Capítulo 643: Fim Natural
Os olhos de Myka se arregalaram.
“Nosso… futuro?” ele sussurrou.
Peter assentiu.
“Tudo bem,” Myka disse com um leve aceno de cabeça. “Vamos conversar…”
Eles se moveram para o sofá, cada um tomando um assento. Peter olhou para Myka. Ele estava respirando lenta e profundamente e apertando o maxilar. Parecia nervoso.
“Não estou planejando dizer para você ir embora,” Peter disse.
Myka levantou o olhar com as sobrancelhas franzidas e uma expressão confusa.
“O quê? Por que você diria isso?” Myka perguntou rapidamente.
“Não estou tentando te afastar ou te testar. Não é sobre isso,” Peter esclareceu. “Você parecia preocupado. Achei que era disso que você estava com medo.”
Myka soltou um leve riso. Ele se aproximou de Peter no sofá e tocou seu rosto.
“Eu nunca vou deixar você me afastar novamente,” ele sussurrou. “Achei que tinha deixado isso claro.”
Peter sorriu, encostando-se na mão quente de Myka.
“Então, por que está nervoso?” ele perguntou.
Myka sentou-se ereto. Ele afastou sua mão e respirou fundo.
“Você disse que vamos falar sobre nosso futuro,” ele disse. “Estou preocupado que possamos ter visões diferentes sobre como isso será.”
Peter sorriu.
“Eu acho,” ele começou, “que nossas visões podem não ser tão diferentes quanto você imagina.”
Myka olhou para Peter. Havia uma esperança nervosa em seus olhos.
“Eu acho que sei o que você quer, Myka,” Peter continuou. “Eu acho que sei como você quer que nosso futuro… cresça.”
Myka engoliu ansiosamente enquanto ouvia.
“Mas, antes de falarmos sobre isso,” Peter disse. “Precisamos falar sobre nós dois.”
“O que você quer dizer?” Myka perguntou.
“Nós acabamos de nos encontrar novamente,” Peter respondeu com um suspiro. “E com tudo o que aconteceu, não tivemos muito tempo para explorar o que isso significa. O que estar juntos significa.”
Myka observava Peter atentamente enquanto ele falava. Havia uma preocupação em suas palavras, um medo em sua voz.
“Há coisas que não discutimos, não decidimos,” Peter continuou. “A guerra nos juntou em um momento altamente emocional. Nós nem sabemos se o que sentimos um pelo outro se traduz no dia a dia mundano de nossas vidas.”
Myka inclinou a cabeça, observando Peter atentamente. Ele estava nervoso. Seu coração estava batendo mais forte, e sua respiração estava um pouco acelerada. Um rubor subia por seu pescoço e orelhas.
“Você não quer ser um lobo de matilha, e eu não vou deixar Inverno,” Peter continuou. “Por causa da guerra, você ficou, mas agora… Eu não quero que você fique apenas por minha causa. Eu não quero que você acorde e se arrependa de não voltar a ser nômade ou sinta que eu te forcei a acabar com sua jornada.”
Peter lambeu os lábios e engoliu em seco.
“Eu sei que você me ama,” ele disse, olhando para cima e fixando os olhos nos de Myka. “Eu também te amo.”
Myka sorriu calorosamente. Ouvir as palavras de Peter era raro, e toda vez era como a primeira. Cada parte de Myka queria puxar Peter para seus braços e cobri-lo de carinho até que ele não aguentasse mais.
Mas Myka sabia que Peter estava tentando dizer algo, vocalizar uma preocupação ou desejo. Não era o momento de deixar seus desejos dominarem.
“Nós demos nossas marcas um ao outro. Estamos ligados. Não há como voltar atrás,” Peter sussurrou, olhando para seus joelhos. “Mas eu não quero ser uma corrente em volta do seu pescoço.”
‘Então era sobre isso,’ Myka pensou consigo mesmo.
Myka aproximou-se de Peter no sofá. Ele tocou o queixo de Peter, levantando-o para olhar nos seus olhos.
“Somos companheiros. Estamos ligados. Mas você não é uma corrente. Você é uma escolha que faço todos os dias,” Myka sussurrou com um sorriso suave. “Você está certo. A ideia de ser um lobo de matilha ainda não me atrai, mas eu também não estou com um pé para fora.”
Myka inclinou a cabeça, seu sorriso nunca desaparecendo de seus lábios.
“Tenho corrido por muito tempo,” Myka continuou. “Nunca quis ficar parado porque tinha medo do que ou quem poderia me encontrar se eu o fizesse. Mas Primavera acabou. Gorn acabou, e os experimentos acabaram.”
Myka inclinou-se em direção a Peter, que engoliu em seco e respirou suavemente enquanto seus rostos se aproximavam.
“Mas desde o dia que você me deixou, independentemente da direção que eu estava indo, eu sempre estava correndo de volta para você,” o hálito quente de Myka dançava nos lábios de Peter. “Agora que estou aqui, que estamos aqui… Não tenho mais para onde correr.”
Peter soltou um suspiro trêmulo. Será que esse homem sempre seria capaz de agitá-lo assim? Algumas palavras e um olhar, e Peter estava ansioso para tocar e ser tocado por ele.
“Peter?” Myka sussurrou.
“Hã?” Foi tudo o que Peter conseguiu dizer.
“Ainda estamos conversando?” Myka sussurrou, seus lábios roçando os de Peter a cada palavra.
Peter lambeu os lábios. Sua língua roçou nos lábios de Myka ao mesmo tempo. O gosto dele tornava o desejo em seu corpo mais doloroso, mas Peter pressionou sua mão contra o peito de Myka. Ele engoliu em seco e respirou fundo enquanto o espaço aumentava entre eles.
“Sempre trapaceando…” Peter suspirou enquanto tentava acalmar sua mente.
Myka sorriu.
“Estou feliz em ter qualquer conversa e toda conversa com você,” ele disse. “Mas eu nunca vou deixar de querer tocar e provar você. Não consigo evitar.”
“Eu estava tentando ter uma conversa séria com você, Myka,” Peter bufou. “Se queremos ter uma vida juntos, não pode ser só sobre sexo.”
“Eu sei,” Myka respondeu. “Mas achei que tinha deixado claro. Eu não vou a lugar nenhum. Não porque sinto que preciso ficar ou que você está me obrigando… Eu estou ficando porque você está aqui. Se você decidir ir para Verão, eu irei para lá.”
Myka sentou-se ereto, ele não se inclinou nem tentou tocar Peter, mas manteve seu olhar de uma maneira que fez Peter se sentir como se estivesse sendo segurado em seus braços.
“Eu não sou mais um nômade,” Myka disse. “Eu fiz minha jornada e encontrei seu fim natural. Eu encontrei meu lar. Esse lar é você.”
O peito de Peter ficou apertado, e seu maxilar se contraiu ao ouvir as palavras de Myka.
“Você tem certeza de que não se arrependerá?” ele perguntou em voz baixa.
“A única coisa que eu me arrependo,” Myka respondeu sem hesitação, “é de não ter percebido tudo isso cinco anos atrás.”