Escravo das Sombras - Capítulo 2364

Capítulo 2364: Ruína do Lobo

Sunny estava sangrando.

Era uma coisa estranha e desagradável, mas ele não conseguia deter o fluxo de sangue de seus ferimentos.

Seu lado estava despedaçado e sua testa estava cortada. O sangue escorria pelo seu rosto, ardendo em seu olho. O mundo tinha se tornado meio vermelho, e o cabo de sua lança estava escorregadio em sua mão.

Claro, o cheiro de sangue só o fazia ter mais fome de matar seu inimigo.

A única coisa de que ele se arrependia era que o Lobo não derramava sangue, mesmo tendo sido cortado e mutilado por sua lança — afinal, a coisa vil era um cadáver, e cadáveres raramente sangravam.

O próprio Sunny não era um cadáver, mas também não tinha o hábito de sangrar. Hoje era a exceção à regra, no entanto, por causa de quem era seu inimigo. O Lobo era o epítome de um predador e, portanto, tudo que caçava era presa… deveria ser presa.

E era da natureza da presa do Lobo sangrar.

Ser mutilada, rasgada e devorada.

Sunny se via lutando para resistir às limitações de ser uma presa — de ter esse conceito imposto a ele pela Vontade do Lobo — e, portanto, a Tecelagem de Sangue estava se acovardando com medo do espírito maligno.

Claro, ele não estava sangrando tanto quanto uma pessoa normal sangraria — se estivesse, já teria se tornado um cadáver. Sua Vontade estava resistindo ferozmente ao Demônio Amaldiçoado, e com grande sucesso.

Foi por isso que Sunny ainda estava vivo, foi por isso que o Lobo não conseguia se mover livremente na encosta do vulcão, e foi por isso que o temível demônio tinha mais ferimentos em seu corpo do que Sunny.

E a razão pela qual a Vontade de Sunny era tão eficaz contra a Vontade de um ser que era muito mais antigo, muito mais poderoso e muito mais aterrorizante do que ele era, em grande parte, porque ele não a manejava cegamente.

Ele a manejava como um espadachim manejaria uma lâmina afiada, com finesse e precisão. Ele também vestiu a essência do Caçador, tornando aquela arma singularmente adequada para lutar contra o Lobo.

Sunny perfurou o Demônio Amaldiçoado com sua lança, o queimou com lava e soltou suas Vespas Obsidianas sobre ele como cães de caça. Ele envenenou sua alma com a Vontade da Morte, sufocou-o com cinzas, e o acorrentou com sombras manifestadas.

Ele quebrou suas presas e estilhaçou seus ossos, arremessando o gigante Lobo contra a encosta do vulcão com o poder de um Titã Supremo. Ele garantiu que cada passo que a criatura vil desse dentro de seu Domínio custasse mais do que ela podia pagar.

E pagaria…

“Argh!”

Mal bloqueando o golpe de uma pata enorme com o cabo de sua lança, Sunny foi arremessado para trás.

O Lobo se movia com uma velocidade que tornava o conceito de tempo sem sentido. O mundo — aquelas partes que não eram impulsionadas pela própria vontade de Sunny — parecia parado. Flocos de cinzas estavam congelados no ar e fontes de lava tinham se transformado em estátuas brilhantes.

O sol estava imóvel, meio escondido atrás do horizonte.

Sentindo o gosto de ferro do sangue em sua língua, Sunny quis rir.

Ele queria aguentar até o amanhecer se esgotar, não queria?

Aquela esperança parecia insensata agora.

Com a velocidade com que ele e o Lobo estavam se movendo, o amanhecer podia muito bem ser eterno.

Pousando nas rochas irregulares, Sunny escorregou nas cinzas e se endireitou com a ponta de sua lança.

O Lobo já estava sobre ele, e não havia tempo para desviar.

‘Maldita monstruosidade grotesca…’

Sunny não teve tempo de desviar, e nem teve tempo de mergulhar nas sombras. Então, ele nem tentou. Em vez disso, um segundo — seja lá o que isso significasse agora — antes das mandíbulas inescapáveis do Lobo se fecharem sobre seu torso, ele simplesmente se transformou em uma sombra.

Não importava para um Demônio Amaldiçoado se seu inimigo era tangível ou intangível, então Sunny se manteve manifestado como um aglomerado de matéria — uma massa informe de escuridão que foi empurrada pelo focinho da criatura como tecido. Em vez de mordê-lo ao meio, o Lobo simplesmente se emaranhou nele, carregando ambos centenas de metros acima da encosta com seu salto.

Então, Sunny imbuía seu corpo informe com o peso de uma montanha, empurrando o Lobo para baixo.

Sua lança estava agora irremediavelmente fora de alcance… mas isso não importava.

Porque havia centenas de lanças perfeitamente boas saindo das costas da criatura, suas lâminas de pederneira antigas ainda retendo seus gumes mortais.

Cem mãos se ergueram da massa de escuridão informe que emaranhava o Demônio Amaldiçoado e agarraram os cabos das lanças antigas, arrancando-as do corpo do Lobo e então as mergulhando de volta com força feroz.

O Lobo soltou um uivo angustiante, destruidor de almas.

E rasgou o corpo informe de Sunny, destruindo-o com suas presas e suas garras.

A dor era cegante.

Tudo sobre Sunny — seu corpo, sua alma, seu espírito — estava sendo dilacerado.

Mas ele simplesmente ria, continuando a esfaquear a fera frenética com as cem lanças de pederneira. Algumas delas quebraram, mas mais permaneceram intactas, perfurando cada vez mais fundo a carne do demônio…

Mais ainda mergulharam em sua sombra, rasgando-a em pedaços.

O Lobo caiu e rolou, esmagando Sunny sob seu peso.

Ambos estavam recebendo ferimentos graves, mas Sunny sabia que o Lobo o superaria facilmente. Haveria apenas um vencedor nessa troca imprudente de feridas mortais, e não seria o humano.

O vulcão tremia mais uma vez, outra seção da encosta sul sendo completamente pulverizada e quebrada.

Na verdade, a maioria da encosta sul simplesmente tinha desaparecido, até agora.

A encosta leste parecia melhor, mas não muito. A Abundância estava prestes a colapsar lá, e Kai estava bombardeando o gigante de latão indestrutível com explosões sonoras para ganhar um pouco mais de tempo ao verme gigantesco.

A Assassina tinha conseguido matar mais alguns Lobos de Neve na encosta norte, mas a maioria das Vespas Obsidianas já tinha desaparecido. Ela teve que abandonar seu arco e desembainhar suas lâminas, cortando a garganta de uma Besta em investida enquanto mergulhava por baixo dela.

O terreno do vulcão tinha mudado completamente, a própria paisagem sendo redesenhada pela batalha aterrorizante.

Quase parecia que a montanha inteira estava prestes a colapsar.

Afogando-se em dor, sede de sangue e fúria, Sunny pensou friamente…

‘Deve ser hora, não deveria?’

Ele teria sorrido se tivesse uma boca.

A lança, afinal de contas, não era a única arma de um caçador.

A melhor ferramenta do caçador era uma armadilha.