230: Um Começo Ruim? 230: Um Começo Ruim? “Não consigo acreditar que acabei de conhecer de perto o famigerado Lucas Nicholas Alexander.” Samantha falou de repente enquanto dirigia o elegante Lamborghini suavemente pela espaçosa estrada. Ao rever os pontos da reunião de hoje no meu bloco de notas, minha atenção se volta para ela num instante. “Ele não é nada do que eu ouvia as pessoas falarem antes.” Ela continuou sem tirar o olhar da estrada.

Cada nervo do meu corpo desperta bruscamente com a menção do nome de Luca. Samantha não era do tipo expressiva, ela nunca havia sido vocal em seus pensamentos e opiniões, mas pela primeira vez desde que a conheci, finalmente vi esse lado dela. Isso me intrigou ainda mais a perguntar mais sobre o homem.

“Como era o Lucas antes de você conhecê-lo?” Pergunto baixinho.

“Segundo pessoas que estiveram em contato próximo com ele, dizem que ele era frio, calculista, arrogante e nunca prestava atenção em ninguém ao seu redor.” Ela explicou, parando um pouco para pisar nos freios quando o semáforo ficou vermelho.

“Essa não é a pior coisa que ouvi sobre ele, no entanto.” Ela continuou enquanto esperava o semáforo ficar verde. “Ele era supostamente insensível, implacável, inconsiderado e, acima de tudo, nunca sorria antes.”

“Qual a diferença agora?” Pensei comigo mesma, sem perceber que expressei meus pensamentos em voz alta sem perceber.

“Eu vi o jeito que ele olhou para você.” Samantha me disse. Desta vez, ela levantou o olhar para me olhar e observar minha expressão.

“Eu também vi isso, e realmente odiei aquele sorriso convencido nos lábios dele, ao ponto de querer socá-lo forte na cara.” Eu respondi com um resmungo nada feminino.

“Não foi isso que eu vi. Ele estava olhando você de outra forma.”

“Então talvez você precise trocar esses óculos para ver as coisas com mais clareza.”

Ignorando-me, Samantha prosseguiu, “Ele gosta de você. O olhar nos olhos dele me disse isso.”

Se estivesse comendo algo, deveria ter engasgado com isso e encontrado meu criador na hora. Sam é uma das poucas pessoas inteligentes que conheço, mas ela não está fazendo sentido para mim agora.

Afeição era algo que eu sabia que alguém como Lucas não é capaz de sentir, especialmente em relação a mim depois do que eu fiz com ele antes do fatal acidente de carro que tirou minha memória.

Talvez Samantha esteja enganada. Pensei comigo mesma, sem duvidar de sua inteligência, mas definitivamente cético quanto às suas observações. Ela não é uma psicóloga que pode ler as emoções das pessoas com base em seus gestos, comportamento e expressão facial. Ela pode estar errada em seu julgamento.

“Lucas nunca me olhará dessa forma, Sam.” Meus lábios se esticaram em um sorriso, mas o brilho mal chegou aos meus olhos. “Se você estivesse no lugar dele, olharia para mim do mesmo jeito depois de ser traído várias vezes?”

“Não.” Samantha respondeu com sinceridade. Eu me lembraria da dor toda vez que te visse. Toda vez que olho nos seus olhos, não sinto nada além de ódio, sabendo que você mentiu para mim inúmeras vezes, e eu me odiaria ainda mais por acreditar nelas.”

“Você já foi traída antes?” As palavras já estavam fora dos meus lábios antes que eu pudesse me conter.

Samantha não respondeu. O semáforo ficou verde. Ela pisou no acelerador para ultrapassar um BMW vermelho antes de murmurar um sim quase inaudível.

Estava meio que esperando ver um rastro de amargura em seus olhos quando olhei para ela, mas, surpreendentemente, sua linda face não mostrava nada além de serenidade e aceitação.

“O que aconteceu?”

