Escravo das Sombras - Capítulo 2560

Capítulo 2560: Paz Repentina

O Quadrante Oriental havia sido devastado pela guerra. A coisa peculiar sobre o Andarilho da Pele, no entanto, era que o Grande Terror não discriminava entre pessoas e abominações — ele tomava todo e qualquer receptáculo que pudesse encontrar, esforçando-se para crescer e se espalhar o máximo possível, não importando quem consumisse.

E enquanto os humanos ainda resistiam ao terrível demônio, as Criaturas do Pesadelo que populavam a selva do Quadrante Oriental haviam sido exterminadas e absorvidas pelo Andarilho da Pele há algum tempo. Seus corpos foram então herdados por Mordret, que os levou para seu Reino do Espelho.

Então, no momento, o Quadrante Oriental era o único lugar em qualquer dos mundos que estava completamente vazio de abominações. Ainda havia Portões do Pesadelo aqui, é claro, o que significava que novos monstros atravessariam por eles mais cedo ou mais tarde. Mas, por enquanto, este continente estava completamente seguro e limpo da Corrupção.

Como todos os continentes costumavam ser.

Nephis permaneceu em silêncio por um tempo, então suspirou.

“De fato. É bastante irônico, não é? Embora sua motivação fosse inteiramente egoísta, Mordret prestou um grande serviço à humanidade. Ele salvou um Quadrante inteiro… e talvez muito mais, considerando que o Andarilho da Pele estava à beira de evoluir.”

Sunny soltou uma risada amarga.

“Você está certo. Ele fez algo que nenhum de nós conseguiu fazer… Mordret, de todas as pessoas!”

Nephis possuía grande poder, mas esse poder era, em grande parte, direto. Sunny manejava um Aspecto mais sutil, mas ainda assim não teria conseguido erradicar o Andarilho da Pele sem destruir o continente inteiro — mesmo assim, alguns receptáculos teriam sobrevivido e se escondido em outro lugar, de modo que a praga começaria a se espalhar em um canto diferente do mundo antes de muito tempo.

Mas Mordret possuía um poder que era exclusivamente adequado para destruir criaturas exatamente desse tipo. Desafiando o Andarilho da Pele para um duelo de almas, ele destruiu a própria raiz do Grande Terror sem a necessidade de aniquilar cada um de seus receptáculos.

E agora…

Uma repentina realização atingiu Sunny.

“A guerra acabou.”

A maior parte das forças da humanidade estava atualmente concentrada no Quadrante Oriental — soldados mundanos e Despertos. O mesmo acontecia com os Santos. Até mesmo Jet estava aqui, assim como o Jardim Noturno… agora, todas essas pessoas não tinham mais o que fazer.

As forças militares teriam que ser realocadas para outros pontos críticos — alguns aqui na Terra, outros no Reino dos Sonhos. Tudo isso aconteceu de forma tão inesperada que não havia um plano em prática… muitas reuniões estratégicas teriam que acontecer para ajustar os recursos da humanidade de acordo com a nova realidade.

Havia também a questão da evacuação. A população do Quadrante Oriental estava sendo evacuada para outros Quadrantes e para o Reino dos Sonhos — agora, a principal razão para esse êxodo havia desaparecido.

Será que eles iriam parar a evacuação e abandonar os planos de deixar o Quadrante Oriental, ou continuar a transportar pessoas para longe? O Reino dos Sonhos estava à espera, afinal, e todos teriam que abandonar o mundo desperto mais cedo ou mais tarde.

Havia muitas coisas a decidir.

Sunny já podia sentir sua cabeça doendo.

Nephis lhe deu um olhar cauteloso e de repente perguntou:

“Você acha que realmente não somos páreo para o Gerado pelo Sonho?”

Ela parecia estar descontente e um tanto inquieta por causa do que Mordret havia dito.

Aster, Song, Vale…

Esses eram os três nomes que definiram sua infância. Song e Vale estavam mortos agora, mas Aster permanecia — mais do que isso, Nephis agora sabia que, em grande parte, ela sobreviveu porque Asterion havia segurado os outros dois Soberanos e os impedido de tentar se livrar dela de forma muito aberta.

Não por preocupação com ela ou por algum tipo de sentimentalismo distorcido, mas simplesmente porque ele precisava que ela Despertasse para colher a linhagem do Deus do Sol.

Sunny franziu os lábios e ponderou suas palavras por um tempo.

Eventualmente, ele suspirou.

“O Gerado pelo Sonho parece possuir poderes relacionados à manipulação da mente. Entre todas as Criaturas do Pesadelo que enfrentei, aquelas que mexem com sua mente foram absolutamente as piores. Então… Eu realmente acredito que lidar com ele será um assunto problemático.”

A expressão de Sunny escureceu.

“Acho que o que estou tentando dizer é que não devemos esperar uma vitória fácil. Este… teremos que sangrar por este, eu acho.”

Ele fez uma pausa, então olhou para Nephis e perguntou:

“O que você acha?”

Ela estudou a paisagem desolada ao redor deles por um tempo, depois deu de ombros.

“É como você disse. Será uma luta difícil e não vamos vencê-la sem pagar um preço. Mas… vamos vencê-la. Eu acredito nisso.”

Sunny assentiu.

“Eu também. Não acho que vai ser muito agradável, no entanto.”

Ele balançou a cabeça desanimadamente.

O que havia com os Supremos e seus combates entre si ao invés de focarem sua ira nas Criaturas do Pesadelo?

Dos sete Soberanos nascidos da humanidade até agora, três já haviam perecido — e todos os três haviam sido mortos por outros Supremos, não por poderosas abominações.

Espada Quebrada, Ki Song e Bigorna…

Asterion se juntaria a eles eventualmente, e até lá, não apenas alguns, mas a maioria dos Supremos humanos teria caído pela lâmina de um humano.

‘Filhos da Guerra, de fato.’

Talvez Eurys tivesse razão em não gostar de Sunny e de seu tipo.

Olhando para a paisagem estranhamente tranquila do Quadrante Oriental, Nephis inalou profundamente. Talvez ela estivesse pensando em como este era seu objetivo eventual — um mundo livre dos Pesadelos…

Talvez ela estivesse simplesmente pensando sobre a montanha de decisões que teria que tomar em relação à realocação de seus exércitos.

Virando-se para o radiante Portal dos Sonhos, Nephis olhou para sua sombra — onde uma encarnação diferente de Sunny estava se escondendo — e depois de volta para ele.

“Devemos voltar para o Bastião. Você vem?”

Sunny hesitou por um instante e então sorriu.

“Não. Acho que vou pegar uma carona com Jet. Ela vai levar o Jardim Noturno de volta para o Tempestmar em breve, não vai?”

Nephis o estudou por um momento, então assentiu e se dirigiu para o Portão.

“Não caia em coma desta vez, por favor! Se não se importa.”

Sunny sorriu enquanto se virava para o outro lado.

“Não posso dizer que não vou, mas vou definitivamente tentar…”