Capítulo 850: Porto da Margem Gelada

Maria saiu da janela e seguiu pelo corredor da mansão em direção ao seu escritório. Ela imaginou que Mira faria uma visita secreta em algum momento depois de deixarem o Reino Secreto, mas não tinha certeza de quando.

‘Foi mais rápido do que eu pensava.’ Ela gentilmente esfregou o anel de noivado em seu dedo. ‘…Acho que eu estava certa. Ela não quis conversar, ou talvez estivesse apenas muito nervosa.’

Enquanto pensava nisso, ela abriu a porta do seu escritório e notou que uma carta havia substituído a que ela deixara lá para Mira.

“Embora seja um pouco estranho, esse modo de comunicação é provavelmente o mais adequado por agora,” Maria murmurou para si mesma enquanto tremia, sentindo uma dor fantasma percorrer o meio de seu corpo.

Ela ainda lembrava da sensação de ser cortada ao meio e morrer.

‘Ainda parece um sonho.’ Ela pensou, sem querer se lembrar, mas forçada a isso.

O ato de morrer… era indescritível. Naquele instante, antes de sua consciência desvanecer e ela ser trazida de volta à vida, parecia que ela era esticada infinitamente. Como se estivesse no centro de um buraco negro.

Era como um vazio infinito preenchendo sua consciência por éons antes de ser trazida de volta ao mundo dos vivos, apesar de apenas um segundo ter passado. O tempo não significava nada para ela naquele estado, e ela nem tinha certeza se ainda era ‘ela’.

‘…No entanto, Mira já passou por isso várias vezes?’ Ela não tinha certeza de como se sentir a respeito disso.

Ela estava irritada, traída, perturbada, triste, aflita ou sentia pena de Mira? Tudo estava tão confuso que ela não tinha certeza de como processar tudo.

‘Só preciso de tempo – tempo para colocar meus sentimentos em ordem. Tenho certeza de que Mira sente o mesmo, ou ela nunca teria vindo até aqui.’ Pensar em como Mira saiu correndo de sua mansão de fato lhe colocou um sorriso no rosto, pois de alguma forma torta, mostrava que ela se importava e se preocupava com ela.

Pegando a carta em sua mesa, ela a abriu e notou um anel espacial e alguns talismãs caírem. Ignorando esses, ela leu a curta mensagem que Mira tinha escrito:

[Estou levando Dominique para o Continente do Norte para treinar. Venha me encontrar se quiser conversar.]

“…”

“Pfft-HAHAHAHA~!” Maria explodiu em riso descontrolado. “Aquela mulher… Hahahaha~! Que dor de cabeça~!”

Ainda rindo, ela guardou a carta no seu anel de armazenamento junto com os outros itens e olhou pela janela. “Mas, acho que ela é a minha dor de cabeça~”

***

Do outro lado, enquanto estava nas costas de Rhydian, Mira nem sequer pensou nos itens que Maria deixara para ela.

Enquanto continuavam para o norte, Mira aproveitou essa oportunidade para focar no cultivo de Hana, especificamente seu ‘Estágio de Refinamento dos Órgãos’ dentro do Reino do Fortalecimento Corporal.

Usando uma técnica que ela criou através do estudo do Reino do Fortalecimento Corporal, outras técnicas que ela estudou, e com ajuda do FLDIL, Mira guiou Hana pelo processo de refinar seus órgãos perfeitamente.

Hana já tinha aberto todos os seus meridianos perfeitamente, o que quase não exigiu esforço comparado aos outros estágios.

Esse processo de refinamento de órgãos era delicado, exigindo que Hana canalizasse seu Qi de maneiras precisas para fortalecer e purificar seus órgãos internos.

Hana mostrou uma aptidão notável para o cultivo sob a tutoria de Mira. Seu progresso era constante, e ela absorvia os ensinamentos como uma esponja. Através dessas sessões de treinamento, a mãe de Hana também aprendeu o que Mira queria dizer com ‘objeto de teste’.

