Escravo das Sombras - Capítulo 2444

Capítulo 2444: Sonho do Deus Esquecido

Sunny ficou olhando para ela, atordoado.

“Isso… não muda muito? Como assim?”

Nephis hesitou por um longo tempo, então deu de ombros.

“Meu objetivo sempre foi destruir a Magia do Pesadelo. Mas… na época em que escolhi esse objetivo, eu era jovem e sabia pouco do mundo. À medida que cresci e aprendi mais, minha compreensão do mundo expandiu… e, portanto, meus objetivos também se expandiram. A Magia do Pesadelo, os Pesadelos — para mim, são uma e a mesma coisa. Eu quero destruí-los todos. E mesmo que o mal enraizado seja o próprio Pesadelo, o Feitiço não é isento de culpa.”

Sua voz ficou um pouco mais baixa.

“Vocês dois parecem aceitar que a Magia do Pesadelo é uma força benevolente, mas eu discordo. Sim, com o que sabemos agora, é impossível negar que seu propósito, pelo menos, era nobre. Foi criado para salvar o mundo, nada menos. No entanto, vocês se esquecem de que foi criado por um daemon, um ser divino tão antigo quanto o próprio tempo… e seu conceito de benevolência e nobreza teria sido bastante alienígena ao nosso.”

Virando-se, ela olhou para Sunny e Cassie friamente.

“Claro, a Magia do Pesadelo empurra os humanos a percorrerem o Caminho da Ascensão o mais rápido possível — para nos dar força para resistir ao Pesadelo crescente. Mas você já considerou que talvez não esteja fazendo isso da melhor maneira possível? Pelo que vejo, a solução do Feitiço para o problema é simplesmente jogar o máximo de corpos possível sobre ele. A maioria morrerá de forma horrenda, e então, ainda mais pessoas morrerão. Incontáveis vidas serão arruinadas, e gerações inteiras serão eliminadas. Mas enquanto alguns sobreviverem e alcançarem uma Patente mais alta… então tudo está bem, não é?”

Sunny permaneceu em silêncio por alguns momentos, considerando suas palavras. Então, ele disse hesitantemente:

“Mas você não pode negar que é… eficaz, pode? E que estamos em uma situação bastante desesperadora, então não é como se tivéssemos muitas opções.”

Nephis balançou a cabeça.

“É tão eficaz assim? Ou é grosseiro e desperdiçador? Pense em tudo que você experimentou. Será que realmente não havia um jeito melhor? Somos os campeões mais fortes da humanidade, você e eu. Mas é porque éramos os melhores, ou é porque tivemos sorte? As coisas teriam sido diferentes se o Feitiço tivesse sido diferente? Todas aquelas vidas perdidas… todo aquele potencial desperdiçado. Como o mundo teria se desenvolvido se o Primeiro Senhor do Castelo Brilhante não tivesse sido enviado para uma armadilha mortal pelo Feitiço, por exemplo? Até onde ele e sua coorte poderiam ter ido? E quanto a Daeron o Rei das Serpentes? Se o Feitiço não o tivesse enviado para um Pesadelo que apenas alguém imune à Corrupção poderia ter conquistado, o que teria acontecido com o povo do Mar do Crepúsculo?”

Ela balançou a cabeça e rangeu os dentes.

“Você só pode ver o Feitiço de forma positiva porque é seu beneficiário, não sua vítima. Não importa seu propósito, o Feitiço é implacável, desumano e vil. Todo este grande poder, todo aquele potencial surpreendente… e você me diz que o grande Demônio do Destino não conseguiu pensar em nada melhor do que forçar crianças nas mandíbulas do Pesadelo? Você sabe quantos Aspirantes morrem todos os anos sem nunca se tornarem Adormecidos? Eu sei, porque posso sentir suas chamas sendo apagadas dia e noite. Será que realmente não havia um jeito melhor?”

Chamas brancas acenderam nos olhos de Neph, e ela fez uma careta.

“Você pode me convencer de que a Magia do Pesadelo é um mal necessário com o qual estamos presos, mas não pode me convencer de que é benigna. Você não pode me convencer a não odiá-la.”

Então, de repente, sua expressão suavizou, tornando-se fria e impassível mais uma vez. Nephis permaneceu em silêncio por alguns momentos, então suspirou e voltou-se para a janela.

