Escravo das Sombras - Capítulo 2564

Capítulo 2564: Aluno Rebelde

Professor Julius nunca esperou que seus anos crepusculares fossem tão ocupados. Ele se lembrava de pensar em se aposentar alguns anos atrás — o mundo estava mudando constantemente, e ele tinha medo de não conseguir acompanhar o ritmo… e, por mais que lhe doesse admitir, suas aulas, que haviam sido vitais para inúmeros jovens Adormecidos no passado, não tinham alta frequência há muito, muito tempo.

Isso era natural, considerando que os Despertos da Segunda e Terceira Gerações… deuses, eles já estavam na Quarta geração?… tinham absorvido a maioria das habilidades necessárias para a sobrevivência na selva do Reino dos Sonhos quando crianças. É verdade que esses currículos escolares eram bastante superficiais, nunca se aprofundando nos assuntos pelos quais ele era apaixonado.

Então, Julius tinha pensado em pendurar o chapéu.

Quem diria que ele e sua família se envolveriam tanto na construção de um futuro mais brilhante para a humanidade em nome do novo Domínio? Sua esposa estava fazendo um trabalho importante ajudando refugiados a se estabelecerem no Bastião, por exemplo. Julius mesmo, por outro lado, se encontrou encarregado de desenvolver um sistema educacional inteiramente novo para os jovens residentes no Reino dos Sonhos.

Havia tanto que ele e a equipe de acadêmicos sob sua liderança tinham que considerar, visualizar e implementar.

Afinal, eles não só precisavam garantir que as crianças levadas ao Reino dos Sonhos aprendessem tudo o que precisavam saber sobre aquele mundo perigoso e se desenvolvessem em adultos competentes, mas também precisavam garantir que as crianças que nasceriam no Reino dos Sonhos no futuro não esquecessem suas raízes, herdando o conhecimento e a cultura da Terra…

O que, ao que parece, não duraria muito neste mundo. Em breve, a Terra se tornaria parte do Reino dos Sonhos também — um fato com o qual ele ainda estava tentando aceitar.

De qualquer forma, Julius passou a maior parte do tempo no Bastião, já que era para onde as instituições governantes da humanidade estavam lentamente migrando. Sua vida ali era tanto cheia de eventos quanto significativa… mas ele ainda gostava de suas raras visitas ao CNQN.

Afinal, este era o lugar onde ele havia passado a maior parte da sua vida — especialmente os terrenos familiares da Academia Despertada.

Julius levou seu tempo caminhando pelos caminhos do parque da Academia antes de entrar no Complexo Sleeper e se dirigir à sua antiga sala de aula. Era lá que seu escritório na CNQN estava agora localizado — apesar de saber quantas chamadas e comunicações com colegas valorizados que ainda residiam na Terra o aguardavam, seu passo era leve e enérgico, e ele cantarolava uma música vibrante.

‘É melhor terminar tudo rapidamente, tirar todos os compromissos sociais planejados do caminho e voltar para casa…’

Havia algo novo e empolgante acontecendo no Bastião todos os dias. Não muito tempo atrás, a jovem Bethany finalmente conseguiu lançar sua ambiciosa usina hidroelétrica. Agora, um bonde mágico estava sendo construído ao longo da avenida principal, e havia inúmeras outras coisas sendo criadas e inventadas também. Julius não queria perder nada.

Infelizmente, ele sabia que muitos de seus colegas eram bastante teimosos e resmungões. Portanto, as reuniões agendadas provavelmente iam se atrasar… especialmente porque seu velho rival acadêmico, Sando — que não era tão arrogante nos dias de hoje, mas ainda um completo embuste — participaria de uma delas.

“Vamos ver. Está quase na hora da chamada com a Fundação Song… hein? O que é isso?”

Julius piscou algumas vezes, o que fez suas sobrancelhas espessas realizarem uma dança complicada e ligeiramente assustadora.

Lá, na sua mesa, havia algo que ele não reconhecia. Era um diário encadernado em couro que parecia bastante comum, mas emanava uma sensação assustadora de algo incomum… quase místico.

Havia também uma nota manuscrita colocada perto dele, com uma caligrafia elegante preenchendo-a. O papel era preto, e a tinta era de prata-branca — a nota parecia um pedaço do céu escuro que alguém cortou descuidadamente do tecido da noite, levando as estrelas e a luz das estrelas com ele.

Julius coçou a ponta do nariz.

“Será que eu me esqueci de trancar a porta?”

A Academia Despertada era uma área restrita com forte segurança, então ninguém deveria ser capaz de entrar em seu escritório sem aviso.

Porém, sua curiosidade venceu sua cautela — bem, naturalmente — e Julius pegou a nota depois de se sentar atrás da mesa.

Seus olhos se arregalaram cada vez mais à medida que a lia.

A caligrafia elegante estava escrita:

[Professor Julius

Você provavelmente não se lembra de mim, mas eu já fui seu aluno.

Muitos anos se passaram desde os dias em que frequentei a Academia Despertada, mas sempre me lembro de suas aulas com carinho. Elas são a razão pela qual sobrevivi o tempo suficiente para lhe escrever esta nota. À medida que envelheço, frequentemente relembro o passado: muitas coisas mudaram, e eu também mudei. Isso, também, é um privilégio que ganhei graças a você.

Você prometeu me tornar imortal no primeiro dia em que nos encontramos. Por favor, perdoe seu aluno incompetente, Professor Julius — eu ainda não sou imortal. Mas estou trabalhando nisso.

Conhecer você foi verdadeiramente minha grande fortuna. Acho que nunca agradeci você propriamente por tudo o que você fez por mim, então, por favor, permita-me expressar minha gratidão desta forma modesta.

Abaixo, você encontrará um relatório de exploração que compilei após viajar por terras distantes no Reino dos Sonhos, visitando lugares que nenhum humano jamais alcançou e desvendando mistérios que ninguém jamais conseguiu resolver — o que, em retrospectiva, foi uma façanha bastante tola, considerando quantas vezes quase fui vítima da minha curiosidade.

No entanto, como o Professor Obel costumava dizer, a humanidade precisa de um pouco de estupidez para sobreviver.

Então, por favor, aproveite os frutos da minha estupidez.

Atenciosamente,

Ninguém]

Professor Julius olhou para a nota espantado.

“Ninguém? O Ninguém?!”

O autor do Relatório de Exploração do Túmulo de Ariel tinha realmente sido seu aluno uma vez?

‘Eu me lembraria de um aluno tão excepcional, com certeza…’

Completamente esquecendo sua agenda, Julius agarrou o diário encadernado em couro e leu o título gravado na capa.

“O Relatório de Exploração sobre… Tudo?”

Abrindo o diário com uma mão trêmula, ele leu as primeiras linhas.

Seus olhos se arregalaram como pires.

“O—o quê?!”