Capítulo 502: Você não deveria ter certeza das coisas que não sabe.

O olhar de Morgan se estreitou para Selene quando ele ouviu o pedido dela.

Sentindo uma pontada de inquietação sob o olhar penetrante dele, Selene rapidamente acrescentou, “Vovô Winslow, eu sei que meu pedido pode não fazer muito sentido para você. Mas você sabe o quanto sou particular com certas coisas. Embora eu tenha aceitado o emprego em Cralens, não tenho certeza se me sentirei confortável em me adaptar ao novo ambiente imediatamente.”

Ela ofereceu uma pequena risada autodepreciativa antes de continuar, “Quando mencionei isso ao meu avô, ele sugeriu que eu ficasse na sua mansão. Ele disse que isso me ajudaria a me ajustar melhor… e eu pensei, dado o vínculo próximo entre nossas famílias, talvez não fosse um grande impositivo.”

Suas palavras foram cuidadosamente escolhidas. Ela deliberadamente mencionou o nome de seu avô, sabendo que a amizade enraizada entre suas famílias tornaria mais difícil para Morgan recusar de imediato.

Além disso, o que ela estava pedindo? Um lugar para ficar.

A Mansão Winslow em Cralens era enorme —quase um reino privado por si só. Pelo que ela tinha ouvido, havia várias alas e inúmeros quartos. Dar a ela um por alguns dias não seria muito.

Ela só precisa que Morgan concorde … quanto ao resto, ela mesma se viraria para chegar lá.

Mas seu sorriso vacilou ligeiramente quando, mesmo após vários longos segundos, Morgan permaneceu em silêncio.

Esforçando-se para manter seu cenho sutil, Selene perguntou, “O que houve, Vovô Winslow? Há algum problema?”

Morgan finalmente sorriu, mas não era um sorriso que alcançava os olhos dele. Era o tipo de sorriso que surgia quando alguém já havia traçado uma linha.

“Não há nada de errado,” ele disse devagar, cruzando as mãos no colo. “É só que o que você está pedindo … não é algo que eu me sinta à vontade em fornecer.”

Selene ficou tensa. Seus dedos se curvaram em punhos apertados ao lado do corpo, embora ela ainda mantivesse o sorriso nos lábios —mal. “O que quer dizer, Vovô?”

As rachaduras estavam começando a aparecer, e Morgan as via todas. A tensão em seus ombros. O movimento no canto do olho. A maneira como ela tentava manter a compostura e o tom uniforme.

No entanto, ele escolheu ignorar isso.

Virando-se para olhar para Williams, ele simplesmente perguntou como que por curiosidade. “Nós temos outra propriedade na cidade, não temos, William?”

O mordomo, sempre eficiente, fez um leve aceno com a cabeça. “Sim, senhor. Um apartamento luxuoso no coração de Cralens. Está totalmente mobiliado, bem servido e perfeito para alguém que trabalha na cidade. Muito conveniente para se deslocar.”

Morgan assentiu pensativamente. “Então está perfeito!”

Ele se voltou para Selene, seu tom ainda gentil, ainda temperado com o tipo de calma que a fazia querer gritar.

“Não leve isso a mal, Selene. Mas talvez você ainda não tenha ouvido —Aiden está casado agora. Ele está morando com sua esposa na mansão por um tempo. Enviar você para ficar lá … não seria o arranjo mais confortável.”

A unha de Selene cravou em sua palma até sentir a ardência quente da pele rompida. Seu maxilar se apertou tão forte que pensou que poderia quebrar. Ela lutou contra o impulso de derrubar o vaso próximo ou sair furiosa.

Mas ela conteve essa vontade, forçando-se a sentar-se calmamente. Apenas parecendo ligeiramente descontente.

“Eu ter-me-ia ajustado muito bem,” ela disse, a voz tensa. “E como vou trabalhar a maior parte do dia, duvido que seria qualquer tipo de incômodo para eles. E de qualquer forma, ficar com Aiden teria parecido como família. Nos conhecemos e —”

Morgan não a deixou completar. Ele a interrompeu com uma risada suave. “Eu sei. Você tem sido uma garota atenciosa e sensata. Eu nunca duvidei disso. Mas eu a observei crescer, e me importo demais com você para deixá-la ‘ajustar-se’ ou ‘comprometer-se’ de qualquer forma. O apartamento na cidade é perfeito para você —moderno, privado e perto do local de trabalho.”

Ele se inclinou ligeiramente para trás, ainda sorrindo. “Não há nada com que se preocupar, Selene. Cralens é um lugar seguro. Sempre foi. Você vai se ajustar bem.”

E então, justo quando ela pensou que a conversa não poderia ser mais sufocante, Morgan acrescentou, quase que casualmente, “Além disso … essa mansão não me pertence mais.”

“O quê?” Selene piscou, pega de surpresa.

“Aiden assumiu a propriedade há muito tempo. E ele especificamente acrescentou aquela,”

Morgan disse suavemente. “Eu já não poderia tomar decisões sobre quem permanece lá. Você teria que perguntar a ele, se realmente quiser.”

Selene não pôde deixar de ranger os dentes. Embora tenha sido sutil, Morgan não hesitou em recusar-lhe cara a cara.

Ela pensou que ele concordaria com ela, facilmente —pelo menos depois de mencionar seu avô.

Mas pouco esperava que mesmo com tudo, Morgan Winslow encontraria uma maneira fácil de baixá-la.

Ela mal conseguiu manter a calma. Mas sabendo que não estava em um lugar onde pudesse se perder, levantou-se lentamente do assento, alisando as pregas de sua saia. “Tudo bem, Vovô Winslow. Eu entendo,” disse ela com os lábios apertados. “Eu não o culpo. Apenas trate como se eu nunca tivesse pedido.”

Ela então verificou a hora no relógio. “Oh, conversando com você quase perdi a noção do tempo. Ainda tenho um compromisso mais tarde. Eu vou me adiantar.”

Morgan sorriu, levantando-se com ela. No entanto, desta vez ela não se importou em retribuir tão prontamente quanto antes.

Ainda assim, ele não se importou. Mantendo o sorriso nos lábios, ele disse, “Vou pedir a William para fazer os arranjos para você. Se precisar de mais alguma coisa, não hesite em me avisar.”

“Tudo bem, Vovô Winslow,” ela disse, movendo a mão para afastar uma mecha de cabelo. “Aiden ainda está por lá. Eu posso ficar tranquila ao redor dele. Se eu precisar de algo, posso definitivamente procurá-lo. Ele não se importaria, tenho certeza disso.”

Morgan soltou uma risadinha silenciosa, o som quieto ainda que inconfundivelmente carregado.

“Você não deveria ter certeza das coisas que não sabe, querida,”