Capítulo 849: Pânico

No dia seguinte, Mira e Dominique saíram da estalagem, deixando Linnea e Hana descansando.

A cidade em que estavam era cheia de atividades, mas não era muito grande. Enquanto caminhavam pelas ruas movimentadas, Mira examinava a multidão, procurando o lugar certo para reunir informações.

Logo se encontraram em um mercado animado, onde comerciantes de todos os lugares se reuniam. Mira e Dominique se separaram para cobrir mais terreno, combinando de se encontrar em uma hora.

Dominique facilmente puxava conversa por causa de sua aparência fofa e semelhante a de uma raposa com os vendedores e viajantes. Embora houvesse alguns que a olhavam com olhares mais maliciosos, eles não ousavam fazer nada, pois a mulher com quem ela veio era conhecida por todo o continente.

“Só os mais fortes podem voar sobre ele em segurança,” disse um velho de rosto cansado para Dominique. “Aqueles no Reino do Mar Divino não têm problemas, mas para os Anciãos do Reino da Morte da Mortalidade, é um risco de morte.”

Dominique franziu a testa, considerando suas opções. Mira, embora incrivelmente poderosa, ainda não havia alcançado o Reino do Mar Divino e não o faria por um tempo.

“A maneira mais segura para a maioria é de barco,” continuou o homem, “mas até isso não é sem seus perigos. Tempestades, bestas marinhas e até humanos… O oceano é um lugar onde os fracos têm certeza de morrer.”

“Sério? Como você sabe tanto, Vovô?” perguntou Dominique com olhos brilhantes, deslizando casualmente um anel cheio de Pedras Espirituais.

“Hohoho! Este velho costumava viver perto do oceano, mas eu queria uma mudança de cenário, então me mudei para esta pequena cidade tranquila; longe da maioria dos perigos, mas perto o suficiente para colher os benefícios.” O velho riu.

Dominique agradeceu a ele e seguiu em frente, reunindo mais pedaços de informação.

Ela ouviu de outros sobre uma Matriz de Teletransporte que conectava os continentes, mas era fortemente guardada e exigia uma taxa elevada. Mesmo aqueles das grandes Seitas não podiam passar sem um motivo. Fazer isso seria considerado um ato de guerra.

Outra opção era ser escoltado por um especialista poderoso, mas encontrar alguém disposto a correr tal risco seria um desafio. Sem mencionar o incômodo.

Enquanto isso, Mira coletava informações semelhantes. No entanto, ela preferia a direção e eficiência, questionando comerciantes e corretores de informações com uma atitude direta.

Quando se reuniram, Mira e Dominique trocaram suas descobertas.

“Parece que a melhor opção é irmos para o norte em direção ao mar,” concluiu Mira. “Lá, encontraremos informações mais detalhadas.”

Dominique concordou com a cabeça. “Entretanto, temo que a notoriedade da Mãe pode tornar muita gente relutante em trabalhar conosco.”

Mira franziu a testa, mas não pôde refutar as palavras de Dominique. “Tch. Veremos quando chegarmos lá.”

Com o plano definido, elas voltaram à estalagem para informar Linnea e Hana sobre a decisão. Linnea, claro, expressou preocupação, mas o que ela poderia dizer contra Mira? Hana estava no mesmo barco.

Nenhuma teve voz na decisão.

Nem uma hora após terem tomado sua decisão, o grupo montou no Rhydian e voou, rumo ao Norte. Mas não antes de fazerem um pequeno desvio.

***

Dentro da cidade de Vorandis, Mira caminhava com um grande manto sobre o corpo. Ela se envolveu em uma ilusão para mudar seu rosto e aura, mantinha a técnica do Mundo Oculto ativa e até alterou seu corpo real para parecer mais humana e não chamar atenção.

“Você ouviu falar? A Santíssima avançou para o Reino da Transformação da Alma recentemente.”

“Sim! E não só isso, mas eu sinto que ela está ainda mais bonita do que antes! Ahh~ O que eu não faria para ter um dia a sós com ela.”

“Pare de sonhar acordado! Há rumores por aí de que ela está conectada à ‘aquela’ pessoa.”

“…C-Caralho… Sério mesmo?”

“Eu até ouvi dizer que ‘aquela’ pessoa acabou de destruir a Cidade de Brightclipse!”

“…Deixa para lá. Estou satisfeito só com a cura da Santíssima. Não quero passar nenhum tempo a sós com ela.”

Mira quase decepou a cabeça do homem que se atreveu a ter pensamentos sobre sua noiva, mas se conteve ao ouvi-lo reconsiderar.