“Bem… não importa, de qualquer forma. Falei sério quando disse que esse novo conhecimento não muda muito — independente de como me sinto em relação ao Feitiço. Há muito tempo, disse a alguém que pretendia conquistar todos os Pesadelos e destruir o Feitiço. E ainda pretendo. A única diferença agora é que sei que haverá um sétimo Pesadelo após o sexto, e que terei que acabar com o Deus Esquecido primeiro antes de desmantelar o Feitiço.”

Ela riu amargamente.

“Não haveria necessidade disso até lá, de qualquer forma. Então, toda essa discussão é fútil.”

Sunny franziu a testa, então inclinou-se um pouco para frente.

“Mas essa é a questão, Neph. Não é fútil. Você esqueceu qual é o nosso objetivo? É prevenir a destruição da humanidade. Matar o Deus Esquecido é o que o Tecelão queria alcançar, não nós. Quem se importa com o que aquele daemon traiçoeiro queria? O Tecelão está morto, então estamos livres para fazer o que quisermos. E para conseguir isso… não precisamos arriscar a nós mesmos em uma batalha contra um ser que nem os deuses nem os daemons conseguiram parar.”

Ele cerrou os punhos.

“Não precisamos conquistar os Sete Pesadelos e destruir o Deus Esquecido. Não precisamos destruir o Feitiço, também — o Feitiço pode continuar mantendo aquela coisa adormecida. Ele a conteve por eras, e pode contê-la por mais algumas eras. Só precisamos nos tornar fortes o suficiente para contender contra as criaturas que estão ameaçando a humanidade aqui e agora… só precisamos nos tornar Divinos.”

Outros teriam chamado-o de tolo ou covarde por pensar assim, mas Sunny não se importava. Na verdade, ele considerava pessoas que não conseguiam enxergar além do que era destinado a elas, tolas.

Claro, o Deus Esquecido era a fonte da Corrupção que assolava o mundo, e destruí-lo teoricamente interromperia a disseminação do Pesadelo… mas e daí?

Nenhum deles havia sequer considerado a possibilidade de um mundo sem Sementes do Pesadelo e Criaturas do Pesadelo antes. Esses eram meramente fatos inalienáveis da vida até poucos dias atrás, e em vez de fantasiar sobre algum tipo de paraíso celestial, eles estavam ocupados planejando como garantir a sobrevivência e prosperidade da humanidade na realidade.

Enquanto seu reassentamento seguro no Reino dos Sonhos pudesse ser garantido, e enquanto houvesse campeões poderosos o suficiente para manter as Criaturas do Pesadelo Amaldiçoadas e Profanas longe, a humanidade não só poderia sobreviver, mas prosperar neste mundo em que viviam.

Já havia vastas cidades como Bastião e Coração do Corvo aqui, no Reino dos Sonhos… havia luzes de rua elétricas e campos férteis, estradas estavam sendo construídas através da selva, caravanas comerciais estavam viajando entre fortalezas humanas, e novos colonos estavam chegando todos os dias. Claro, também havia Criaturas do Pesadelo e horrores além da descrição… mas isso era apenas a vida.

Ele nunca conheceu nada diferente, e a maior parte da humanidade também não. E ainda assim, isso não impediu as pessoas de viverem suas vidas… de lutar, esforçar-se, e prosperar nesse mundo perigoso, mas generoso e belo.

Isso era o que Sunny queria proteger. Foi por isso que ele voltou de sua jornada até a borda do mundo, resolvendo mudá-lo.

Matar algum antigo Deus da Corrupção não tinha a ver com isso. Sunny podia dormir tranquilamente mesmo sabendo que o Deus Esquecido estava sonhando com ele em algum lugar por aí, preso em um Pesadelo pelo Feitiço.

Claro, havia uma possibilidade de que o Feitiço falhasse um dia e que seu prisioneiro despertasse… mas essa também não era uma realidade desconhecida. Afinal, mesmo antes do Feitiço do Pesadelo descer, as pessoas sabiam que o sol morreria um dia, e que o universo inteiro estava caminhando para uma eventual morte.

Mas ninguém se jogava no sol por isso.

O mundo sempre foi destinado a terminar um dia… provavelmente muito depois que a humanidade já tivesse se destruído dez vezes. O despertar do Deus Esquecido não era diferente da morte térmica do universo, nesse sentido.

Somente destruir o Deus Esquecido provavelmente seria muito mais difícil e mortal do que destruir o universo. Afinal, ele era mais antigo que o universo, tendo participado de sua criação.

…E era isso que o Tecelão queria que eles matassem?

Sunny balançou a cabeça.

