Capítulo 641: Estou Cansado
“Eu… devo a você?” Alice perguntou, olhando para Ashleigh com visível confusão.
“Eu salvei sua vida no laboratório e com a Rainha das Sombras,” Ashleigh afirmou. “Então me ajude. Me leve para a Primavera.”
Alice franziu os lábios e fechou os olhos. Ela respirou lenta e profundamente pelo nariz e soltou o ar.
“Se você quiser colocar tudo na balança, somar nossas dívidas para ver quem realmente deve a quem, podemos fazer isso…” Alice disse. “Mas deixe-me deixar algo bem claro. Eu não vou te levar para a Primavera.”
Ashleigh cerrou os dentes, irritada. Ela devia saber que não valia a pena pedir ajuda à Alice. Ela não dava a mínima para Caleb.
“Tudo bem,” Ashleigh disse. “Eu vou encontrar outra pessoa. Você não é a única pessoa que já entrou e saiu da Primavera escondida.”
“Não, mas provavelmente sou uma das únicas que ainda está viva,” Alice respondeu. “E com certeza sou a única aqui no Inverno.”
“Então eu vou apenas conseguir um explorador para me levar até lá e seguir sozinha a partir daí,” Ashleigh suspirou.
“Você vai acabar morta se fizer isso.”
“Então me ajude!” Ashleigh rosnou.
“Eu estou ajudando você,” Alice suspirou. “A Primavera é uma armadilha mortal. Mesmo sem os fae e os renegados, aquele lugar está cheio de maneiras de morrer a cada passo se você não souber para onde está indo.”
“Por que você está tentando me impedir!” Ashleigh gritou com raiva. “Se você não vai me ajudar, ao menos me deixe em paz.”
“Você veio até mim,” Alice respondeu. “E eu não estou tentando te impedir, Ashleigh. Estou tentando manter você viva.”
“Esse foi o meu erro. Eu não sei porque pensei que você pudesse realmente se importar com alguém além de você mesma,” Ashleigh bufou, cruzando os braços sobre o peito e balançando a cabeça com frustração.
Após um curto silêncio, Alice falou.
“Ashleigh,” Alice disse calmamente. “Eu estou tentando ser compreensiva neste momento.”
Ashleigh franziu a testa, engolindo em seco ao ouvir o tom suave, mas sombrio, por trás das palavras de Alice.
“Eu estou tentando ser paciente e gentil com você. Porque eu sei que você está sofrendo. Eu sei que você está lutando tanto para não sufocar na dor que te consome a cada momento acordada e provavelmente nos seus sonhos também.”
Ashleigh cerrou o maxilar e baixou os olhos.
“Mas como eu já tentei te dizer antes,” Alice disse, com a voz mudando para um sussurro irritado. “Você não é a única que sente dor, raiva, arrependimento e injustiça.”
O silêncio tomou conta do espaço entre elas. Alice respirou fundo e abaixou a cabeça.
“Eu tenho duas vidas crescendo dentro de mim,” ela continuou. “Dependendo de mim para sua nutrição, segurança, tudo.”
Alice olhou para Axel e sorriu com tristeza.
“É exaustivo,” ela sussurrou enquanto uma lágrima escorria do olho. “Eu estou cansada. Eu quero dormir. Mas tenho medo de acordar e encontrá-lo desaparecido.”
Ashleigh enxugou as lágrimas silenciosas que molhavam suas bochechas enquanto escutava.
“Toda a energia que eu tenho é para a minha família. Para eles, e para ele.” Alice sorriu, estendendo a mão e tocando o rosto de Axel com carinho.
Alice fungou e sentou-se ereta.
“Eu não tenho mais nada para te mimar, Ashleigh,” ela disse. “Eu não vou te dizer para seguir em frente. Eu não vou te dizer para sofrer. Eu nunca pediria que você desistisse da esperança.”
Alice suspirou, e Ashleigh pôde ver que ela estava genuinamente cansada.
“Mas eu vou te dizer para manter a sua dor longe de machucar os outros.”
De repente, Ashleigh sentiu as chamas de sua raiva se acenderem. Enxugando as últimas lágrimas derramadas por Alice. Ela se ergueu e encarou Alice.
“Eu não machuquei ninguém,” Ashleigh rosnou. “Tudo o que eu tenho feito é tentar encontrar meu marido!”
“Três semanas,” Alice disse. “Axel está neste quarto, nessa cama, há três semanas.”
Alice olhou para Ashleigh com um olhar frio.
“Quantas vezes você veio verificar como ele estava?”
Ashleigh engoliu seco.
“Nenhuma,” Alice sussurrou. “Nem mesmo hoje.”
Seu peito parecia pesado e sufocante, como se algo estivesse sobre ele. Ficar mais difícil de respirar.
“Ele… ele tem você…” ela forçou as palavras a saírem de seus lábios. “Ele vai ficar bem.”
“Você também vai,” Alice disse após uma curta pausa.
Ashleigh sentiu o peso no peito aliviar, mas manteve firme sua raiva.
“É, eu vou,” Ashleigh respondeu com um aceno. “Quando eu encontrar Caleb.”
Ela se virou para sair do quarto, mas foi interrompida pelas próximas palavras de Alice.
“Caleb não gostaria que você fosse para a Primavera,” ela disse.
Ashleigh parou, com a mão pairando sobre a maçaneta da porta. Mas não disse nada.
“Colocar sua vida, ou a de qualquer outra pessoa, em risco sem ter certeza de que é necessário. Caleb não concordaria com esse plano.”
“Você acha que eu não conheço meu parceiro?” Ashleigh rosnou.
“Eu acho que você está começando a ficar desesperada,” Alice respondeu. “E isso é perigoso, Ashleigh. Você não pode fazer isso sozinha.”
Ashleigh respirou fundo.
“Eu não estou fazendo isso sozinha porque quero,” ela suspirou. “Estou fazendo sozinha porque ninguém vai me ajudar.”
Ashleigh abriu a porta e saiu do quarto.
Alice não se deu ao trabalho de chamar ou ir atrás dela. Estava muito cansada para esses jogos. Ashleigh estava lutando, e ninguém poderia culpá-la. Mesmo Alice não estava realmente irritada com ela por não ter vindo verificar Axel.
Mas Ashleigh era infantil em suas emoções. Ela não conseguia enxergar além de si mesma. Às vezes, precisava ser lembrada de que outros também sofriam. Que outros também sentiam dor. Que outros também se agarravam à esperança de um milagre.
Axel estava ali. Ele estava se recuperando. Mas até que acordasse, ainda estava em perigo.
Alice não podia fingir saber exatamente como Ashleigh se sentia, nem queria. Embora tenha se pegado olhando em direção à porta e brevemente entretendo a ideia de ir atrás da garota, sabia que não podia.
Não por causa de Axel ou mesmo dos bebês. Mas porque Ashleigh não permitiria que ela ou qualquer outra pessoa ajudassem de verdade.
As coisas para Ashleigh só iriam piorar, e ela, ou mais provavelmente outra pessoa, acabaria se machucando.