Ligada a um Inimigo - Capítulo 730
Capítulo 730: A Melhor Opção
[TRÊS ANOS ATRÁS]
Ashleigh tinha ido embora por um ano. Relatórios de suas missões foram enviados de volta para Verão, assim como seus exames médicos.
Ela claramente estava descansando pouco ou nada entre suas batalhas, pulando de um grupo para outro desde que eles lhe oferecessem um alvo para eliminar. Ela era eficiente em suas missões, mas imprudente com sua vida.
Fiona questionou se havia feito a escolha certa ao deixá-la ir sem um argumento. Quando ouviu que Ashleigh voltaria para casa por alguns dias, sabia que precisava conversar com ela.
Mas ao ir ver Ashleigh, recebeu uma notícia de partir o coração.
“Ashleigh,” Fiona chamou suavemente ao entrar no quarto.
Ashleigh olhou para cima de sua bolsa onde estava tirando roupas. Ela deu um sorriso gentil.
“Bom te ver, Fiona.”
“E você,” Fiona sorriu.
Era bom vê-la.
Não importava o que tivesse acontecido antes ou depois do desaparecimento de Caleb, Fiona sempre gostou de Ashleigh. Era uma das razões pelas quais se sentia tão zangada com ela às vezes. Porque a amava muito.
“Ouvi dizer que você mal teve um momento para si mesma desde que saiu,” ela disse. “Talvez devesse ficar mais tempo, pelo menos algumas semanas. Descansar e recuperar.”
Ashleigh voltou-se para sua bolsa.
“Eu só voltei porque precisava discutir algo com meu irmão pessoalmente,” Ashleigh disse. “Agora que fiz isso, vou partir em poucos dias.”
“Entendo,” Fiona respondeu.
Ela deu um passo mais próximo de Ashleigh.
“Pensei que você teria voltado mais cedo,” ela disse. “Todos sentimos sua falta.”
Ashleigh continuou a olhar sua bolsa sem dizer uma palavra.
“Adoraria ouvir sobre os lugares que você visitou,” Fiona continuou. “As coisas que viu… aprendeu…”
Ashleigh pausou.
“Não tive tempo para explorar ou fazer turismo,” ela disse. “Só estou lá para caçar os monstros.”
Fiona assentiu.
“A maioria dos que se voluntariaram voltou para casa,” ela disse. “Outros voltarão em seu lugar.”
“Eu sei,” Ashleigh disse.
“Você deveria considerar isso,” Fiona continuou. “Seu corpo precisa de descanso, e como eu disse. Todos sentimos sua falta.”
Ashleigh se endireitou. Ela suspirou e virou-se para encarar Fiona.
“Não há motivo para mentir para você… Eu não vou fazer isso,” ela disse. “Não vou ficar aqui mais tempo do que preciso.”
“Ashleigh…” Fiona chamou, estendendo uma mão a Ashleigh.
Ashleigh deu um passo para trás, e Fiona parou.
“Eu odeio estar aqui, Fiona,” Ashleigh disse. “Odeio cada minuto.”
Fiona respirou fundo.
“É sufocante. Doloroso. Cada lugar que vou aqui, em toda parte que olho… ele não está lá, e isso me mata.”
“Eu entendo,” Fiona disse suavemente.
“Não, você não entende,” Ashleigh respondeu, balançando a cabeça. “Você não entende. Sim, você perdeu seu companheiro, mas você sentiu ele morrer. Você sentiu ele deixar este mundo para sempre.”
As palavras de Ashleigh esfaquearam o coração de Fiona.
“E por mais excruciante que isso tenha sido, você sentiu… Você sabe…” Ashleigh continuou. Sua voz começou a tremer. “Eu… não sei… Nunca vou saber.”
Fiona respirou trêmula e olhou para o chão.
“Estar aqui e ver todos vocês… Ver Verão seguir em frente sem ele… Eu não posso.”
Ashleigh respirou fundo e passou por Fiona em direção à porta.
Fiona reuniu sua força e chamou-a.
“Ashleigh… Há algo que preciso te contar.”
Ashleigh parou. Ela se virou para encarar sua sogra, enxugando as lágrimas que haviam caído.
“O que é?” ela perguntou.
Fiona engoliu em seco e levantou os olhos para encontrar os de Ashleigh.
“Nos últimos dois anos, encontramos muitas áreas dentro do nosso território danificadas ou destruídas pelos fae durante aquela última luta.”
Ashleigh travou o maxilar e desviou o olhar.
“Recentemente, alguns de nossos batedores perceberam uma mudança em muitas árvores. Uma doença, espalhando-se pelas raízes que se sobrepõem,” Fiona continuou. “Levou esse tempo para vermos os sinais, o que significa que é tarde demais para impedir que mate aquelas árvores. Tudo que podemos fazer é derrubá-las para evitar que se espalhe ainda mais.”
Ashleigh franziu a testa e olhou para Fiona.
“Por que está me dizendo isso?” ela perguntou.
Fiona passou a língua pelos lábios e deu um passo em direção a Ashleigh.
“Porque,” ela disse suavemente, “uma das árvores afetadas é onde construí a fuga de Caleb.”
Os olhos de Ashleigh se arregalaram. Ela franziu a testa, e por um momento, uma expressão de pânico e medo tomou conta. Mas rapidamente, ela respirou, e sua expressão se tornou neutra.
“Então, você vai demolir a casa na árvore?” ela perguntou calmamente.
“Não tenho escolha,” Fiona respondeu, baixando o olhar. “A árvore está morrendo. Se eu derrubá-la ou não, a casa na árvore não vai sobreviver.”
Ashleigh olhou para o outro lado.
“Por que está me dizendo isso?” ela perguntou.
Fiona olhou para cima, vendo apenas suas costas.
“Pensei que você gostaria de saber,” ela disse. “Talvez você quisesse ir vê-la antes…”
“Estou surpresa que você não a tenha derrubado ainda,” Ashleigh interrompeu.
“O quê?” Fiona perguntou.
“Na verdade,” Ashleigh disse com um escárnio irritado, “estou surpresa que você não a tenha queimado para a vigília.”
Fiona deixou escapar um rosnado baixo e irritado, mas Ashleigh já tinha saído pela porta.
Uma semana depois, Ashleigh se foi, e Fiona estava sozinha na floresta cercada por um campo de grandes buracos.
Seu peito estava pesado, e seus joelhos fracos. Ela se apoiava pesadamente em sua bengala, algo que passara a usar com mais frequência nos últimos dias.
Ela respirou fundo e soltou de forma trêmula.
Fiona ainda podia se lembrar do dia em que encontrou a árvore perfeita.
Caleb estava lutando com o peso de seu futuro e as responsabilidades que estava prestes a herdar. Ela queria dar-lhe um lugar que ele pudesse chamar de seu e se sentir livre de seu fardo.
Assim, inspirada pelo Laboratório do Caim, ela havia construído a casa na árvore para ele. Um lugar que ele havia prezado, onde havia se transformado no homem incrível que era. Onde ele quase viveu com sua esposa.
E agora, depois de todos estes anos, estava acabada, assim como o Laboratório do Caim. As pernas de Fiona enfraqueceram, sua bengala caiu no buraco, e ela caiu no chão com um soluço.
Era necessário. Era a melhor opção.
Mas isso não mudava o fato de que Fiona tinha sido a responsável por acabar com os últimos vestígios que restavam de seu marido e de seu filho em Verão.