Escravo das Sombras - Capítulo 2283

Capítulo 2283: Enfrentando a Sombra

A exploração das cavernas abaixo da Costa Esquecida estava procedendo suavemente, mas lentamente.

O Mar Escuro — e as abominações Corrompidas que o habitam — haviam passado milhares de anos se escondendo do sol destruidor ali. Assim, o chão estava coberto por inúmeras camadas de lama, fragmentos de coral pulverizado, ossos quebrados de Criaturas do Pesadelo mortas, e tudo mais que a maré recuante havia levado consigo para o subterrâneo.

Tudo isso estava descansando na escuridão eterna e imperturbada… e havia coisas assustadoras escondidas na escuridão. Abominações poderosas que não foram engolidas pela Espire Carmesim quando o Grande Titã foi selado, enxames de parasitas microscópicos que podiam consumir um humano em momentos, bolsões de verdadeira escuridão que tornavam Sunny cego, e muito mais…

Nada disso representava uma ameaça séria para ele, mas ele tinha que proceder com cautela.

Afinal, apesar de seu grande poder, Sunny não era imortal. Ele podia lidar com qualquer Criatura do Pesadelo habitante da Costa Esquecida, contanto que se concentrasse nisso, mas alguns momentos de descuido ainda poderiam lhe custar uma encarnação. Ele também era bastante resistente, mas não imune aos ataques de alma e mente.

Além disso, não importava quão poderoso alguém fosse, ainda havia todos os tipos de seres estranhos e bizarros no Reino dos Sonhos que simplesmente escapavam à lógica. Então, era prudente ser cuidadoso.

Por enquanto, Sunny não havia descoberto nada muito valioso na vasta escuridão das cavernas escondidas. Ele encontrou mais do que alguns artefatos históricos interessantes pertencentes à extinta civilização da Costa Esquecida, mas isso apenas saciou sua curiosidade como explorador do Reino dos Sonhos, não avançou seus objetivos como Supremo.

Ainda assim, ele continuou pacientemente. Cada Criatura do Pesadelo que ele matou tornou sua Legião das Sombras mais forte, afinal — além disso, cada piscina de verdadeira escuridão era uma descoberta valiosa, já que Sunny estava contemplando maneiras de ajudar o Santo a alcançar uma Patente e Classe mais alta.

Enquanto ele explorava as cavernas, outra encarnação sua estava deitada no frio piso de mármore do Templo Sem Nome, respirando ofegantemente. Seu corpo era um mapa de feridas ferozes, e enquanto sua pele de jade há muito se reparou, os músculos e tendões abaixo estavam em um estado lamentável.

“Ah… condenação…”

Gemendo baixinho, Sunny fez uma careta e sentou-se. Ele convocou a Primavera Sem Fim, bebeu profundamente dela e então levantou-se com dificuldade.

Essa particular encarnação dele estava se recuperando de uma tarefa que cada uma delas assumia a cada poucas semanas.

Essa tarefa era batalhar contra a Assassina.

Sunny manteve a assassina Sombria na masmorra abaixo da catedral arruinada da Cidade Escura agora — na cela de pedra onde ele encontrou a Máscara de Weaver uma vez. A cada sete dias, ele a convocava para o salão inferior do Templo Sem Nome e duelava com ela.

Isso acontecia há um ano inteiro. Os duelos eram invariavelmente ferozes, brutais… e educativos. Cada semana, Sunny mal conseguia derrotar a Assassina, e a cada semana, ele acabava nesse estado lamentável. Como resultado, uma encarnação estava sempre se recuperando, enquanto uma curada desafiava a Sombra na próxima semana.

O avatar em recuperação desempenhava o papel de guardião do Templo Sem Nome.

Fazendo uma careta novamente, Sunny seguiu em direção ao jardim dos fundos.

“Eu deveria levá-la para um piquenique ao norte da cidade um dia. Ela provavelmente apreciará a estátua da Assassina… mesmo que aquela Assassina esteja sem cabeça. Duas Assassinas em um lugar, isso será engraçado? Ou será demais? Eu me pergunto…”

Um sorriso dolorido iluminou seu rosto.

