Ligada a um Inimigo - Capítulo 741

Capítulo 741: Boas Intenções

Galen se levantou e encarou Fiona.

“Você não quer ser Alfa do Verão,” ele disse.

Fiona franziu as sobrancelhas e olhou de volta para ele.

“Isso não é sobre o que eu quero,” ela disse.

Galen assentiu.

“É sobre garantir que Caleb ainda possa ser Alfa se ele voltar,” Galen respondeu suavemente.

Fiona encarou-o de volta, inclinando a cabeça levemente.

“Quando,” ela disse. “Quando ele voltar, ele ainda terá seu lugar de direito nesta alcateia.”

Nos três anos desde que Caleb desapareceu, Galen e Fiona mantiveram a esperança de seu retorno viva. E, embora tivessem conversado algumas vezes sobre essa esperança, ambos tentaram manter suas mentes focadas na realidade.

A esperança era uma coisa maravilhosa, mas perigosa.

Como ambos estavam bem cientes desse fato, nenhum nunca esteve disposto a afirmar que Caleb definitivamente retornaria. Eles fizeram o melhor para manter a alcateia funcionando de uma maneira que estivesse pronta para seu retorno, mas sempre foi uma esperança, um desejo, e nunca uma garantia.

Mas quando Galen olhou para Fiona, ele percebeu que, em algum momento, a esperança dela começou a se transformar em outra coisa. Mais do que apenas um querer ou desejo, tornou-se uma necessidade.

Ela já estava se desgastando, usando toda a sua força e energia para manter o Verão em movimento. Mas se ela se tornasse Alfa, as necessidades da alcateia apenas aumentariam. Caleb lhe dissera como se sentiu quando foi feito Alfa, o peso repentino que pressionou sobre seus ombros. Ele podia suportar isso. Ele era forte e preparado. Ele era devotado à alcateia e fazia tudo o que podia para guiá-los e protegê-los.

Se Fiona assumisse esse papel, apenas desejando manter o lugar de Caleb até que ele retornasse, ela se mataria no processo.

Galen não podia deixar isso acontecer.

“Fiona,” ele disse.

Ela olhou para ele.

“Ele me fez seu Beta,” disse Galen.

Fiona franziu as sobrancelhas.

“Eu sei,” ela respondeu.

“Ele pediu,” Galen disse, “e eu aceitei.”

Fiona olhou fixamente para Galen, com uma expressão intrigada no rosto.

“Você ainda será Beta. Eu não tenho intenção de escolher outra pessoa…” ela disse.

“Não, Fiona,” ele disse com um leve balançar de cabeça. Ele engoliu e continuou, “Eu fui seu Beta, como tal… é meu trabalho liderar a alcateia se ele não puder mais.”

Fiona se virou para que pudesse encará-lo completamente.

“Você liderou e continuará me ajudando a liderar até que Caleb volte,” ela disse. “Mas se você está querendo dizer que vai se tornar Alfa…”

Ela balançou a cabeça.

“Não.”

Galen respirou fundo.

“Fiona–”

“Galen, eu não duvido de você. Você seria um excelente Alfa,” ela interrompeu. “Mas Caleb é o Alfa do Verão, e a única maneira de garantir que ainda haja um Verão e que ele ainda seja Alfa quando ele voltar é se eu assumir o papel agora. Então isso é o que vai acontecer.”

“Fiona,” Galen disse. “Isso não era o que Caleb queria.”

A mão de Fiona apertou sua bengala, e seu maxilar se cerrou.

“Não,” ela disse. “Caleb queria liderar a sua alcateia com sua Luna ao seu lado até que eles envelhecessem juntos e pudessem se aposentar. Nesse ponto, seu filho assumiria legitimamente o papel de Alfa.”

“Fiona,” Galen chamou suavemente. “Isso não é o que eu quis dizer… Eu só quero dizer que como seu Beta, meu dever—”

“Eu entendo o que você quis dizer,” ela interrompeu, “e sob circunstâncias normais, eu seria a primeira a encorajá-lo a cumprir esse dever. Mas essas não são circunstâncias normais.”

Galen deu um passo em direção a ela, mas Fiona levantou a mão para detê-lo.

“O que acontece com Caleb?” ela perguntou. “Quando ele voltar para casa e descobrir que não é mais o Alfa do Verão, o que acontece com ele?”

Galen engoliu e abaixou os olhos.

“Responda-me, Galen,” ela rosnou. “Passamos os últimos três anos mantendo esta alcateia funcionando. Nós lutamos e trabalhamos até os ossos!”

