Escravo das Sombras - Capítulo 2321
Capítulo 2321: Verdade ou Morte
O mundo estava chegando ao fim.
Em uma planície branca sem fim, os cadáveres dos deuses menores jaziam quebrados e despedaçados. Rios de ichor fluíam através do gelo fraturado como ouro derretido, caindo nas profundezas de um oceano aprisionado. Bem acima, o céu estava quebrado também. Tentáculos de nada estavam infiltrando-se pelas fissuras, lentamente consumindo a vasta extensão do firmamento.
Um gigante estava ajoelhado no meio do campo de batalha silencioso, segurando sua cabeça com duas mãos enormes. Sangue dourado e correntes viscosas de matéria cinza fluíam por entre seus dedos, e seus olhos radiantes estavam frenéticos e aturdidos.
Sua linda armadura de marfim estava rasgada, e sua lança estava no gelo, esquecida, ainda pulsando com os ecos de raios aniquiladores.
O gigante era uma divindade, seu espírito tão vasto quanto um mundo.
Seus lábios se moveram, sussurrando:
“Eu… Eu sou… Eu sou, eu sou… Eu sou…”
Seus sussurros estavam cheios de medo.
Então, ele subitamente ficou imóvel e olhou para baixo, para a vasta extensão vazia do gelo quebrado à sua frente.
A expressão do gigante lentamente tornou-se estranhamente calma, e sua voz tornou-se uniforme, soando mais profunda e baixa do que antes.
Ele abaixou suas mãos, permitindo que seu crânio quebrado se desfizesse, e falou:
“Saudação Tecelão… Primogênito do Deus Esquecido.”
Enquanto fazia isso, uma figura nebulosa foi subitamente revelada no gelo, envolta por um manto esfarrapado e usando uma máscara temível. Uma voz que parecia mil orações desesperadas ressoou por trás da máscara, fazendo o gigante tremer.
“Irmão, meu irmão. Por que você está se escondendo dentro deste cadáver horrível?”
O gigante riu com uma voz que não era sua, então falou em um sussurro insidioso:
“Ah… deve me ofender tanto, Tecelão? Deve abandonar todo o medo ao enfrentar o Demônio do Medo? Todos nós, demônios, juramos te destruir. Por que você está aqui? Por que você se revelou?”
A máscara temível do daemon nebuloso permaneceu imóvel.
O Tecelão permaneceu em silêncio por um tempo, depois falou:
“Meu irmão sabe o que todo mundo teme e, portanto, ele conhece a verdade de todos. No entanto, eu não conheço o medo. Qual, então, é minha verdade?”
O vento moveu o manto esfarrapado, revelando nada do que estava escondido sob ele.
“Achei que iria te oferecer para jogar um jogo.”
O gigante moribundo olhou para o Tecelão, a luz diminuindo lentamente em seus olhos dourados.
“Um jogo? Ah… que tipo de jogo?”
O Demônio do Destino respondeu à divindade moribunda:
“Um jogo de morte, é claro. Quem vencer será devido a uma verdade. E se eu perder… permitirei a destruição de mim mesmo.”
O gigante estremeceu e colapsou, e enquanto fazia isso, o gelo quebrado engoliu seu cadáver.
Um leve sussurro pairou acima do campo de batalha aterrador:
“Venha… eu aceito…”
O mundo subitamente desapareceu na nada, substituído por um quarto familiar.
Uma figura mascarada estava sentada nas almofadas em frente a um tabuleiro de jade requintado. O quarto estava afundando na escuridão, e dessa escuridão, veio um sussurro:
“Eu sei qual verdade desejo ardentemente. Mas qual verdade você, que vê as profundezas do destino, estará faltando? O que deseja aprender, Tecelão?”
A máscara temível do Demônio do Destino olhou para a escuridão. Mil vozes entrelaçadas ressoaram de baixo dela, fazendo a escuridão tremer.
“Você sabe como o destino pode ser quebrado, irmão?”
Uma mão de porcelana se levantou das profundezas do manto esfarrapado e agarrou uma figura esculpida em jade branco.
“…Essa é a verdade que eu procuro.”
***
Sunny deu um gemido e caiu de joelhos.
‘Ah…’
O eco do sussurro insidioso e o impacto da voz nebulosa ainda ressoavam em seus ouvidos. Ele estremeceu, sentindo uma terrível pressão esmagando sua mente.
“Sunny?”
Kai ficou surpreso, correndo para apoiá-lo.
Sunny afastou-o com um gesto.
“Eu estou… eu estou bem.”
Ele estava, de fato, bem — se um pouco desgastado.
“O que aconteceu?”
Sunny lentamente se levantou do chão e olhou para a figura de jade remanescente no altar.
“…Inferno se eu souber.”
Sua voz soou contida.
Em um momento, ele estava de pé na fortaleza do Castelo da Cinza, e no momento seguinte, ele estava no meio de um campo de batalha angustiante, o mundo se desfazendo ao seu redor, testemunhando dois demônios tendo uma estranha conversa.
Tecelão e Ariel… Destino e Medo.
O mestre das mentiras e o guardião das verdades.
A figura nebulosa do Tecelão parecia estar… um pouco surrada, para uma Divindade elevada. A conversa deve ter ocorrido durante a Guerra da Ruína, quando o sinistro daemon estava sendo caçado tanto por seus irmãos quanto pelos deuses. Aquela mão de porcelana parecia familiar, também… deve ter sido a que o Tecelão montou a partir das partes dos manequins quebrados na Torre de Ébano.
Ariel, por sua vez, parecia estar possuindo o corpo de um campeão Divino derrotado — o gigante que empunhava uma lança infundida com a ferocidade infinita de raios dourados. Sunny não tinha visto como o Demônio do Medo realmente era até o final… talvez Ariel não tivesse aparência alguma.
Talvez o Demônio do Medo existisse apenas como um sussurro.
De qualquer maneira, o Tecelão ofereceu jogar um jogo com apostas altas, e Ariel aceitou.
“Eu acho… eu acabei de ver uma visão. De certa forma.”
O que Sunny havia visto… não parecia uma visão. Na verdade, não parecia nada com o que ele estava familiarizado. Era como se ele estivesse lá, mas não estivesse. Como se ele estivesse presente, mas também ausente.
Como se ele simplesmente tivesse aprendido a verdade sobre o que aconteceu naquele dia.
Sunny fez uma careta, sentindo a pressão de testemunhar três deuses — dois demônios e um humano Divino moribundo — diminuir lentamente, permitindo-lhe respirar livremente novamente.
‘Quem era aquele gigante?’
Kai, entretanto, levantou uma sobrancelha.
“Uh… você costuma ter visões, Sunny?”
Sunny sacudiu a cabeça.
“Não. Pelo contrário, parece que lançar a figura da Fera da Neve no vulcão desencadeou isso.”
Ele hesitou por um momento.
“De qualquer forma, acho que estava errado.”
Kai franziu a testa.
“Sobre o quê?”
Olhando ao redor, Sunny lembrou-se do tabuleiro de jade… e da posição desesperadora do Domínio da Cinza. A Ash estava perdendo desesperadamente.
Ele respirou profundamente.
“Eu… não acho que a Rainha de Jade jogou Ash.”
Sunny olhou para a figura da Fera da Neve mais uma vez e disse, com a voz contida:
“Acho que o Demônio do Medo jogou Ash. Quanto a Snow… deve ter sido jogado pelo Tecelão.”