Jogos da Rosie - Capítulo 427
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- Capítulo 427 - 427 Conforto 427 Conforto No fundo de seu coração Rosalinda
427: Conforto 427: Conforto No fundo de seu coração, Rosalinda passara incontáveis momentos imaginando o casamento dos seus sonhos. Após suportar provações e tribulações, essa segunda chance na vida era um presente precioso, e ela recusava-se a desperdiçá-lo para impressionar pessoas pelas quais não nutria afeto. Determinada a criar um dia que simbolizasse o laço único que compartilhavam, Rosalinda ansiava por um casamento que ecoasse a simplicidade que ambos partilhavam.
Contudo, enquanto ela estava ali, parada em admiração diante do resplandecente Salão do Trono, adornado com delicados arranjos florais, Rosalinda achava difícil acreditar que sua visão havia se materializado. Lucas, seu agora marido, havia lhe assegurado que seria um evento modesto, uma mera formalidade para legitimar sua posição como duquesa oficial.
Ele havia prometido que uma outra celebração ocorreria no devido tempo. No entanto, a opulência da sala e o requintado vestido branco feito por Madama Monoroe especificamente para ela estavam longe de ser simples.
Com uma mistura de confusão e incredulidade, Rosalinda caminhou pelo corredor, sua mente lutando para processar o turbilhão de emoções.
Ao término da cerimônia, Rosalinda se encontrou sozinha em seu quarto, os olhos fixos no lado vazio da cama. O entusiasmo e a expectativa que acompanharam o casamento agora davam lugar a um profundo sentimento de solidão. Ela não conseguia deixar de questionar suas emoções conflitantes. Era para ela sentir alegria por ter o casamento que desejava ou tristeza por estar sozinha na noite de núpcias?
O quarto agora ecoava com um silêncio ensurdecedor que amplificava sua confusão. Rosalinda debatia-se com pensamentos conflitantes, incerta sobre o que esperava ou desejava. A realidade de sua situação colidia com a imagem romantizada que havia pintado em sua mente. Ela ansiava pela simplicidade, mas se viu enredada em uma teia de arranjos elaborados. Ela ansiava pelo amor e companheirismo de Lucas, apenas para tê-lo partindo justamente nesta noite.
Dilacerada entre risos e lágrimas, Rosalinda balançou a cabeça.
Em meio à sua confusão, Rosalinda respirou fundo, convocando forças de dentro de si. Ela lembrou a si mesma do propósito por trás de sua união. Não passava de um casamento de conveniência.
Ainda assim, ela não conseguia evitar o turbilhão de emoções que ameaçavam engoli-la. O casamento veio e se foi, deixando-a com um mosaico de sentimentos conflitantes. Ela havia se apaixonado por ele. Pior ainda… ela nem sequer sabia quando tudo começou.
……..
“Precisa mesmo casar com a pobre mulher e partir na noite de seu casamento?” As palavras de Belisarius ecoaram dentro do quarto onde Duque Lucas estava sentado. “Quem é que deseja ficar sozinho na noite de núpcias?”
O quarto mergulhou em um silêncio pesado enquanto o peso de suas palavras permanecia no ar. A frustração do Duque Lucas borbulhava por baixo de sua postura controlada, enquanto Belisarius, o homem de cabelos brancos, deleitava-se em sua capacidade de provocar as emoções do amigo.
“Por que você sempre tem que se meter em meus assuntos?” Lucas cuspiu, sua voz impregnada de irritação, enquanto travava seu olhar com Belisarius. O fogo dentro dele ardia ferozmente, pronto para consumir qualquer obstáculo em seu caminho. “Se não tem nada útil a contribuir, então me deixe em paz.”
Belisarius deu uma risadinha, sua gargalhada ecoando pela sala como uma melodia assombrosa. Ele caminhou até o bar, servindo-se casualmente de um copo de vinho antes de se acomodar diante de Lucas. Seu olhar penetrante possuía um brilho travesso, como se ele se deliciasse em mexer no caldeirão das emoções de Lucas.
“Deixá-lo sozinho para se reunir com sua noiva? Ah, como eu queria que fosse tão simples,” Belisarius retrucou, tomando um gole de seu copo de vinho. “Mas veja bem, sua amada Rosalinda está à beira do despertar. Se a deusa adormecida dentro dela despertar plenamente, sua própria alma será ofuscada, consumida, e ela perecerá.”
O olhar de Lucas intensificou-se, suas mãos fechando-se em punhos ao lado do corpo. As palavras picavam como uma verdade amarga que ele há muito tentava negar. As memórias que Rosalinda começava a recobrar, os fragmentos de sua vida passada, eram uma espada de dois gumes. Elas detinham o potencial não só para restaurar sua identidade perdida, mas também para libertar uma torrente de emoções e dor que ela antes havia vivenciado.
Lucas esperava que, ao levar Rosalinda para as cavernas isoladas, ela teria a oportunidade de fortalecer seu corpo e se preparar para as batalhas à frente. Era um plano desesperado, nascido de seu amor por ela e da necessidade de mantê-la segura. Mas seus planos cuidadosamente elaborados foram destruídos pela intervenção de uma feiticeira maligna, decidida a romper as barreiras protetoras que ele havia erigido para ‘resgatar’ a ‘deusa’.