“Eu sei,” ele disse.

“Por que fizemos tudo isso?” ela perguntou, movendo-se em direção a ele com raiva. “Por que lutamos para manter esta alcateia unida?”

Galen engoliu, mas manteve seus olhos abaixados.

“Para que quando ele retornasse, pudéssemos olhar nos olhos dele e dizer honestamente que fizemos o nosso melhor!” ela rosnou.

Fiona respirou ofegante e pesadamente pelo nariz. Seu maxilar estava tenso de raiva.

Galen levantou a cabeça e olhou em seus olhos com toda a culpa e dor que sentia.

“Isso é o que estou tentando fazer,” ele sussurrou.

Fiona franziu a testa. Ela olhou nos olhos de Galen. Ela viu a dor. Ela viu sua culpa. Mas, principalmente, viu a preocupação que estava totalmente voltada para ela.

Ela não entendia. Por que ele estava de repente tão preocupado com ela? Por que ele de repente decidiu que era hora de cumprir seu dever como Beta? Não podia ser apenas pelos lobos. Ela havia lhe dado uma solução para isso, uma que mantinha a porta aberta para Caleb retornar. Então por que ele estava escolhendo a opção que fechava essa porta?

Formava-se um buraco em seu estômago.

“O que você não está me contando, Galen?” ela perguntou. Sua voz tremia, mas seus olhos permaneciam firmes.

Galen engoliu. Ele sabia o que precisava dizer a ela. O que ela precisava ouvir.

“Nos últimos três anos,” ele começou, “Myka esteve discretamente procurando por qualquer sinal das linhas de lei se reconectando ao nosso mundo.”

Os olhos de Fiona se arregalaram, e ela deu um passo mais perto.

“Ele encontrou algo?”

Galen assentiu.

Fiona respirou fundo pelo nariz, cobrindo a boca com a mão enquanto esperava Galen continuar.

“Ele encontrou vestígios de atividade ao redor do mundo,” Galen disse, “ele foi a esses lugares, ouviu e fez testes.”

Galen fez uma pausa. Ele soltou um suspiro lento antes de continuar.

“Ele finalmente conseguiu descobrir algo,” ele disse, olhando para suas mãos enquanto falava. “A atividade que ele havia encontrado, eram… ecos… algum tipo de efeito residual deixado para trás pela destruição da linha ley.”

Fiona abaixou a mão até sua bengala. Ela engoliu enquanto sentia um nó se formando em sua garganta.

“Não houve nenhum sinal de nova atividade,” ele disse. “Myka disse que não havia mais nada que pudéssemos fazer.”

“O que isso significa?” ela perguntou.

Galen desviou o olhar.

“Diga,” ela exigiu.

Galen respirou fundo e olhou para ela. Ele se aproximou e colocou as mãos sobre os ombros dela, apertando suavemente.

“Caleb…” ele começou, sua voz terna, “Caleb se foi. Ele nunca vai voltar.”

Fiona respirou ofegante, suas sobrancelhas franzidas, e a dor encheu seus olhos. Mas ainda assim, ela manteve-se firme. Continuou olhando para Galen, ouvindo cada palavra dele.

“É hora, mãe,” ele disse, sua voz falhando enquanto lágrimas brilhavam em seus olhos. “Precisamos seguir em frente.”

Fiona cerrou fortemente o maxilar, respirando curtas respirações pelo nariz, mas nunca suficiente para preencher a necessidade de seus pulmões. Ela sentiu um peso doloroso em seu peito e não conseguia respirar. Era demais para suportar. Ela soltou um soluço e enfraqueceu nos joelhos.

Galen a segurou, puxando-a para perto enquanto a abaixava gentilmente ao chão e a segurava enquanto ela chorava. Ele acariciava suas costas e alisava seus cabelos, tranquilizando-a gentilmente como faria com Ren após um pesadelo.

Seu coração doía a cada soluço, a cada arquejo por ar. Tudo o que ele dissera era verdade, exceto por uma coisa. Myka havia seguido os ecos, e não havia nova atividade, mas ele não desistira. Ele ainda estava procurando, e Alice também.

Ainda havia uma chance de que Caleb pudesse ser encontrado, uma chance de que ele pudesse voltar para casa. Mas a única maneira que Galen poderia manter sua promessa de cuidar de Fiona, era fazê-la acreditar que Caleb tinha partido.

Lágrimas silenciosas caíram de seus olhos. Ele beijou o topo da cabeça dela, rezando para que um dia ela o perdoasse por suas boas intenções.