Escravo das Sombras - Capítulo 2442

Capítulo 2442: Ciclo Autossuficiente

“…E então, Eu decepei a cabeça do Tirano de Neve.”

Ele terminou a descrição da batalha com uma expressão pensativa, olhando para as estrelas queimando no céu preto e frio além da janela.

“Eu acho que estava basicamente mentindo através dos dentes para me confundir — bem, na verdade, não acho que tinha uma boca, então estava mentindo através do que quer que tivesse no lugar dos dentes. Marionetista definitivamente não era tão imune à loucura da Corrupção como se apresentou, pelo menos. Quanto ao resto…”

Ele franziu a testa.

“…Talvez houvesse alguma verdade no que disse, afinal. Mesmo que tenha distorcido todo o significado para plantar sementes de dúvida na minha mente.”

Falando nisso, Sunny sentiu algumas dessas ainda crescendo em seu coração após voltar do Jogo de Ariel — logo para dar à luz às larvas de Vermes da Dúvida, certamente. Ele as envenenou com a Vontade da Morte e as obliterou completamente, tremendo de medo e nojo, então pediu a Nephis para purificá-lo com suas chamas radiantes, só por precaução. Kai passou pela mesma limpeza.

Isso resolveu o problema, impedindo o Marionetista de infectar o mundo com sua malícia sinistra do além-túmulo. As coisas poderiam ter sido diferentes se tivesse encontrado um adversário menos paranoico — e bem-informado.

Houve silêncio na câmara do conselho por um tempo.

Então, Nephis disse em um tom contemplativo:

“Na verdade, estou inclinada a acreditar em pelo menos uma coisa que a mariposa lhe disse.”

Sunny levantou uma sobrancelha.

“Oh? Qual?”

Ela olhou para a distância, uma expressão distante em seu belo rosto.

“O que disse sobre a chama diminuindo. Se você pensar sobre isso… isso é apenas natural, não?”

Sunny a estudou cuidadosamente.

“Não tenho certeza. Natural? Como assim?”

Nephis soltou um leve suspiro.

“Nosso mundo foi criado pelos deuses, que nasceram da Chama do Desejo. Mas uma chama realmente precisa de combustível para queimar — ela não pode existir no vácuo. Então, que combustível havia para a Chama do Desejo queimar, há todos esses eons, antes mesmo de o tempo existir?”

Sunny inclinou ligeiramente a cabeça, confuso com suas palavras.

‘Que combustível…’

Então, seus olhos se arregalaram levemente.

O que mais poderia haver, na eternidade antes de o tempo existir?

Ele sussurrou:

“O… Vazio?”

Nephis assentiu.

“Isso faria sentido. Uma fonte de combustível eterna, interminável, para uma chama imortal e inesgotável.”

Seus olhos brilharam com uma promessa de chamas brancas, também.

“Mas também houve um conflito irrevogável entre o Vazio sempre em mudança e o Desejo eternamente constante. Então, os deuses travaram uma guerra contra o Vazio e eventualmente o aprisionaram… separando a Chama do Vazio por nada. Agora, a Chama queima no vácuo, privada de seu combustível… de sua fonte. Assim, a Chama está diminuindo, e ao mesmo tempo, a Chama está se sustentando, por si só… de si mesma.”

Cassie falou nesse momento, sua voz soando suave no silêncio da câmara do conselho:

“Mas ela se sustenta. É um ciclo fechado, auto-suficiente. Todos nós somos parte da Chama, e nossos próprios desejos a alimentam. O Marionetista tentou ao máximo pintar essa verdade como algo vil e repugnante, mas eu acho que é o oposto. Para mim, parece… parece belo. Uma chama que se assegura, queimando intensamente com o esforço e anseio humanos…”

Ela os encarou e sorriu hesitantemente.

“Vocês não acham?”

Nephis olhou para as estrelas, enquanto Sunny deu de ombros.

“Bem, nós somos de fato parte da Chama — desta vasta e estranha existência que os deuses criaram. Então todo o argumento do Marionetista era sem sentido por trás de sua sofisma, já que ele estava tentando me convencer de que ser destruído e consumido pelo Vazio é uma alternativa melhor a estar vivo… simplesmente porque estar vivo não é só sol e rosas.”

Ele zombou.

“Não sei quanto a você, mas o sol é superestimado… Eu prefiro muito mais relaxar à sombra. E no que diz respeito às rosas, a maioria das flores que encontrei na minha vida tentou ou me devorar, me despedaçar com seus espinhos, ou colocar seu pólen no meu corpo para usá-lo como fertilizante — nenhum dos quais é propício para estar vivo, acontece.”

Sunny sorriu.

Sim, a vida era cruel às vezes… a vida era uma luta constante, e para algumas pessoas — pessoas como ele — era mais frequentemente amarga do que doce.

…Mas era, afinal, doce.