“Nós namoramos secretamente por três anos. Ele era o único que me aceitava como eu era e entendia porque eu tinha que me vestir como um menino para agradar meu pai. Eu achava que ele era o cara certo, mas ele nunca esclareceu qual era a real situação entre nós. Mas eu nunca perguntei porque o amava. Esperei por anos, mas ele nunca pediu minha mão em casamento, e então ele conheceu minha prima, olhou para ela uma vez e se apaixonou. Em questão de meses, ela ficou grávida e ele a pediu em casamento.”

“Isso parece doloroso.”

“Foi mesmo… levei anos para me recuperar. Eu o perdoei, mas nunca esqueci o que ele fez.”

“Deve ter sido o que Lucas sentiu quando descobriu que eu estava tendo um caso com vários homens. Não há como ele olhar para mim com carinho nos olhos depois de toda a dor que causei a ele.”

Samantha não respondeu porque sabia que minhas palavras eram verdadeiras. Ela experimentou a dor da mesma forma que Lucas, então não podia discordar de mim.

As duas ficamos em silêncio até chegarmos ao nosso destino.

Samantha estacionou o carro na área de estacionamento privativa e, quando saímos, fomos direto para a entrada, onde os funcionários estavam descansando na área. No entanto, quando me viram entrar pelas portas automáticas, a pequena multidão se calou e um silêncio ensurdecedor tomou conta do saguão.

Olhei para Samantha confusa. Ela parecia não se importar com a reação inexpressiva que causei na pequena multidão, mas eu me importava. Isso me faz questionar o quão horrível tinha sido minha reputação com base no jeito que eles olham para mim.

“Ignore-os.” Samantha disse em voz baixa, apenas o suficiente para eu ouvir.

Respirei fundo, passei por eles e fomos em direção ao elevador. “Por que eles me olham assim?” Eu tive a coragem de perguntar a ela quando a porta do elevador se fechou.

“Eu preciso te contar?”

“Quero ouvir a resposta por mais desagradável que seja.” Eu disse a ela.

“Bem”, Samantha começou enchendo o peito de ar antes de continuar. “Ninguém gosta de você aqui… Exceto, é claro, por um grupo de homens querendo tentar a sorte com você.”

“Eu já sei dessa razão.”

“Essa não é a única razão.” Sam interrompeu educadamente.

“Me conte.”

“Bem, teve uma vez que você demitiu cem funcionários só porque estava tendo um dia ruim.”

Um suspiro escapou da minha boca. “Caramba, eu fiz isso?” Eu encarei ela incrédula, esperando que ela estivesse brincando.

“Você fez.” Samantha confirmou.

Não é à toa que as pessoas me rotulavam de VADIA DO SÉCULO, pensei comigo mesma, culpada como o inferno e enojada com a minha falta de ética no trabalho.

“Se eu continuar explicando por que os funcionários aqui não gostam de você, isso vai durar uma semana.”

“Sou tão ruim assim, né?”

“Não ruim. Má.” Ela me corrigiu. Surpreendentemente, eu não me ofendi, pois já estava acostumada com suas respostas brutais e honestas.

“Apenas siga este conselho meu, seu passado não afeta seu presente a menos que você permita. Desde que você esteja determinada a mudar quem você é para melhor e corrigir o que fez de errado no passado, o que os outros pensam de você não importa.” Samantha respondeu pensativa.

“Eu vou lembrar disso. Obrigada.”

Caminhar pelos corredores não foi diferente do saguão. Funcionários que me viam paravam na mesma hora, suas expressões pálidas pareciam como se tivessem encontrado o diabo face a face. Bastou alguns segundos para a reação deles passar de choque para ódio e desgosto.

Ajuda e culpada como o inferno, mantive meu olhar no chão para evitar olhares afiados.

Depois de quase demorar uma eternidade para chegar ao meu escritório, nós conseguimos entrar com segurança, mas não antes de passar pelo escritório do CEO, onde o nome LUCAS NICHOLAS ALEXANDER estava impresso em letras maiúsculas.

Eu sei que ele está de folga hoje. É um bom sinal do céu. Meu dia ainda não está oficialmente arruinado.

Mas pouco sabia eu que em breve estaria.