Na verdade, Lucas não se importava realmente com essas barreiras. Seu propósito era apenas um meio para um fim—uma maneira de lhes comprar tempo, um breve momento de repouso antes de sua inevitável fuga. Uma vez que a barreira caísse, Lucas poderia levar Rosalinda para uma dimensão diferente, bem distante do caos e traição do mundo humano. Naquele reino, eles poderiam construir uma vida nova juntos, livres das correntes de seu passado e da ameaça iminente das sete famílias.
As consequências de sua fuga eram de pouca preocupação para Lucas. Que os demônios dilacerassem os humanos, que o caos reinasse—para ele, tanto fazia.
Seu foco único era a segurança e o bem-estar de Rosalinda, sua felicidade acima de tudo. O resto do mundo poderia desmoronar ao redor deles, e ele assistiria de camarote com Rosalinda em seus braços.
Ainda assim, enquanto Lucas olhava para Rosalinda, seus gritos de dor perfurando sua alma, seu coração se partia em mil pedaços. O fluxo de memórias há muito reprimidas e agora liberadas devastavam sua mente e a levavam a ajoelhar-se. A angústia estampada em seu rosto dilacerava o âmago de Lucas.
Em uma tentativa desesperada de protegê-la do tormento, ele tomou a decisão angustiante de fechar a barreira mais uma vez. Era uma escolha que só o fazia querer matar os humanos de uma vez por todas. Fechar a barreira não apenas manteria os demônios afastados.
Significava adiar sua fuga deste lugar, prolongando sua estadia neste mundo miserável.
Entretanto, isso não era a única coisa que o assustava. O corpo de Rosalinda estava frágil no momento. Ela não seria capaz de vencer a alma dentro de seu corpo. Não só perderia nessa batalha, como seu corpo poderia até ser destruído.
“Foi você que me instou a me manter afastado dela,” Lucas rosnou, sua voz um ronco baixo.
“O caminho à frente é traiçoeiro,” disse Belisarius. “O equilíbrio delicado entre seu despertar e seu bem-estar pende precariamente na balança. Sua presença, Lucas, por mais que lhe traga conforto, também possui o potencial de desfazer sua nova paz e infligir uma dor insuportável.”
Lucas nada disse enquanto ouvia atentamente
“Temos que desvendar o mistério de como esta alma estranha veio a residir dentro dela,” continuou Belisarius. “Somente então poderemos compreender verdadeiramente a profundidade de sua conexão com ela e desenvolver um plano que garanta sua segurança e bem-estar.”
Lucas apertou a mandíbula, o peso da responsabilidade assentando-se pesadamente sobre seus ombros largos. O dia de hoje era para ser o dia do seu casamento, um dia de celebração e união. Mas agora, parecia um lembrete agridoce dos sacrifícios que eles tiveram que fazer.
Quem escolheria de bom grado passar a noite de núpcias sozinho? Não Lucas—definitivamente não ele. Seu coração doía ao pensar em estar separado de Rosalinda, da solidão que o envolveria em sua ausência. Mas as forças em jogo, as maquinações das sete famílias, não lhe deixaram escolha.
O casamento havia se tornado seu último recurso, um gesto desesperado para conceder a Rosalinda a autoridade e o poder necessários para desafiar os planos das famílias influentes. Era uma jogada calculada, forçando Lucas a observar de longe enquanto ela tomava o centro do palco.
“Para onde você está indo?” chamou Belisarius, sua voz carregada de preocupação, enquanto Lucas se levantava abruptamente de seu assento. Mas Lucas permaneceu em silêncio, seus olhos cheios de uma intensidade que enviava calafrios pela espinha de Belisarius. Sem pronunciar mais uma palavra, Lucas desapareceu no ar, deixando para trás um pressentimento sinistro.
O medo tomou conta do coração de Belisarius enquanto ele se apressava para seguir o rastro de Lucas, sua mente repleta de perguntas.
Assim que Belisarius se materializou numa paisagem coberta de neve, ele encontrou Lucas de pé lá, seu rosto oculto, uma aura de escuridão emanando de seu ser. Era uma cena que enchia Belisarius de inquietação, pois ele sabia muito bem o que se desenrolaria diante de seus olhos.
A tranquilidade da neve logo foi quebrada pelo som da fúria de Lucas, quando ele se lançou em um ataque implacável contra as bestas próximas. O choque do aço e o borrifar repulsivo de sangue mancharam a brancura imaculada da neve, infundindo o ar com uma aura assombrosa e macabra.
Belisarius suspirou, seu coração pesado com resignação, enquanto assistia seu amigo liberar sua ira sobre seus inimigos. Esta não era a primeira vez que ele testemunhava tal cena, nem seria a última. Os demônios interiores de Lucas, tanto literais quanto metafóricos, ameaçavam consumi-lo, empurrando-o para o limite da razão e sanidade.
Dando alguns passos para trás, Belisarius encontrou consolo no abraço resistente de uma árvore próxima. Ele cruzou os braços, seus olhos fixos na cena brutal que se desenrolava diante dele, seu coração preenchido com uma mistura de tristeza e compreensão. Havia pouco que ele podia fazer, a não ser testemunhar a fúria primal de Lucas, uma tempestade de violência e angústia que o dominava vez após vez.
O silêncio envolveu a paisagem nevada, interrompido apenas pelos ecos da batalha e pelo som pesado dos corpos das diversas bestas caídos. Belisarius permaneceu em seu lugar, um observador silencioso em meio ao caos.