Ligada a um Inimigo - Capítulo 54

54: Não Preparado 54: Não Preparado Desde o início da existência dos lobisomens, os lobos rebeldes sempre foram um problema. Lobos que ignoravam o chamado da matilha, as bênçãos da Deusa. Esses eram quase inteiramente criaturas ferais. Eles haviam se rendido ao lobo dentro deles, cedendo aos impulsos e instintos primitivos.

Cada uma das quatro principais matilhas sempre foi responsável por manter os rebeldes ao redor de seu território na linha. Ou, pelo menos, longe das regiões humanas.

Por isso era tão estranho ver que os rebeldes haviam conseguido se organizar e aumentar seus números o suficiente para atacar as matilhas principais.

Os ataques em Verão foram diferentes dos que haviam sido antes. A primeira onda, que havia sido contra todas as matilhas, foi aleatória e agressiva. Não muito bem organizada ou eficaz.

Mas quando Caleb voltou para casa, ele encontrou uma história completamente diferente sobre a nova rodada de ataques.

Os rebeldes que atacaram agora eram brutais. Eles corriam direto para o combate, sem se esconder, sem fazer reconhecimento. Seus números também haviam crescido. À medida que um era abatido, dois mais surgiam em seu lugar. Cada um era mais cruel e agressivo que o último.

Os ataques, inicialmente, pareciam aleatórios. Mas, após uma inspeção mais próxima, eles haviam evitado a maioria dos pontos fracos identificados ao longo das fronteiras. Além disso, os únicos dois pontos fracos visados haviam sido atacados por um grupo significativamente menor do que qualquer outro. Sugerindo que eles já sabiam sobre eles.

Mas a coisa mais estranha de todas não eram os números, os padrões de ataque ou mesmo sua agressividade aumentada. Não, a coisa mais bizarra era que esses rebeldes, quando mortos, derretiam.

Seus corpos, apenas momentos após caírem no chão, começavam a borbulhar e deformar até se liquefazerem em uma poça mal cheirosa. Todas as tentativas de coletar um pouco dessa gosma para estudo haviam falhado. Parecia ser altamente corrosiva. Tudo que usavam para tentar coletar amostras também derretia.

Nada disso fazia sentido.

“Como eles estão fazendo isso? De onde eles estão vindo?!” Caleb gritou irritado consigo mesmo, jogando o relatório sobre sua mesa, papéis voando por toda parte.

Ele suspirou pesadamente enquanto se abaixava para coletar os papéis espalhados. Depois de juntá-los todos em uma pilha bagunçada, ele os colocou em sua mesa. Seus olhos caíram no laptop novinho.

Quando Caleb chegou do Inverno, os relatórios que recebeu foram angustiantes. Em sua raiva, ele havia jogado seu laptop na parede mais uma vez. Sem Galen, ele foi forçado a solicitar um substituto ele mesmo. Levou meio dia preenchendo formulários, configurando senhas, scans biométricos, verificando transferências de arquivo e muito mais.

Após a experiência, ele pediu que os relatórios sobre os ataques lhe fossem trazidos no papel.

Havia também um presente de desculpas deixado no quarto de Galen.

Caleb terminou de reorganizar os papéis, ele se serviu de uma bebida. Finalmente, ele se sentou em seu sofá, inclinando a cabeça para trás e respirando fundo.

‘Nada disso faz sentido,’ ele pensou consigo mesmo antes de tomar um gole de sua bebida. Ele odiava perguntas não respondidas, e ele tinha muitas sobre sua situação atual.

Ele esperava voltar para casa e resolver tudo em um dia ou dois. Mas já havia uma semana, e os ataques ainda estavam acontecendo. Eles haviam diminuído por dois dias, durante os quais seus lobos reforçaram as fronteiras danificadas, trataram os feridos e tentaram estudar as piscinas negras deixadas pelos rebeldes mortos.

Mas no terceiro dia, eles apareceram quase do nada, não vistos pelos batedores. Eles atacaram sem hesitação e aniquilaram uma das equipes de ciência enviadas para tentar coletar uma amostra. Cinco de seus lobos, mortos em instantes. Eles nem sequer eram soldados.

Desde aquele dia, não houve uma pausa nos ataques.

Eles já haviam perdido pelo menos quinze. Os rebeldes haviam perdido muitos mais, mas pareciam não ser afetados por isso. Seu conselho de guerra havia recusado seu pedido para se juntar à luta. Todos concordaram que havia uma força maior por trás dos lobos, provavelmente esperando pela aparição de Caleb no campo de batalha.

