Filha da Bruxa e o Filho do Diabo - Capítulo 60

60: Premonição 60: Premonição Bem no interior da Floresta Negra, na região sudeste de Hatha, um grupo de mercenários rústicos montou acampamento em uma área montanhosa que não era frequentada por caçadores comuns devido à sua proximidade com os perigosos picos de montanhas que diziam ser amaldiçoados por espíritos malignos.

Esses mercenários eram, na verdade, a outra metade da tropa aliada liderada por Cian de volta para Abetha. Mesmo com suas habilidades de elite, eles não se arriscavam a viajar às cegas durante a noite dentro da floresta e, portanto, foram forçados a parar novamente. Devido à sua velocidade deliberadamente lenta e atos de ocultação, tomando rotas que não eram frequentadas pela maioria das pessoas, seu grupo ainda estava dentro do território de Hatha. Se nada desse errado, levariam mais um dia e uma noite inteira para alcançar a capital. 
Drayce não descansava desde que deixaram a Fortaleza de Barknor, optando por verificar a saúde deteriorante de Slayer ou patrulhar ao redor do acampamento caso uma emboscada fosse armada pelos inimigos, juntando-se aos cavaleiros que foram designados para manter a vigília pelo grupo. 
Sua inquietação incomodava não apenas os cavaleiros que foram privados de seus deveres, mas também os dois príncipes herdeiros que estavam tensos o tempo todo.

“Não dormir e manter os olhos o tempo todo sobre ele não o fará curar mais rápido,” a voz de Arlan interrompeu o silêncio tenso do acampamento. 
Drayce simplesmente levantou a cabeça para olhar para os dois jovens que se juntaram a ele ao redor da fogueira de maneira pouco cerimoniosa.

Cian falou também, “E mesmo que nós mantermos vigília não cure Sir Calhoun mais rapidamente, o Príncipe Arlan e eu estamos dispostos a assumir o posto aqui para cuidar dele e aliviar sua mente. Descanse, Vossa Majestade.”

No entanto, Drayce recusou-se a se mover de seu assento diante do fogo, fingindo como se os dois príncipes herdeiros fossem feitos de ar, e continuou a olhar para a tenda onde Slayer estava sendo mantido.

O ignorado Arlan era igualmente teimoso como seu amigo. “Bem, se você não vai ouvir, uma vez que Slayer esteja bem, terei que contar a ele sobre isso, e então você sabe o que ele fará…”

Drayce o encarou, mas desta vez, ele não ousou ignorar o aviso de Arlan. Ele se levantou e foi em direção à tenda que estava montada atrás dele sem dizer uma palavra.

Sua resposta surpreendeu Cian, que olhou para Arlan com um olhar indagativo. Embora Cian tivesse poucas interações com o jovem rei, pelo que ele havia observado até agora, era quase impossível persuadir Drayce a fazer algo que ele não quisesse. O Rei de Megaris era teimoso a ponto de ser um defeito. 
“É entre esses dois,” Arlan respondeu à pergunta não verbalizada de Cian. 
Cian deu-lhe um olhar duvidoso, e Arlan riu. “Não entenda mal. Eles não são apenas um rei e seu cavaleiro, mas melhores amigos desde a infância.”

Cian entendeu. 
Logo que Drayce deitou dentro de sua tenda e fechou os olhos, de repente, seus olhos vermelhos se abriram em choque. Seus batimentos cardíacos aceleraram sem motivo aparente, e havia uma ansiedade esmagadora pesando fortemente dentro de seu peito. 
Como se algo ruim tivesse acontecido.

A última vez que sentiu essa exata sensação misteriosa foi quando era criança, e naquela época, ele perdeu alguém precioso para ele. 
‘Slayer!’
Drayce imediatamente saiu da tenda e foi até onde seu cavaleiro guardião estava. 
Arlan e Cian, que estavam conversando casualmente, viram seu desespero e imediatamente o seguiram em direção à tenda próxima. 
“Slayer!” Drayce chamou ao puxar a aba da tenda para o lado e entrar. 
O cavaleiro ferido permaneceu inconsciente e não reagiu ao grito de seu rei, mas o velho médico que estava dormindo na mesma tenda que Slayer despertou com o alvoroço. Ele franzia o cenho desaprovador para o homem de olhos vermelhos. “Que alvoroço é este? Ele não está morto ainda!”