Linnea, é claro, não foi deixada para trás. Como poderia Mira permitir que alguém de seu grupo ficasse ociosa enquanto todos os outros estavam treinando?

Assim, Mira submeteu Linnea à mesma série de exercícios de fortalecimento que Hana teve que enfrentar quando começou esses ‘experimentos’. Linnea poderia tecnicamente ser uma inválida, mas isso não significava que ela não pudesse se fortalecer ao menos um pouco.

Até mesmo mortais sem talento podiam cultivar dentro do Reino do Fortalecimento Corporal, muito menos alguém cuja cultivação costumava ser muito acima disso.

Conforme se aproximavam da extremidade norte da Cadeia de Montanhas das Bestas Ancestrais, a paisagem começava a mudar dramaticamente. O ar ficava mais frio e o terreno mais acidentado e perigoso.

Após cerca de uma semana de viagem, eles chegaram a uma grande cidade costeira conhecida como Porto da Margem Gelada.

Porto da Margem Gelada era um centro para comerciantes, marinheiros, aventureiros e mercenários. A cidade foi construída para resistir ao clima rigoroso do norte, com prédios robustos de pedra e altas muralhas protegendo-a dos ventos oceânicos intensos.

Seus portos estavam repletos de navios de todos os tamanhos, alguns se preparando para enfrentar as perigosas águas dos mares do norte.

Ao entrar em Porto da Margem Gelada, o grupo imediatamente sentiu a mudança na atmosfera. Não era nada como as cidades do interior.

Era incrivelmente diversa, com todos os tipos de raças e pessoas que nunca tinham visto antes, junto com um tom caótico mais silencioso.

Apenas caminhando pela cidade por alguns minutos, eles viram várias pessoas começarem a lutar. No entanto, havia uma falta de intenção de matar que pegou Mira desprevenida.

‘Então, estão apenas brincando? Ou, eu acho, afirmando sua dominância?’ Seus olhos brilhavam com emoção, mas Rhydian e Elenei a mantinham afastada, não querendo que ela criasse uma cena assim que pusessem os pés na cidade.

Mira e seus companheiros se dirigiram a uma estalagem modesta, mas confortável perto do centro da cidade. O dono da estalagem era um homem robusto com um rosto enrugado que os recebeu com uma mistura de curiosidade e cautela.

“Você não parece ser daqui.” O homem no balcão disse com os olhos semi-fechados.

Antes que Mira pudesse abrir a boca, Linnea se adiantou e sorriu. “Vamos querer três quartos por uma semana, por favor.”

O homem apenas resmungou, mas captou a dica. Ele tirou três chaves e entregou a eles. “Isso vai custar 1.500 Pedras Espirituais.”

Elenei jogou uma bolsa para ele, e eles seguiram seu caminho.

Após garantirem quartos para a noite, Mira reuniu o grupo na área comum da estalagem. Eles precisavam planejar cuidadosamente o próximo passo. O Continente do Norte era notório por seu clima imprevisível e criaturas marinhas ferozes, tornando a jornada através do oceano um grande desafio se não encontrassem as pessoas certas.

“Precisamos encontrar um capitão e uma tripulação confiáveis,” Mira declarou, sua voz firme. “Alguém que conheça essas águas bem e possa nos navegar com segurança até o Continente do Norte.”

Dominique assentiu em concordância. “Também devemos reunir mais informações sobre o próprio continente. Quanto mais soubermos, mais preparados estaremos.”

Rhydian, em sua forma humana, encostou-se à parede, seus olhos varrendo a sala. “Vou dar uma olhada nos cais amanhã.”

Elenei, sentada silenciosamente à mesa, falou. “Vou acompanhá-la.”

Mira olhou para Linnea e Hana. “Vocês duas virão comigo. Quem sabe que tipo de malandros podem tentar tirar proveito de vocês.”

Linnea assentiu, um olhar determinado em seus olhos. “Entendo. Farei o meu melhor para ajudar.”

Hana, segurando a mão de Dominique, deu um pequeno sorriso. “Eu também vou me esforçar muito!”