A dor era real, mas os duelos estavam mostrando resultados.

Inicialmente, Sunny não sabia o que fazer com a assassina Sombria. Ele não queria destruí-la, mas também estava relutante em compelir ela a servidão contra sua vontade. Isso ia contra seus princípios.

Ao contrário das sombras silenciosas — os espectros, como ele os chamava agora para evitar confusão — que careciam de senso de individualidade, suas Sombras tinham sua própria identidade. Elas eram tão indivíduos quanto partes dele. Santo, Serpente, Pesadelo, Demônio e Mímico pareciam mais do que dispostos a seguir seu comando, mas Assassina não. Então, ele não a forçaria.

Mas ele também não poderia libertá-la. Ela era um ser de letalidade e malícia apavorantes, afinal, então Sunny não iria liberar esse desastre sobre o mundo por desconforto moral.

Assim, ele lutava contra ela toda semana. Seus duelos começaram como uma tentativa de comunicação — Sunny esperava chegar a algum tipo de entendimento com Assassina, mas em vez de ouvi-lo, ela atacou imediatamente. Então, em vez de palavras, eles acabaram se comunicando com aço afiado.

Sunny estava frustrado com sua agressão obstinada no começo, depois indignado, e finalmente com raiva.

Assassina permanecia tenazmente desafiadora, sempre tentando matá-lo e machucá-lo de qualquer forma que pudesse. E tanto quanto Sunny estava aprendendo lutando contra ela, ela também estava aprendendo e se adaptando lutando contra ele. Assim, nenhuma de suas vitórias tinha sido fácil até então.

Em algum momento, ele ficou incerto sobre o motivo de continuar com essas dolorosas surras semanais. Mas elas haviam se tornado um hábito, quase um ritual, então decidiu simplesmente aproveitá-las como lições valiosas.

Ele estava regularmente treinando com Nephis na Ilha de Marfim, e com Santo ou Assassina aqui na Costa Esquecida. Verdadeiramente, a vida estava mimando ele com maravilhosos parceiros de treinamento…

Mas então, algo inesperado aconteceu.

Depois de uma longa sequência de derrotas, Assassina parecia ter começado a tratá-lo com uma espécie de… respeito relutante. Um senso de afinidade, até. Ela ainda não estava disposta a se submeter a ele, mas pelo menos estava disposta a fazer um acordo com ele.

Desde que Sunny a derrotasse naquela semana, ela seguiria seu comando por uma semana. Além disso, ela exigia pagamento cada vez que ele a convocava.

Sendo uma Sombra, Assassina naturalmente não tinha necessidade de dinheiro ou tesouros mundanos. O que ela queria como pagamento, em vez disso… era o sangue de Sunny.

Assassina não falava, mas ela facilmente conseguia expressar seu desejo com um silêncio eloquente. Era um pouco estranho… e mais do que um pouco assustador… mas ela parecia ter desenvolvido um gosto pelo sangue de Sunny — ou pelo menos um interesse nele — desde que algumas gotas dele caíram sobre ela, e foram absorvidas por ela, dos nós dos dedos rasgados de Sunny durante seu combate no Reino das Sombras.

Absorver seu sangue quase fazia ela parecer… mais viva, de algum modo.

De qualquer forma, esse era o acordo deles agora, e esse era o preço que Sunny estava pagando para se beneficiar do poder de sua sexta Sombra.

Isso, e a dor.

Gemendo, Sunny mancava pelos corredores do Templo Sem Nome, entrava no jardim escondido atrás da magnífica Cidadela negra, e usava a Primavera Sem Fim para regar sua árvore.

Então ele olhou para o céu sem estrelas e suspirou.

“Me pergunto quando virá a próxima tempestade. Não tivemos chuva há meses…”

Sua expressão escureceu, e ele resmungou:

“Vou ter que me preocupar com o abastecimento de água também? Mais trabalho para mim, droga…”