Escravo das Sombras - Capítulo 2587

Capítulo 2587: Forças da Natureza

No fim, eles chegaram ao Quadrante Norte sem muitos problemas. A viagem levou menos tempo e foi muito menos agitada do que qualquer uma das vezes anteriores em que Sunny havia cruzado o oceano — a maioria das Criaturas do Pesadelo parecia estar cautelosa com o Jardim Noturno e mantinha distância, enquanto aquelas que não estavam eram absorvidas pelo casco vivo do navio titânico.

Foi uma visão bastante aterrorizante.

A madeira viva era como areia movediça, recusando-se a soltar quem tocasse sua superfície desgastada. As abominações que imprudentemente tentavam assaltá-la ou escalá-la tinham seus membros presos em sua muralha impenetrável e, em seguida, eram lentamente puxadas para o casco do Jardim Noturno, nunca mais para serem vistas. Elas lutavam desesperadamente enquanto a madeira viva as absorvia — mas sem sucesso.

Algumas conseguiram escapar rompendo e arrancando seus membros presos, mas a maioria acabou sendo apanhada ainda mais devido às suas lutas frenéticas. Quaisquer arranhões que conseguiam deixar na superfície do navio titânico logo desapareciam sem deixar rastro, com todas as evidências de sua existência sumindo.

Assim, os horrores das profundezas tinham bons motivos para temer o Jardim Noturno… ou talvez evitassem o próprio Sunny, sentindo a vasta escuridão escondida em sua sombra.

De qualquer forma, não houve tantos ataques ao comboio quanto Sunny havia antecipado. O que não quer dizer que não houvesse perigo algum: os navios de guerra que seguiam o Jardim Noturno ainda eram vulneráveis, e também havia a ameaça de ataques aéreos.

A Grande Cidadela não carregava apenas milhões de pessoas comuns, mas também incontáveis guerreiros despertos — a maioria deles veteranos experientes do Exército de Evacuação. Jet e os Santos da Casa da Noite estavam lá para manter a situação sob controle, também, então cada assalto ao comboio era repelido com relativa facilidade.

Alguns dos confrontos com as Criaturas do Pesadelo condenadas foram mais memoráveis do que outros, no entanto.

‘…Serei amaldiçoado.’

Desviando seu foco da busca pelos traços do Tecelão, Sunny olhou para frente com uma expressão sombria.

Lá fora, em frente ao Jardim Noturno, o oceano havia se tornado completamente negro.

A mancha de água negra e oleosa se estendia em todas as direções, escurecendo o horizonte distante. Ondas altas batiam violentamente no arco do gigantesco navio, avançando em sua direção como os dedos enegrecidos de um monstro desconhecido… era a Água Negra, um fenômeno misterioso e maléfico que assombrava tanto o Tempestmar quanto os oceanos da Terra.

Ninguém sabia ao certo o que eram as correntes da Água Negra. Alguns consideravam-na uma espécie de Criatura do Pesadelo, outros achavam que eram os restos de um antigo Terror que havia sido despedaçado em milhares de pedaços. Alguns até acreditavam que fosse o sangue de um Titã Profano derramado pelos deuses no amanhecer dos tempos.

No entanto, independentemente do que fosse, ver a água tornar-se negra geralmente significava morte para aqueles que confiavam suas vidas ao mar.

…Mas não desta vez.

Sunny podia vagamente sentir algo mudar no Jardim Noturno quando ele entrou nas águas negras, como se estivesse acordando. Então, o navio titânico esmagou as ondas violentas e continuou navegando, cortando a escuridão ominosa com seu arco.

Algum tempo depois, o oceano clareou.

‘O—o quê?’

Não era que o comboio tivesse cruzado a área manchada pela Água Negra e escapado para águas claras. Em vez disso, a escuridão oleosa que infectava as ondas simplesmente desapareceu.

O Jardim Noturno havia absorvido a Água Negra, assim como faria com qualquer outra Criatura do Pesadelo ou fonte de sustento.

Esquecendo-se de sua busca por alguns momentos, Sunny olhou para a pura vastidão azulada do oceano com uma expressão incrédula.

‘Nunca pensei que veria o dia em que essa coisa pereceria… nem uma vez.’

Seu primeiro encontro com a Água Negra havia ocorrido a caminho da Antártica, pouco antes da Corrente dos Pesadelos consumir o Quadrante Sul. Naquela época, parecia totalmente indestrutível… em uma categoria completamente diferente das coisas que poderiam ser destruídas, até. Como uma força da natureza.

Mas agora, o Jardim Noturno havia despedaçado e absorvido aquela força da natureza, apagando-a da superfície do mundo.

‘Pensando bem… forças da natureza não são mais o que costumavam ser.’

As pessoas naturalmente tratavam desastres naturais como o epítome de calamidades inevitáveis e poder incompreensível. Mas Sunny era um ser que poderia resistir a qualquer tempestade mundana, permanecer de pé durante o terremoto mais devastador e derrubar vulcões em erupção agora. Ele era indiferente a enchentes e não se importava com secas, muito menos com algo tão trivial quanto incêndios florestais.

Ele mesmo poderia causar uma calamidade muito mais aterrorizante do que qualquer coisa que a natureza pudesse reunir. Portanto, não deveria ser surpresa que o Jardim Noturno absorvesse a Água Negra — este curso da Água Negra, pelo menos.

Em algum lugar no Tempestmar, havia milhares a mais.

‘Ainda tenho uma pendência a resolver com o Mar Negro, também…’

Eventualmente, o comboio naval liderado pela Grande Cidadela errante chegou à costa do Quadrante Norte. O navio titânico passou vários dias perto de uma fortaleza do porto, observando os refugiados desembarcando dos navios de guerra e carregando suprimentos.

Considerando o quão impossivelmente alto era o casco do Jardim Noturno, foi preciso um grande esforço e vários sistemas complicados de elevadores e polias para levantar os contêineres de carga até o convés.

Quando tudo isso foi concluído, a fenda radiante do Portal dos Sonhos se abriu em frente ao navio gigante, chamando-o de volta para casa, na nebulosa vastidão do Tempestmar.

Sunny, que estava no seu limite, sentiu-se feliz por escapar da pressão inóspita do mundo desperto e retornar ao Reino dos Sonhos… estranhamente, parecia que o Jardim Noturno estava aliviado por abandonar a vasta extensão estéril do Reino da Guerra, também.

Empurrado por ventos invisíveis, o gigantesco navio navegou para o branco inferno do Portal dos Sonhos e desapareceu da superfície ondulante do oceano, deixando a Terra para trás.