a mão de Ashleigh.
Ela olhou para ele, seu peito arfando com respirações pesadas.
“Estou aqui,” ele sussurrou.
Ashleigh engoliu em seco e fechou os olhos, se apoiando nele. Ela respirou fundo e afastou as memórias.
“Estou bem,” ela disse.
Eles começaram a subir a colina. Ashleigh se perguntou se Fiona estava levando-os para onde o portal estava. Ela mesma tinha vindo aqui muitas vezes no primeiro ano. Não havia mais sinal dele, nenhuma forma, nenhuma linha, nada que indicasse que algo já esteve lá. Apenas uma parede de pedra vazia.
Fiona parou. Eles ainda estavam dentro das árvores. O local do portal não estava longe.
“Não falta muito,” Fiona disse.
“Você está nos levando ao portal?” Caleb perguntou.
“Sim,” Fiona assentiu, então sorriu. “E não.”
Ashleigh olhou para Fiona.
“Myka e Ashleigh investigaram a montanha muitas vezes. Não há portal, não mais,” Fiona disse. “Mas ainda assim, foi o último lugar onde vi meu filho, então se tornou um lugar que visitei frequentemente ao longo dos anos.”
Ashleigh olhou para o caminho que continuava subindo a colina. As árvores eram mais densas do que antes, e a trilha em si estava bem conservada, com luzes baixas adicionadas para iluminar o caminho à frente.
“Eu tenho uma surpresa para vocês,” Fiona continuou. “Uma que espero que os deixe felizes.”
“O que é?” Caleb perguntou.
Fiona sorriu.
“Vão em frente e descubram,” ela disse.
Caleb sorriu e olhou para Ashleigh.
“Vamos?” ele perguntou.
Ashleigh ainda se sentia desconfortável. Este lugar não guardava nada além de dor e arrependimento para ela. Ela não conseguia imaginar algo que pudesse deixá-la feliz aqui.
“Claro,” ela disse.
Caleb assentiu.
“Vamos correr!” ele gritou e correu pela trilha à frente dela.
Ashleigh suspirou, mas riu antes de correr atrás dele.
“Isso foi trapaça, sabia!” ela gritou enquanto se apressava para alcançá-lo.
Não estava longe, uma leve curva no caminho e depois subir mais um pouco. Ela sabia para onde estavam indo e o que encontrariam. Mas ela não esperava que ele ficasse parado no meio do caminho.
Ashleigh esbarrou nele, cambaleando para trás enquanto ele permanecia parado, olhando à frente.
“Caleb! O que você—?!” ela gritou, mas suas palavras se transformaram em um suspiro quando ela olhou para o que ele já havia visto.
Deveria ser uma clareira vazia cercada por uma floresta densa e uma sólida parede de montanha. Uma clareira grande o suficiente para caber cem lobos, mas pequena o suficiente para não ser vista da base da colina.
Mas não estava vazia. Não mais.
“Isso é….” Caleb sussurrou em descrença.
Ele respirava curto e intensamente enquanto encarava o prédio que agora estava na clareira.
“Então…” a voz de Fiona chamou atrás deles, “vocês estão surpresos?”
Caleb e Ashleigh se viraram para ela.
“Isso é…!” Caleb gritou enquanto apontava para trás, ainda lutando para formar as palavras.
Fiona sorriu e deu um passo em direção a ele.
“Não havia como salvar a árvore,” ela disse tristemente. “Mas isso, eu pude fazer.”