“Verifique-o,” Drayce ordenou friamente. 
“Você não ouviu o que eu disse?”

Drayce apenas repetiu suas palavras. “Verifique-o.”

A contragosto, o médico se levantou e olhou para Drayce com uma expressão irritada. 
O velho segurou o pulso de Slayer e verificou seus olhos e boca antes de examinar suas extremidades enfaixadas. “Este cavaleiro resistente ainda não está completamente fora de perigo, mas como fiz tudo o que podia para que sua situação não se deteriorasse, seus sinais vitais estão agora estáveis. Devo dizer que é um milagre que, apesar de ainda não ter um tratamento adequado, sua condição não está piorando.”

Drayce sentiu alívio ao ouvir essas palavras, mas a ansiedade que sentia dentro de si não desapareceu. Se esse presságio não era para Slayer, quem mais próximo a ele estava em perigo atualmente para fazê-lo sentir-se assim? 
Após trocar algumas palavras com o médico, Drayce finalmente soltou o fôlego que não percebeu que estava segurando e saiu da tenda. Arlan e Cian o esperavam do lado de fora. 
Arlan perguntou a ele, “O que aconteceu? Slayer está bem? Precisamos fazer alguma coisa?” 
“Não tenho certeza,” Drayce respondeu com a testa franzida. “Algo não parece certo.”

Arlan e Cian trocaram um olhar, confusos com o que ele quis dizer. 
“Você está muito cansado, deve ser por isso,” Arlan sugeriu. 
Drayce não parecia convencido. Ele se voltou para Cian. “Quanto tempo levará para chegarmos à capital de Abetha?”

“Com a nossa velocidade atual, cerca de um dia e uma noite, então chegaremos lá em dois dias,” Cian respondeu. “Sem nenhum descanso, podemos chegar lá antes da meia-noite de amanhã, mas duvido que possamos encurtar o tempo de viagem, pois isso será muito duro para o velho homem e seu cavaleiro.”

Drayce sabia disso também, mas não pôde deixar de confirmar mais uma vez. Ele se viu incapaz de relaxar até ter certeza de que Slayer estava completamente seguro. 
——–
Dentro do Palácio Real de Abetha, o caos causado pelo grito de Seren ainda não havia se acalmado.

Enquanto os guardas reais e servos estavam ocupados correndo de um lado para o outro para atender os feridos e trazer a ordem de volta aos terrenos do palácio, e o Rei de Abetha mantinha vigília diante da torre de sua filha devido a uma imensa preocupação com ela, havia pessoas que permaneceram calmas durante todo o incidente da noite, aparentemente preparadas para enfrentar essa catástrofe.

“Mãe, você sabia que isso aconteceria?” 
A Segunda Princesa de Abetha, Meira, não pôde deixar de perguntar à Rainha Niobe, que estava sentada calmamente em uma cadeira de madeira à sua frente. Apesar de ser no meio da noite, a mulher de cabelos loiros e de meia-idade permanecia regiamente bela em sua camisola, não um defeito em sua pele clara nem um fio de cabelo fora do lugar. Da mesma forma, sua filha mais nova estava na mesma situação, pois havia sido acordada por sua mãe para vir visitá-la e ficar com ela dentro dessa sala durante a noite. 
A Rainha sorriu sem responder à filha, mas sua expressão parecia a de alguém que alcançou algo grande naquela noite.

“Mãe!” Meira chamou novamente.

Finalmente, a Rainha Niobe saiu de seu êxtase de sucesso e olhou para sua filha mais nova, que estava sentada inquieta à sua frente com uma expressão extremamente curiosa. A Rainha apenas sorriu, mas não respondeu à pergunta de Meira.

“Você está bem, querida?” a Rainha Niobe perguntou.