A vida também era bela, alegre e emocionante, cheia de coisas preciosas como afeto, contentamento, realização, diversão… ela continha amizade, camaradagem, amor, paixão; havia beleza, buscas intelectuais, desafios e emoção…

Embora a vida de Sunny não tenha sido fácil, também foi uma vida cheia de grande prazer e alegria. Um lado de sua vida não poderia ter existido sem o outro, e as lutas que ele superou para estar onde estava deram sentido a tudo isso, fazendo cada triunfo parecer muito mais gratificante.

Isso também era a Chama…

E era isso que ele tinha que proteger de ser consumido pela Corrupção, de ser engolido pela malícia alienígena do primordial Vazio.

Ele suspirou e olhou para Nephis.

“Você teve um encontro com um Amaldiçoado, não teve? O que acha?”

Sunny havia matado quatro Criaturas Pesadelo Amaldiçoadas no Jogo de Ariel — Abundância, o Lobo, o Rat King, e o Marionetista. O Gigante de Latão havia perecido como resultado de suas ações, também, enquanto três outras deidades caídas morreram de maneira misteriosa.

Foi uma conquista impressionante, sem dúvida… e ainda assim, Sunny não sentia muita confiança no momento.

Na verdade, ele estava bastante abalado por suas experiências no Jogo de Morte.

Em verdade, enquanto Sunny estava em grande desvantagem no terrível mundo da criação de Ariel, suas leis também funcionaram a seu favor. Os Amaldiçoados foram contidos na forma como podiam se mover e o que podiam fazer, por um lado. A natureza do Domínio da Cinza tornou a batalha pelo Santuário da Verdade mais fácil, enquanto o próprio Santuário havia empoderado seus companheiros tremendamente…

E mesmo assim, ele mal sobreviveu.

Se Sunny tivesse encontrado os mesmos Amaldiçoados nos alcances selvagens do Reino dos Sonhos, quem sabe como as coisas teriam se desenrolado?

Nephis permaneceu em silêncio por um tempo, então disse em um tom sombrio:

“Foi… muito mais perigoso do que eu imaginava. Na verdade, eu tenho sorte de estar viva.”

Sua expressão escureceu.

“Aquele único Demônio Amaldiçoado poderia ter exterminado toda a humanidade. Eu o derrotei, sim — mas minha vitória não foi assegurada. A batalha foi apertada, na verdade, não diferente de um jogo de azar.”

Ela apertou os lábios.

“Em resumo, os Amaldiçoados são perigosos demais. Cada um deles é uma ameaça de nível de extinção, apesar do quão poderosos nós dois nos tornamos. E há mais do que poucos deles por aí, também. Há cinco apenas aqui no Palácio de Jade no momento… apenas os deuses sabem quantos permanecem em Godgrave, tanto nos Hollows quanto no Mar de Cinzas.”

Nephis fez uma careta.

“Há também as Zonas da Morte ao sul de Godgrave, os desertos gelados a oeste de Coração do Corvo, as Montanhas Ocas e o Submundo, a Floresta Queimada, o Abismo e o Reino das Sombras, os alcances inexplorados… e profundezas… do Tempestmar, e outras regiões do Reino dos Sonhos que ainda não descobrimos.”

Finalmente, ela olhou para Sunny e soltou um suspiro cansado.

“Se todos eles — ou mesmo apenas alguns deles — de repente convergirem no Domínio Humano, não teremos chance. E isso… isso sem mencionar os Profanos. Considerando quão vasta já é a lacuna entre as Criaturas de Pesadelo Grandes e Amaldiçoadas, temo que nós dois juntos não seremos fortes o suficiente para enfrentar até mesmo um único.”

Sunny permaneceu em silêncio, uma expressão sombria no rosto. Não era que ele não tivesse nada a dizer… era apenas que ele concordava com Nephis. Os dois eram os guerreiros mais fortes da humanidade — de longe — e eles eram apenas poderosos o suficiente para contender contra abominações Amaldiçoadas isoladas.

O que aconteceria se uma Criatura Pesadelo Profana se revelasse, em vez disso?

Ele estremeceu.

Nephis, enquanto isso, balançou a cabeça.

“…O que quer dizer que nosso raciocínio estava correto. Ser Supremo não é de todo suficiente para alcançar nossos objetivos. Devemos nos tornar mais poderosos… muito mais poderosos. E devemos ganhar esse poder o mais rápido possível.”

Ela olhou para ele, hesitou por um momento, e então acrescentou em um tom mais baixo:

“Ou… pelo menos um de nós deve. Se estiverem dispostos.”

Sunny permaneceu em silêncio por um tempo, recostando-se no encosto da Cadeira das Sombras. Muitos pensamentos vagavam por sua mente sem rumo, mas ele ainda não conseguia chegar a uma resposta.

No final, ele disse:

“Há algo mais sobre minha experiência no Jogo de Ariel que devo te contar. Algo… bastante importante. Talvez até mais importante do que qualquer coisa que conhecemos até agora.”

Ele inalou profundamente, e então olhou para Nephis e Cassie.

“Diz respeito a um grupo de pessoas que se autodenominam os Nove, Tecelão, e o Feitiço do Pesadelo…”