Escravo das Sombras - Capítulo 84

84: Semente Preta 84: Semente Preta Aconteceu no dia em que eles mataram o Demônio de Carapaça. Naquela época, todos os três estavam completamente exaustos. Depois de se afastarem do cadáver da criatura gigante e encontrarem um bom esconderijo, caíram no chão e imediatamente dormiram.

Mas eles não ficaram dormindo por muito tempo.

Uma hora ou duas depois, Sunny foi acordado aos solavancos por Cassie, que o segurava pelos ombros. Havia uma expressão de terror escrita claramente em seu rosto.

“Sunny! Sunny! Acorde!”

Imediatamente voltando a si, ele se levantou e chamou o Estilhaço da Meia-noite, com medo de que estivessem sob ataque.

No entanto, não havia ninguém por perto, exceto pela Cassie alarmada e a Nephis cautelosa, que também estava com sua espada erguida, pronta para atacar.

Confuso, Sunny olhou para a menina cega.

“Cassie? O que houve?”

Agarrando-o pelos ombros novamente, ela aproximou seu rosto e sussurrou em tom de súplica:
“Sunny, você precisa impedi-lo! Por favor! Você é o único que pode!”

Ele franziu a testa, sem entender o que exatamente deveria impedir.

‘Ela teve outra visão?’
Tentando acalmá-la, ele disse em tom moderado:
“Está tudo bem, Cassie. Acalme-se, respire. Conte-nos o que aconteceu. Comece do início…”
Ela balançou a cabeça com desespero.

“Não há tempo! Vou esquecer em breve! Todos nós! Mas você, você precisa se lembrar!”

‘Nós vamos esquecer em breve? O que ela quer dizer?’
Não sendo capaz de ver a expressão atordoada de Sunny, Cassie gritou:
“Você precisa se lembrar, Sunny! Cinco! É cinco! Lembre-se! Você tem que se lembrar! É cinco!”

Lembrar… cinco?

A menina cega não estava fazendo sentido. Sunny cuidadosamente colocou o braço ao redor dela, sentindo como ela estava assustada pelo seu corpo tremendo.

“Tudo bem, Cas. Prometo que lembrarei. Cinco, certo? Veja, é difícil de esquecer.”

Nephis os observava com uma expressão de desagrado, sem negligenciar a verificação do ambiente em busca de sinais de perigo de tempos em tempos. Por algum motivo, Cassie estava falando apenas com Sunny, não dando atenção a ela.

O que ela achava que Sunny poderia fazer, mas a Estrela Mutável não?

Ouvindo sua resposta, a menina cega acalmou-se um pouco. No entanto, ainda estava aterrorizada.

“Bom. Bom. Lembre-se, é cinco. Você prometeu…”
A voz dela soava mais e mais baixa, como se ela não tivesse certeza do que estava dizendo. Sunny mal conseguia discernir seu murmúrio.

“…quanto mais complexo o pensamento, mais difícil será mantê-lo. É por isso que posso lhe dizer apenas esta palavra, a coisa mais simples a transmitir… quando chegar a hora certa, isso pode mudar as coisas…”
Escolhendo cuidadosamente as palavras, Sunny perguntou hesitante:
“Cassie? Você pode nos contar o que aconteceu, exatamente?”

Ouvindo sua voz, a menina cega estremeceu e levantou a cabeça para encará-lo.

Ainda havia vestígios de medo em seus olhos, mas, principalmente, havia sido substituído por confusão.

“Hã? Aconteceu alguma coisa?”

Sunny piscou.

Não foi ela quem os acordou em pânico?

‘Espere… por que ela nos acordou, para começar?’
Por algum motivo, ele tinha dificuldade em lembrar dos detalhes dos últimos minutos. A conversa que acabaram de ter já estava confusa em sua memória.

‘Acho que ainda estou atordoado por acordar tão repentinamente. A falta de sono afeta a concentração…’
“Você queria nos dizer algo. Tinha a ver com o… hm… número cinco?”

Cassie levantou as sobrancelhas.

“Cinco? Por quê cinco?”

Sunny não sabia o que dizer. Ia fazer a mesma pergunta.

“Não faço ideia.”

Perplexo, ele olhou para Nephis, esperando que ela pudesse esclarecer a situação.

A Estrela Mutável estava parada a alguns passos de distância com uma expressão distraída no rosto. Sentindo o olhar dele, ela o encarou e perguntou:
“Por que você está com sua espada em punho?”

Sunny olhou para o Estilhaço da Meia-noite e tentou lembrar o que o havia levado a invocar a Memória.

“Uh… não tenho certeza. Por que você invocou a sua?”

Nephis olhou para baixo, como se notasse a espada em suas mãos pela primeira vez. Uma expressão de dúvida apareceu em seu rosto.

‘O que está errado com nossas cabeças hoje?’
Entendendo que era inútil esperar ajuda de Nephis, Sunny suspirou e voltou a olhar para Cassie:
“Você teve outra visão?”

A menina cega estremeceu. Seus olhos se abriram, mais uma vez cheios de medo.

“Uma visão… sim, eu vi uma visão. Uma visão terrível… terrível…”
“O que você viu?”

Ela ficou em silêncio por alguns momentos, tentando se lembrar. Uma expressão profunda de preocupação apareceu em seu rosto. Finalmente, Cassie disse baixinho:
“Eu vi… uma montanha… uma montanha de cadáveres. Inúmeros corpos empilhados uns sobre os outros até formarem uma colina ensanguentada. E no topo, uma pequena semente negra flutuava em uma poça de sangue…”
Ela se calou e depois continuou:
“Acho que era o passado. Mas então eu vi o futuro… um futuro. Éramos nós. Ó, deuses! Nós estávamos… estávamos…”
Sua voz tremia. Como se não ousasse dizer algo em voz alta, Cassie parou.

Sunny esperou por um tempo e depois perguntou com cuidado:
“Nós estávamos o quê?”

A menina cega se virou para ele, confusa.

“O quê?”

Ele coçou a parte de trás da cabeça. Sobre o que eles estavam falando?

“Você estava… hum… nos contando sobre a sua visão. Eu acho?”

Cassie franziu a testa.

“…Que visão?”

Para constrangimento dele, Sunny também não tinha certeza. Ele só se lembrou de algo sobre o número cinco e… uma semente?

Por algum motivo, ele sentiu que esse número era muito importante. Mas por quê? Ele não fazia ideia.

“Eu esqueci.”

De repente, Nephis, que estava parada por perto, abaixou as mãos e dispensou a espada que estava segurando por algum motivo. Olhando para eles com um pouco de confusão, ela perguntou hesitante:
“Por que vocês estão acordados? Precisamos descansar. Algo pode ser atraído pelo cadáver do demônio, então é melhor voltarmos à nossa condição máxima o mais rápido possível.”

Distraído e já esquecendo a conversa com Cassie, Sunny piscou algumas vezes, deu de ombros e decidiu voltar a dormir. Nada disso fazia sentido mesmo. Eles provavelmente estavam atordoados pela exaustão…
Ele estava tão cansado.

…Algumas horas depois, quando a sombra notou a criatura alada dando voltas ao redor da ilha, ele acordou novamente. Naquele momento, a memória do aviso de Cassie estava tão fragmentada e confusa que parecia um sonho estranho.

Mas a semente já havia sido plantada profundamente em seu subconsciente.

E agora que ela havia florescido, Sunny finalmente pôde lutar contra o véu do esquecimento e se lembrar de tudo.