“Tornar-se Divino já é impossível o suficiente. Claro, eu entendo que somos doutrinados a contar e fazer tudo em sevens, e que parece errado ignorar a conclusão lógica do caminho traçado para nós pelo Tecelão… mas nosso objetivo tem sido nos tornar deuses para proteger a humanidade. Não desafiar o Pesadelo final e corrigir um erro cometido pelos verdadeiros deuses ao projetar o mundo. Não eliminar o Defeito da existência. Um mundo perfeito é um mundo morto, de qualquer forma, então por que iríamos nos lançar em algo totalmente fatal e, além de tudo, sem sentido?”

Nephis olhou para ele com um profundo franzir de testa.

“Para evitar que inúmeras pessoas tenham sua escolha roubada pelo Feitiço do Pesadelo. Para salvar inúmeras vidas de morrer nos Pesadelos. Para garantir que o fim do mundo nunca venha. Para destruir o Feitiço de uma vez por todas! Por que… por que você não consegue ver isso?”

Sunny não respondeu por um tempo, olhando para ela silenciosamente.

Ele sabia… ele sabia que lá no fundo, Nephis era uma pessoa egoísta. Que ela fazia o que queria, e era apenas uma feliz coincidência que o que queria era ser uma pessoa justa e decente — de acordo com seu próprio entendimento severo de justiça e decência, é claro.

Mas o que ela realmente queria era destruir o Feitiço, que ela odiava — e fazê-lo de uma maneira que não tivesse vergonha.

Vingar-se do mundo.

Os Portões do Pesadelo, o Feitiço do Pesadelo, eram de fato tudo a mesma coisa para ela. Ela não seria capaz de abrir mão de seu desejo mais ardente facilmente.

Mas…

Sunny era uma pessoa egoísta, também.

“Eu vejo isso. Mas eu… eu simplesmente não quero que você jogue sua vida fora, Neph. Não em uma tentativa de criar algum tipo de Jardim do Éden perfeito, entre todas as coisas. Eu preciso de você viva… por favor, tente ver isso também.”

Eles permaneceram em silêncio por um tempo, olhando um para o outro.

No final, Nephis suspirou e virou-se.

“…Por que estamos discutindo, afinal? Não está nem garantido que vamos sobreviver ao Quinto Pesadelo, quanto mais ao Sexto. Nem mesmo podemos pensar em desafiar o Sétimo agora, e não será por muitos anos. Então… vamos cruzar essa ponte quando chegarmos lá.”

Sunny permaneceu por um tempo, então assentiu relutantemente.

“Claro. Vamos nos concentrar no que precisamos fazer agora, de fato.”

Ele sabia que ela não tinha sido convencida, e que sua determinação de destruir o Feitiço do Pesadelo estava tão firme como sempre.

Mas… Sunny também sabia que muitas coisas poderiam mudar com o tempo. Então, ele tacitamente concordou em continuar essa conversa mais tarde, por enquanto.

Nephis suspirou.

“Então, quais são seus planos?”

Ele se recostou e sorriu.

“Bem, já que você tão gentilmente se livrou daquele Demônio Amaldiçoado e abriu o caminho para o Labirinto Espelho, pensei em pegar Effie e explorar o Bastião Verdadeiro um pouco. Oh… mas quero fazer uma breve parada nas terras congeladas a oeste daqui primeiro. Tem algo lá que eu quero tentar encontrar. Vou partir para o Bastião depois disso.”

Nephis hesitou por um momento e então assentiu.

“Bom. Na verdade, eu encontrei algo após a batalha com a Abjuração. Um fragmento de um dos Reflexos de Mordret. Ele poderia ter estado lá desde quando soltamos aquele Demônio Amaldiçoado no Bastião Verdadeiro há um ano atrás, mas algo me diz que chegou lá depois. Então, ele pode estar escondido em algum lugar naquele Labirinto Espelho… é bom que você esteja indo para lá.”

O sorriso de Sunny diminuiu um pouco.

“Aquele cara? Que maravilha.”

Com isso, ele se virou para Cassie.

“Ele não estava escondido naquele pedaço de espelho por acaso, estava?”

Ela balançou a cabeça.

“Não… a Abjuração o teria pegado, e eu verifiquei só para ter certeza disso.”

Sunny assentiu com alívio.

“Bom. Então… acho que terminamos por hoje. Acho que todos precisamos de um tempo para digerir todas essas novas informações.”

Ele olhou para Nephis, sabendo que os dois tinham muito a conversar… e fazer isso sozinhos seria melhor.

Fora da janela, o sol já estava surgindo além do horizonte.

Um novo dia havia chegado ao Coração do Corvo.