Escravo das Sombras - Capítulo 2360

Capítulo 2360: Líder da Matilha

Do outro lado da montanha, a Assassina havia começado sua barragem. A matilha de Grandes Feras estava correndo pela ponte, transformando-se em correntes de neve de tempos em tempos — Sunny não tinha certeza de quais Atributos os monstruosos Lobos possuíam, mas eles pareciam bastante elusivos.

Ele não sentiu nenhuma nova sombra entrando em sua alma, pelo menos, o que significava que nenhum deles havia sido morto pelas setas.

Na encosta leste do vulcão, Kai também lançou uma seta. Sunny ouviu ela voar — esta era bastante única, tendo sido criada especificamente para o arqueiro encantador. Seu encantamento permitia-lhe imbuir a ponta da seta com som, o que permitia a Kai gravar seus comandos e entregá-los à distância.

Em outras palavras, a seta carregava sua voz mística.

Em um lugar distante, o Gigante de Relógio já havia pisado na ponte de vidro. A seta cantante o atingiu em cheio no peito… e impotente, ricocheteou, sem causar dano à Besta Amaldiçoada.

Isso era exatamente o que Sunny esperava.

Empoderado pela bênção de cinzas e pela própria vontade mortal de Sunny, Kai poderia ter sido capaz de ferir algum outro ser Amaldiçoado. Mas o gigante de latão parecia uma coisa que havia sido criada especificamente para ser sólida e resistente… praticamente indestrutível.

Sunny sabia que esse inimigo em particular seria muito duro para ser perfurado por setas, encantadas ou não. Essa era exatamente a razão pela qual ele havia enviado a Assassina para lutar contra os Lobos de Neve — a natureza do manequim de treinamento malévolo o tornava imune à maioria do arsenal dela.

Na verdade, provavelmente era imune à maioria de tudo, razão pela qual Kai com seus ataques sônicos estrondosos e Abundância com sua massa bruta eram uma escolha melhor. Mesmo que não conseguissem destruir a Besta Amaldiçoada, pelo menos seriam capazes de atrasá-la.

Sunny não tinha vergonha nenhuma de usar os simples, mas eficazes poderes de Abundância a seu favor. Um escudo de carne burro era a contraparte perfeita para um inimigo indestrutível.

Ele estava, na verdade, mais preocupado consigo mesmo.

Ao contrário de seus dois companheiros, Sunny não tentou atacar o Demônio da Neve na ponte. Ele apenas esperou pacientemente, observando enquanto as tempestades de neve se apressavam em direção ao vulcão a grande velocidade.

“Ah. Essa coisa teve que ir e me irritar…”

Sunny não sentia nenhuma animosidade pessoal em relação ao Demônio Amaldiçoado antes de vê-lo avançar agora há pouco. Isso porque qualquer criatura usando um véu de neve como cobertura o lembrava da Besta do Inverno.

E embora Sunny já tivesse matado aquele Titã, ele ainda carregava bastante rancor para com ele e seus semelhantes em seu coração.

“Venha aqui, então.”

Finalmente, a massa flutuante de neve alcançou a encosta do vulcão e a envolveu em um frio amargo.

Este era o território de Sunny, entretanto. Este era seu Domínio.

Assim que a tempestade de neve — e a coisa escondida nela — alcançou o chão de cinzas, as sombras surgiram. A escuridão engoliu todo o lado sul do vulcão, e as cinzas subiram para o ar, misturando-se com a neve.

As cinzas permaneceram, mas a neve ficou negra e derreteu, desaparecendo sem deixar vestígios. Até mesmo os ventos frios foram sufocados.

Em questão de momentos, a tempestade de neve não existia mais.

E uma vez que ela se foi, o espectro que estivera escondido nela foi revelado, parado imóvel no furacão de cinzas.

Sunny sorriu sombriamente.

“…Inesperado.”

O que estava diante dele era um cadáver congelado.

Era o cadáver de um lobo enorme, sua pele podre tão branca quanto neve. Havia inúmeras lanças grosseiras saindo de sua pele ressecada como uma paliçada, as pontas de lanças esculpidas rudemente em sílex e obsidiana.

A monstruosidade Amaldiçoada tinha três olhos, cada um queimando com chamas carmesins malévolas… a visão deles fazia Sunny se lembrar do caçador primordial que Jet havia matado uma vez, uma eternidade atrás, diante do Portão do Pesadelo na CNQN.

Aquele Guardião do Portão tinha usado um crânio com três olhos vazios como capacete, também.

Sunny suspeitava que a maioria das Criaturas do Pesadelo presas no Jogo de Ariel havia sido coletada pelos daemons nos desertos gelados a oeste do Palácio de Jade.

Se fosse assim, ele podia imaginar o cadáver do lobo monstruoso sendo envolto em gelo após morrer para as lanças dos humanos primordiais de uma era passada… apenas para se tornar possuído por um espírito malévolo milhares de anos depois e emergir como um espectro vingativo.

Será que havia sido um predador monstruoso que caçava os humanos primordiais e se banqueteava com sua carne? Será que tinha sido um Espírito guardião de uma tribo humana que os caçadores de outra haviam matado para erradicar o inimigo? Será que caçava sozinho, ou liderava outros predadores como uma divindade bestial?

A Assassina estava lutando contra a matilha de lobos na encosta norte do vulcão agora, mas este — este podia ter sido o líder da matilha.

Ou talvez seu deus.

De qualquer forma, Sunny teria que enfrentar esse horror primordial em batalha.

Os três olhos terríveis do lobo olharam para Sunny, e ele sentiu sua própria alma estremecer e tremer sob seu olhar. A pressão que desceu sobre ele era sufocante, e ele sentiu algo que não sentia há muito tempo.

Um medo primal, completamente irracional, avassalador, surgindo para afogar seu coração batendo descontroladamente.

O medo que a presa instintivamente sentia ao enfrentar um predador.

Sunny bufou.

“Ei, você… quem você acha que é?”

Ele deu um passo à frente, caminhando entre as Vespas de Obsidiana. Então, ele apontou para o chão com a ponta de seu odachi.

“Aqui é meu vulcão. Então, sugiro que enfie o rabo entre as pernas e fuja.”

Em vez de responder, o Demônio Amaldiçoado baixou-se ao chão e soltou um rosnado arrepiante. Sunny sentiu um frio percorrer sua espinha, e sua própria alma tremeu, como se esforçando para permanecer intacta.

Ele tinha quase certeza de que apenas esse rosnado malévolo poderia ter extinto as almas de inúmeros humanos de uma Patente inferior — pessoas mundanas, Despertos… talvez até Mestres. Santos ficariam paralisados e se contorcendo de agonia após serem expostos a essa malevolência…

Ele fez uma careta.

“Muito bem. Venha mais perto, então… vou te dar a honra de se tornar o segundo deus que matei.”