Ligada a um Inimigo - Capítulo 47

47: Sigilo e Engano 47: Sigilo e Engano Granger acordou com uma batida na cabeça e uma sensação de peso no corpo. Estava lento e tonto.

A hidromel escura era ainda mais potente que a normal. Ele conseguia lembrar de três copos vazios e um copo de hidromel escura. Além disso, não tinha certeza do que havia feito na noite anterior.

Ele se sentou enquanto o alarme ecoava em sua cabeça mais alto do que deveria. Ele precisava acordar. Naquela manhã, ele deveria começar as aulas de longo alcance no campo de treinamento.

Pegando sua toalha, Granger foi para o chuveiro. A água quente era agradável em sua pele dolorida. Então, finalmente, sua mente começou a limpar a névoa do álcool.

‘Magia Fae.’
As palavras ecoavam em sua memória. Seu coração acelerava, e ele sentia raiva delas, mas não tinha ideia do porquê. A magia Fae nunca foi algo que lhe interessou.

Ele sabia as coisas que precisava saber, como eles tentaram escravizar os humanos e foram derrotados pelos lobos que receberam as bênçãos da Deusa.

Mas por que a magia deles importaria? Ela havia desaparecido. Os Fae estavam mortos. Então não havia razão para ele se preocupar com tais coisas.

Ele fechou a água, secando-se. Finalmente, decidiu ignorar as palavras que dançavam em sua memória.

***
Uma hora depois, Granger chegou ao campo de treinamento. Ele tinha tempo suficiente para fazer o check-in e preparar seu equipamento antes que os outros chegassem.

Ele estava puxando seus arcos quando foi abordado por trás.

“Granger,” chamou Saul.

“Oi,” Granger respondeu com um sorriso caloroso, “você também está participando disso?”

“Não, fui enviado pelo Alfa Wyatt,” respondeu Saul, “ele decidiu levar os representantes em um tour pela fronteira norte. Portanto, sua aula foi adiada para amanhã.”

“Não entendo,” Granger respondeu, seu sorriso vacilando um pouco.

“O que há para entender?” Saul perguntou, genuinamente incerto sobre qual poderia ser o problema.

“Por que não fui informado?” Granger perguntou.

“Estou informando você agora.”

“Para que eles precisam de um tour pelas nossas fronteiras?” Granger demandou, “eles vieram para aprender sobre estratégia de ataque e defesa de longo alcance. Não há razão para dar-lhes acesso desnecessário a qualquer outra coisa nossa.”

Saul estava confuso com a hostilidade que vinha de Granger. Ele só podia assumir que, ao contrário de si mesmo, Granger era um dos lobos que se sentia fortemente sobre a disputa. Portanto, ele deve ter pensado que os lobos de Verão nem deveriam ser autorizados a cruzar para o Inverno. Tudo o que ele podia fazer era oferecer sua opinião e esperar que o garoto ouvisse a razão antes de começar um problema com outra matilha.

“Durante meu tempo em Verão, aprendi….”

Saul explicou cuidadosamente as coisas que havia descoberto sobre as defesas em Verão, sobre como eles operavam. Ele havia aprendido bastante em suas duas semanas. Quando eles chegaram na noite anterior, ele não hesitou em compartilhar essas lições com seu alfa.

Alfa Wyatt tinha sido receptivo à abertura de um diálogo para fazer melhorias. Então, Saul organizou um tour pela fronteira. O objetivo principal era permitir que Galen tivesse a chance de revisar suas defesas e oferecer que sugestões pudesse para melhorá-las.

Suas palavras eram claras, concisas e sem viés. Uma troca de informações muito bem pensada e planejada para beneficiar os lobos do Inverno. Saul esperava que Granger pudesse entender sua intenção.

Infelizmente, as palavras de Saul caíram em ouvidos surdos na primeira menção a Verão.

Eles ficaram em silêncio constrangedor por vários minutos.

Saul não tinha certeza do que mais poderia dizer, nem sentia nenhuma necessidade real de tentar convencer Granger mais. Sua tarefa era informá-lo sobre a mudança de horário. Essa tarefa estava feita.

“Vou embora então,” ele resmungou enquanto se afastava, deixando Granger sozinho para organizar seus pensamentos.

‘Por que esses malditos sempre me causam problemas!’ Granger gritou zangadamente em sua mente.

Ele havia se distraído assim que Saul mencionou Verão. Ele não se importava com qualquer desculpa que Saul desse. O que importava era que eles estavam interferindo. De alguma forma, eles haviam empurrado Alfa Wyatt a mudar a programação que ele já havia aprovado.

‘…há relatos de Verão usando magia Fae….’
As palavras de Holden de repente soaram na mente de Granger com nova clareza.

“O que ele disse?” Granger perguntou em voz alta, tentando se lembrar do que Holden havia dito sobre magia Fae.

‘…muito sigilo e engano…’
Seus olhos se arregalaram; ele sentiu um nó na garganta.

Granger correu para a câmara de combate. Ele precisava encontrar Ashleigh.

***
Ashleigh olhou ao redor da sala com um suspiro pesado.

Ela deu um soco leve num dos sacos de areia sem muito esforço na ação. Essa era para ser sua primeira sessão com Caleb no Inverno. Eles haviam se concentrado quase inteiramente na defesa e aprendido os estilos de luta um do outro. Aqui eles começariam sua parte do treinamento, e ela estava animada com isso.

Seu estilo era mais selvagem e solto do que o dele. Ele era forte e duradouro numa luta, enquanto ela era rápida e agressiva. Quando lutava, não pensava em defesa. Em vez disso, concentrava-se em derrubar o inimigo rápido e com força.