Eles discutiram por mais de uma hora sobre a decisão, e Caleb decidiu ignorá-los e fazer o que precisava ser feito. Até que Fiona se juntou à reunião.

Fiona havia servido no conselho de guerra como Luna por mais de vinte anos; ela era uma lutadora e estrategista experiente. Mas, após a morte do Alfa Cain, ela se afastou completamente do comando. Então, sua presença ali foi uma surpresa, para dizer o mínimo.

“Estou aqui hoje por uma razão,” ela disse, “porque eu conheço meu filho.”

Fiona sorriu para Caleb. Ele não retribuiu o sorriso, sabendo muito bem que ela pretendia argumentar contra ele. Mas ele se recusou a ceder. Não importava o que ela tivesse a dizer, ele não recuaria.

“Caleb, eu sei que você quer lutar. Você quer correr para o campo de batalha e destruir o inimigo antes que eles tenham mais chances de machucar nosso povo.”

“Se você sabe, então saia do caminho,” ele respondeu rispidamente.

Fiona sorriu novamente, embora ele a tivesse repreendido; ela sentiu um orgulho significativo por ele.

“Estou orgulhosa de você e de sua feroz lealdade ao nosso povo,” ela disse, “mas e o deles?”

Ele olhou para ela, confuso com suas palavras.

“Seu povo te ama e te valoriza tanto quanto você a eles, talvez até mais,” ela sorriu. “O que eles vão fazer se você entrar na batalha e cair diretamente em uma armadilha?”

Ele se virou, ele sabia o que ela queria dizer, mas não importava. Seu povo estava morrendo, e ele precisava parar isso.

“Confie em seus lobos, Caleb. Todos eles treinaram; todos eles ganharam seu lugar naquele campo.”

“Eu não?” Caleb perguntou.

“Cada lobo de Verão sabe sem dúvida que você despedaçaria o inimigo. Ninguém duvida da sua habilidade ou da sua força. Mantê-lo fora do campo de batalha não é sobre dúvida. É sobre estratégia.”

“Não há estratégia nisso!” Caleb gritou. “Nós nem mesmo sabemos quem é o grande inimigo por trás dos rebeldes! Ou se eles vão aparecer. Tudo que estamos fazendo ao me segurar é prolongar essa luta!”

“A parte mais importante de qualquer batalha, Caleb, é manter seus soldados lutando,” Fiona disse, sua voz uma fúria calma. “Você deveria saber disso. É básico.”

“Do que você está falando?” Caleb perguntou. Ele estava irritado; ele estava frustrado. Caleb sabia que ela tinha um ponto, mas ele não queria ver isso. Ele queria estar certo. Ele queria lutar.

Fiona suspirou.

“Após dois anos, essa matilha ainda está de luto pela perda de seu alfa. Eles não estão preparados para perder outro!” Fiona gritou.

Caleb olhou para o rosto dela. Ele viu a raiva e o medo. Ele olhou para o resto do conselho de guerra, e pela primeira vez, ele viu isso lá também. Eles estavam com medo. Não dos lobos rebeldes, não da batalha. Do risco de perder outro alfa.

Caleb era um descendente direto do Alfa que fundou Verão. Era único entre as quatro matilhas. Sua era a única linha familiar que havia mantido o rito de Alfa através das gerações.

Os lobos de Verão amavam e honravam cada Alfa que veio antes dele. Sua linha familiar era reverenciada. E ele era o último dela. Se ele morresse hoje, não havia ninguém para tomar seu lugar.

Caleb suspirou.

“Desculpe,” ele disse, “não pensei direito.”

Quando o conselho se dispersou, satisfeito com seu acordo de ficar fora do campo, apenas Fiona ficou para trás.

“Caleb, todos nós sabemos que uma guerra está chegando. Podemos ver, podemos sentir. Mas o inimigo ainda não se revelou. Quando ele fizer, todos nós sabemos que não poderemos te segurar. Você verá a batalha; você lutará por Verão,” sua voz tremia.

Fiona se aproximou, apoiando-se em sua bengala. Ela alcançou seu rosto com uma mão e um sorriso lacrimejante.

“Por enquanto, por favor, não tenha pressa de se juntar ao seu pai.”

As lágrimas caíram, e ela deixou escapar um soluço suave. Caleb a abraçou.

“Eu não vou, Mãe, eu prometo.”