No entanto, ela ficou surpresa com o número de pessoas falando sobre o Sanctuário ou Maria só de caminhar pelas ruas. Inferno, ela podia até ouvir as pessoas falando sobre ela em suas casas.

Quer se tratasse de sua reputação excepcional, de suas habilidades de cura semelhantes à de um deus ou dos produtos de alta qualidade e razoavelmente caros que ela vendia, tudo era positivo.

Estendendo sua audição, ela tentou ouvir as conversas de algumas das pessoas mais fortes dentro da cidade.

“…Então, alguém tem alguma ideia de como lidar com o Sanctuário?” Um homem no topo de um dos prédios mais altos perguntou aos seus subordinados.

“…Eu acho que deveríamos simplesmente deixá-los em paz.”

“Eu também!”

“Sim.”

“…” O homem suspirou e disse: “Olhem, eu sei que todos vocês receberam cura dela, o que possivelmente salvou suas vidas, mas ela está consumindo a cidade! A este ritmo, logo todo este lugar será dela!”

Ninguém na sala disse nada, mas as respostas estavam estampadas em seus rostos. Eles estavam dizendo:

‘S-Seria isso uma coisa boa?’

‘O poder é ótimo, mas viver é o que mais importa.’

‘Ela também é alguém de grande caráter moral! Podemos ganhar mais dinheiro com ela do que com você!’

“Líder! Acho que em vez de irmos contra ela, deveríamos tentar cooperar. Pelo que ouvi, ela não é apenas uma discípula da Seita das Donzelas de Batalha, mas também é conhecida por ser próxima de Mira, sua Discípula Primária. Se fizermos algo para prejudicá-la…” A mulher que falou não precisou terminar a última frase para eles entenderem.

Mira parou de ouvir ali, satisfeita com as respostas deles. ‘Parece que Maria desenvolveu seu negócio muito bem. Sua opinião pública é tão alta que, apesar de ter muitos concorrentes, ninguém ousa fazer nada.’

Havia também o fato de quase todos na cidade parecem ter sido curados ou salvos por ela pelo menos uma vez. Tentar prejudicar Maria dentro de Vorandis era equivalente a atirar no próprio pé.

‘Bom.’ Mira acenou com um leve sorriso. ‘Estou feliz que ela está fazendo nome para si mesma.’

No entanto, esse sorriso se tornou sombrio quando ela lembrou como ela ‘matou’ Maria.

‘Deveria eu… vê-la? Provavelmente deveria pedir desculpas, certo?’ Mas quando foi a última vez que fez isso? Já fazem pelo menos algumas vidas. ‘Eu nem sei se consigo fazer isso direito.’

Com um suspiro, Mira tomou uma decisão e caminhou em direção ao Sanctuário. Ela passou pela fila e entrou no prédio sem que uma única pessoa a notasse. Agora, seu controle sobre os elementos e seus próprios poderes inatos era tão alto que quase ninguém na cidade poderia detectá-la, a menos que estivessem ativamente procurando por ela.

Em segundos, ela se infiltrou no escritório de Maria, apenas para encontrar o local vazio.

Após outro suspiro, Mira retirou uma carta de seu Espaço de Armazenamento e a colocou na mesa. No entanto, justo quando estava prestes a sair, algo chamou sua atenção. Era um bilhete branco intitulado ‘Para Mira’ com um anel espacial em cima dele.

Atônita, ela instintivamente pegou os dois objetos e os enfiou em seu Espaço de Armazenamento antes de disparar para fora do Sanctuário.

De repente, ela sentiu um par de olhos olhando em sua direção, e embora pudesse sentir que eles não estavam exatamente em cima dela, Mira sabia que alguém estava procurando por ela.

Virando-se, ela viu Maria olhando para fora de uma janela no topo da mansão, acenando com a mão com um sorriso vago no rosto. Suas emoções eram impossíveis de ler, até mesmo para alguém como Mira.

Pela primeira vez em muito tempo, Mira entrou em pânico. Insegura do que fazer, ela desapareceu de sua localização sem hesitar, rapidamente saindo da cidade.

Se foi por orgulho, culpa, ego ou algo completamente diferente, ela sentiu que não estava emocionalmente pronta ou merecedora de enfrentar Maria naquele momento. O que quer que Maria quisesse dizer, ela não queria ouvir.

Ela clicou a língua enquanto fazia seu caminho para os arredores. Poucos segundos depois, ela pulou nas costas de Rhydian e ordenou friamente, “Vá.”

Rhydian estremeceu e apressadamente levantou voo, enquanto todos os outros estavam curiosos por que Mira estava tão diferente apesar de ter saído por apenas alguns minutos.