Caleb havia apontado que, embora isso permitisse que ela trabalhasse rapidamente na primeira onda, deixava-a vulnerável a ataques da segunda ou até de um oponente oculto. Ela discordou até treinarem juntos na sala de simulação.

No início, ela tinha se virado bem, derrubando dois inimigos rapidamente e com eficiência. Ela até tinha tempo de dar a Caleb um sorriso convencido. Mas ela não prestou atenção suficiente e não viu os dois que estavam escondidos atrás deles. Ambos atacaram ao mesmo tempo, seus movimentos rápidos a mantiveram principalmente fora de perigo, mas eles a desgastaram.

À medida que ela ficava cansada, suas ações se tornavam lentas e desleixadas. Ashleigh lutou para recuperar seu território, apenas para encontrar outro atacante surpresa, desta vez deixando seu lado exposto para receber um golpe.

Ela riu ao lembrar do sorriso convencido que Caleb lhe deu quando ele ofereceu sua mão para ajudá-la a se levantar.

Havia sido uma derrota esmagadora e uma lição estimulante.

Ashleigh abaixou a mão e tocou seu lado, se fosse real, ela teria morrido. Mas, em vez disso, ela só tinha alguns hematomas e uma leve dor pelo resto da noite.

“Ashleigh!” Granger gritou, assustando-a de sua memória.

“O que está errado?” ela perguntou.

Ele correu até ela, colocando seus braços ao redor dela, abraçando-a apertadamente.

“Granger! Ei!” ela murmurou em seu ombro. Ela o empurrou apenas o suficiente para poder ver seu rosto.

“O que está acontecendo?” ela questionou ansiosamente.

“O que você sabe sobre magia Fae?” ele demandou.

Ashleigh ficou atordoada com a aleatoriedade completa da pergunta.

“O quê?” foi tudo o que ela conseguiu dizer.

“O que você sabe sobre magia Fae?” ele repetiu.

Afastando sua confusão, ela tentou responder à sua pergunta.

“Não tenho certeza. Faz muito tempo desde que estudei sobre eles,” ela começou, “eu sei que eram mestres dos elementos, terra em particular. Eles frequentemente usavam sua magia para conveniência. Ah! Como os portais que os levavam de um lado do continente ao outro em questão de segundos. A entrada do portal na floresta sagrada era uma delas.”

A entrada do Encontro da Lua Sangrenta era um arco de pedra imponente de folhagem esculpida. Milênios atrás, havia sido um portal ativo. Apenas os Fae podiam ativá-lo. Depois que a Deusa elevou os lobos que então eliminaram os Fae, esses portais se tornaram nada mais do que peças decorativas ao redor do mundo.

“Havia algumas coisas sobre transformação ou mimetismo. Loki era o melhor exemplo. Ele se escondeu entre os humanos por anos sem eles saberem, influenciando-os e causando caos. Não foi até o Alfa Geri e o Beta Freki descobrirem seus truques que ele foi revelado.”

A história de seu povo era interessante, embora uma parte dela se perguntasse se realmente tinha sido necessário erradicar todos os Fae. Ela sempre estivera interessada em aprender o que pudesse sobre eles. No entanto, sua busca por esse conhecimento havia sido deixada de lado quando suas prioridades mudaram para se tornar esposa e manter sua posição como berserker.

Mas Granger nunca se importou com os Fae. Ele sempre achou a história desinteressante.

“Por que você está perguntando de repente, Granger?”

“Porque, Ashleigh,” ele disse, seu tom muito sério, “eu acredito que você está sendo manipulada por magia Fae.”

“Do que você está falando?” Ashleigh perguntou incrédula.

“Caleb,” Granger respondeu.

“O que tem ele?” Ashleigh suspirou. Ela já se sentia cansada. Qualquer conversa com Granger sobre Caleb era uma briga prestes a acontecer.

“Há relatos de que ele tem usado magia Fae,” Granger sussurrou.

Ashleigh de repente ficou ereta. Ela se afastou dele, mantendo um olhar sério.

“Do que você está falando?” ela exigiu. “Onde você ouviu isso?”

Ela pensou no ente na sala de simulação. Ela achou estranho quando Caleb disse que era uma antiga besta fae. Mas não foi mágica que a trouxe à vida. Foi tecnologia.

“Isso não importa,” ele respondeu rapidamente. “O que importa é que ele está usando alguma magia fae obscura para manipular você a acreditar que ele é seu companheiro!”

Ashleigh se viu chocada mais uma vez.

“Granger,” ela começou, “eu sei que essa situação é difícil. É difícil para todos nós. Mas você não pode lançar acusações assim só porque você não gosta dele!”

Ela não pretendia, mas no final de sua frase, ela tinha gritado com ele. Seu coração estava batendo em seus ouvidos, e ela reconheceu um instinto protetor que não havia sentido em relação a Caleb antes. Era preocupante.

“Não estou inventando isso, Ashleigh!” ele gritou de volta, agarrando seu braço e puxando-a para perto dele. “Ele está te enganando, e você está se recusando a ver isso! Ele está usando você para se vingar do seu pai, e ele está usando magia fae para fazer isso!”

“Você não tem prova disso!” Ashleigh gritou. “Você tem alguma ideia do que aconteceria se alguém ouvisse e acreditasse em você?”

“É verdade! É a única coisa que faz sentido! Por que mais você teria dois companheiros?” Granger exigiu, apertando seu braço firmemente.

“Talvez a Deusa tenha cometido um erro!” Ashleigh gritou, puxando seu braço enquanto a pegada dele a machucava.

Ele jogou seu braço para baixo. Uma expressão sombria se estabeleceu sobre seu rosto. Sua voz estava distante e fria.

“Então, você acha que ela te deu um novo companheiro porque cometeu um erro na primeira vez?”