Escravo das Sombras - Capítulo 2563

Capítulo 2563: Velhos Refúgios

Sunny e Nephis haviam estado exatamente neste local onze anos atrás, esperando que os portões da Academia se abrissem para eles… bem, haviam se passado onze anos para o mundo, mas uma dúzia completa para eles, considerando o tempo passado no Túmulo de Ariel.

Era engraçado pensar que eles nem sequer se conheciam na época. Eles também não prestaram muita atenção um no outro — Sunny estava ocupado pensando nos conselhos que Jet lhe dera durante a viagem da delegacia, enquanto Nephis estava ouvindo música e olhando para as paredes da Academia com uma expressão distante.

Eles tinham acabado de se tornar Adormecidos. E agora, doze anos depois… ambos eram Supremos. Eram semideuses empunhando um poder tão assustador que as paredes imponentes da Academia, que antes pareciam impossíveis de transpor, agora nem valiam a pena pensar. Sunny e Nephis eram capazes de conquistar toda a Terra agora — ou destruí-la, se assim desejassem.

‘Como os tempos mudaram.’

Sunny não podia deixar de pensar em quanto aquela breve conversa com Jet moldou sua vida. Ela compartilhou algumas peças de sabedoria inestimável com ele na época — sabedoria que ela mesma adquiriu ao cometer erros e pagar por cada um com sangue. Entre outras coisas, Sunny nunca teria escolhido dedicar seu tempo na Academia a aprender como sobreviver na selva.

Ele teria passado aquelas poucas semanas treinando inutilmente com uma espada, em vez disso. Então, ele não teria tido o conhecimento para juntar o passado da Costa Esquecida… que foi o início de tudo. Na verdade, ele teria se afogado imediatamente após entrar no Reino dos Sonhos no solstício de inverno. Foi o Professor Julius, afinal, quem insistiu que Sunny aprendesse a nadar.

‘É estranho pensar que minha vida poderia ter terminado de forma tão inglória naquela época.’

Um futuro Soberano morreu como um Adormecido porque não sabia nadar. Isso teria sido um verdadeiro golpe do destino.

Balançando a cabeça, Sunny olhou para os portões da Academia. O mar de velas à sua frente ainda queimava — elas foram colocadas ali por aqueles que esperavam pelo retorno seguro de Estrela Mutante após o cerco da Espire Carmesim, inicialmente, mas as pessoas continuaram a acender novas velas mesmo agora que Nephis era Suprema e governava o mundo inteiro.

Se alguma coisa, havia mais velas queimando na frente da Academia do que nunca. O mar de chamas frágeis era muito parecido com a própria humanidade, cada uma representando as esperanças e sonhos de alguém. Chamas individuais poderiam ser extintas e apagadas, mas o brilho das velas como um todo nunca diminuía.

Se houvesse uma representação física do Domínio Humano, seria esta — a chama imortal que se recusava a se apagar, alimentada pela saudade.

…E, claro, cada uma das inúmeras velas tinha uma sombra.

Ninguém iria abrir os portões da Academia para Sunny desta vez, e ele também não precisava deles. Em vez disso, ele simplesmente passou pelas sombras e entrou no terreno da Academia sem ser anunciado, movendo-se invisível.

Tão logo após o solstício de inverno, não havia muitos Adormecidos presentes, então Sunny não precisou se esforçar nem um pouco para passar despercebido. Ele lançou seu sentido das sombras por todo o lado, abrangendo facilmente toda a Academia, e sentiu cada pessoa dentro de seus muros — os alunos, os instrutores e o pessoal.

Então, seguindo um impulso estranho, Sunny passou algum tempo visitando seus antigos refugios e lembrando do passado. O salão de assembleias onde ele conheceu Cassie pela primeira vez, ambos considerados não muito diferentes de mortos-vivos e relegados ao canto dos cadáveres, seu pequeno quarto no dormitório dos Adormecidos… deuses, parecia o auge do luxo na época…

O refeitório onde ele apreciou boa comida pela primeira vez na vida, o anfiteatro onde ele deu aula para uma turma de Adormecidos indisciplinados como palestrante convidado, o quarto fortificado em um dos níveis subterrâneos do centro médico da Academia onde Nephis foi mantida enquanto vagava sozinha no Reino dos Sonhos — aquele foi renovado depois de ter sido explodido — e alguns outros lugares.

Todos eles continham memórias que eram significativas para ele. Essas memórias eram como fantasmas — ninguém mais se lembrava de valorizar esses momentos silenciosos, e elas apenas continuavam a existir em sua cabeça. Todos os vestígios da vida que Sunny viveu foram apagados do mundo, e os lugares que visitou não significavam nada para ninguém mais… não da mesma maneira que significaram o mundo para ele, pelo menos.

Sunny não era exatamente uma pessoa sentimental, então era estranho se encontrar desperdiçando tempo em uma viagem pela memória. Mas era só isso… ele tinha uma sensação de que nunca mais retornaria para a Academia Despertada.

Entrar no mundo desperto estava ficando difícil agora que ele era Supremo, e só ficaria mais difícil no futuro. A própria Terra estava mudando, também — morrendo, realmente.

Então, Sunny tinha a sensação de que da próxima vez que visse a Academia, ela seria como uma ruína perdida em algum canto abandonado do Reino dos Sonhos.

Mas isso também estava bem.

O Tempo estava fluindo, e a humanidade estava fazendo o melhor para não ficar para trás em sua corrente. A natureza do Despertar era diferente agora em comparação a quando ele era um Adormecido — mais e mais daqueles infectados pela Magia do Pesadelo residiam no Reino dos Sonhos, e assim, a maneira como eram ensinados estava mudando também.

Já havia filiais da Academia no Reino dos Sonhos. A primeira foi aberta em Coração do Corvo, enquanto a segunda estava localizada em Bastião — claro, elas focavam mais em preparar jovens homens e mulheres que queriam desafiar o Primeiro Pesadelo por suas exigências terríveis.

O julgamento do solstício de inverno em si se tornaria uma coisa do passado antes de muito tempo. Afinal, não haveria mais distinção entre o Reino dos Sonhos e o mundo desperto, então o Feitiço não teria necessidade nem razão para enviar Adormecidos em uma peregrinação mortal.

‘Despertos vivem vidas longas…’

E alguém como Sunny era quase imortal.

Quando ele olhasse para o mundo em cem anos, haveria algo que restasse daquele que ele conhecia?

Soltando um suspiro silencioso, Sunny olhou ao redor uma última vez, então seguiu para a sala de aula de Sobrevivência na Selva. Na verdade, o Professor Julius não ensinava mais aqui — ele e sua família residiam permanentemente em Bastião agora, e o velho homem passava seus dias construindo um novo sistema educacional para o novo mundo corajoso que estava sendo construído no Reino dos Sonhos pelo Domínio Humano.

Mas ele ainda visitava ocasionalmente o CNQN, e quando o fazia, esta sala de aula servia como seu escritório.

Caminhando até a mesa, Sunny colocou o jornal sobre sua superfície e o estudou por alguns momentos.

Então, ouvindo alguém abrir a porta, ele se dissolveu nas sombras.

Seu trabalho aqui estava feito — ele havia submetido seu último trabalho de pesquisa ao homem em quem confiava para tratá-lo com o maior cuidado.

E que trabalho de pesquisa era esse…

Sunny suspirou amargamente.

‘Oh, deuses… todos os pontos de contribuição que estou perdendo! Ah, meu coração dói…’