Escravo das Sombras - Capítulo 2247
Capítulo 2247: Trono de Sombras
Sunny tinha que morrer, mas ele não podia se permitir ser morto.
Ele tinha que ser aquele que acabasse com a própria vida…
Isso era mais fácil de dizer do que fazer, no entanto.
Afinal, ele se destacava em permanecer vivo contra todas as probabilidades. Sua alma era vasta e tenaz, enquanto seu corpo era como uma fortaleza. Ele podia suportar uma quantidade incrível de punição e se curar em uma velocidade impressionante. Mesmo que seu coração parasse de bater por algum motivo, havia uma boa chance de que ele pudesse sobreviver simplesmente forçando seu sangue a se mover por conta própria.
Foi por isso que Sunny havia perfurado seu peito com o estilete escuro… com a Serpente. Com a lâmina assassina que personificava a própria Morte.
Seus olhos se arregalaram quando a lâmina fria perfurou seu coração. Aquela frieza se espalhou num instante, permeando todo seu ser… puxando-o para baixo e desacelerando seus pensamentos.
Era cruelmente doloroso, mas a dor foi ofuscada pela terrível realização do que ele havia feito.
‘Eu…’
Ele sentiu. A morte vindo reclamar o que costumava ser uma pessoa — o que costumava ser ele. Ele sentiu seu corpo enfraquecendo, sua alma colapsando, sua visão se tornando escura. Este era o fim, e não havia escapatória desse fim. Nenhum truque que ele pudesse usar, nenhuma estratégia inteligente que pudesse salvá-lo.
A finalidade de tudo — o nada eterno que estava diante dele — aterrorizou Sunny no último momento.
Pelo menos a morte era rápida e misericordiosa.
Ele nem mesmo sentiu a agonia de ser queimado vivo pela luz cegante… apenas viu seus braços se desintegrando em cinzas, como se estivesse observando outra pessoa deixar de existir à distância.
‘Ah…’
O último suspiro escapou de seus lábios, que se tornaram para sempre silenciosos.
A figura ajoelhada do Senhor das Sombras oscilou e então caiu.
No entanto, seu corpo nunca tocou o chão, transformando-se em uma nuvem de cinzas antes de poder fazê-lo. As cinzas foram espalhadas pelo vento.
A última coisa a desintegrar foi a mão que ainda segurava a lâmina da Bigorna, teimosamente se recusando a soltar até o último momento.
Logo, tudo o que restava do temido Senhor das Sombras era a máscara preta que caiu no chão e permaneceu ali, abandonada, encarando o céu com olhos escuros e vazios.
…E sua sombra.
***
Havia um lago quieto e silencioso que se banhava na escuridão dos sete sóis sem luz.
Um grande templo de mármore preto erguia-se acima da água escura, cheio de vazio.
Uma legião de sombras silenciosas cercava o templo, permanecendo na superfície do lago quieto sem movimento, seus olhares sem vida voltados para a antiga edificação do templo.
Como se esperassem por algo.
Nada perturbava o silêncio tranquilo do lago escuro… até que, de repente, um vento frio soprou sobre sua superfície.
A água parada ondulou…
Então, sem aviso, um raio negro rasgou a paz da escuridão, caindo de cima para atingir o magnífico templo.
Passou pelas telhas de seu teto, sem obstrução, e desapareceu dentro.
E quando as chamas negras recuaram, uma nova sombra ficou sozinha na escuridão impenetrável do grande salão vazio.
Era a sombra de um jovem homem esbelto, suas belas feições imóveis e paradas.
Seus olhos estavam fechados.
Enquanto os ventos frios ragessem acima do lago crescente e os sete sóis queimassem com chamas escuras acima dele, o jovem homem permanecia silencioso e imóvel, assim como a legião de sombras lá fora.
Mas então, suas pálpebras tremeram.
Enquanto o jovem homem lentamente abria seus olhos tenebrosos, foi como se uma onda de força invisível se espalhasse para fora do templo, passando pelas sombras silenciosas e fazendo o vasto lago agitar. Os sete sóis sem luzes se acenderam com um brilho escuro, e as águas paradas fervilharam.
Algo estava acontecendo aos sóis negros, ao lago escuro… à vasta extensão do silêncio sem luz. Como se estivesse passando por uma metamorfose profunda, atingindo profundidades insondáveis.
A sombra do jovem homem parecia quebrar as correntes que a mantiveram imóvel, movendo-se ligeiramente… ganhando vida. Ele olhou lentamente ao redor, ganhando consciência, então inalou profundamente.
Então, ele caminhou pelo grande salão do templo escuro e passou por seus portões.
Parado no topo dos degraus de mármore preto, o belo jovem olhou para a legião de sombras com seus olhos escuros, frios, sem luz.
E respondendo à sua presença, as sombras, que sempre foram sem vida e imóveis, finalmente se moveram.
Aqueles que possuíam formas que se assemelhavam a humanos se ajoelharam. Aqueles que possuíam formas que se assemelhavam a Bestas abaixaram-se para a superfície da água.
Todos eles se prostraram diante do jovem homem, como se estivessem saudando seu senhor… seu monarca.
Seu Soberano.
O jovem homem olhou para baixo, para eles, seu rosto impassível e frio…
Então, um sorriso sinistro torceu seus lábios atraentes.
‘Funcionou.’
Sunny queria rir.
Ele havia conseguido. Ele havia morrido e retornado da morte.
Desta vez, sem a ajuda de poderosas Memórias ou das águas fluentes do Grande Rio.
Ele havia derrotado a morte com nada além de sua Vontade…
O que quer dizer, ele havia desafiado uma lei absoluta e galvanizado sua alma para se tornar Suprema no processo.
Claro, havia um pequeno truque envolvido.
Se Sunny tivesse sido morto, sua sombra teria sido enviada para o Reino das Sombras, e lá, teria sido transformada em pura essência pelo mundo, apagando-o da existência.
Mas sombras das criaturas que Sunny próprio matou nunca entraram no Reino da Morte. Elas entravam em seu próprio Mar da Alma em vez disso, e se juntavam às fileiras de todas as suas vítimas anteriores.
Então, ao se matar, Sunny havia enviado sua sombra para seu próprio Mar da Alma. Foi por isso que ele tinha que morrer por sua própria mão, e não pela lâmina da Bigorna… e foi assim que ele foi capaz de se obrigar a voltar à vida ao invés de ser consumido pelo Reino das Sombras.
Quando ele fez isso, a parede que o impediu de atingir a Supremacia foi quebrada.
E seu nascente Domínio se manifestou na existência.
Olhando para a legião de sombras prostradas, Sunny exalou lentamente.
‘Então, é isso que Eurys quis dizer.’
Essas sombras silenciosas…
Eram seu Domínio.
Ele o estava construindo o tempo todo sem sequer saber.
E que poderoso Domínio era!
Seu sorriso sinistro se tornou escuro e assassino.
‘Agora, então…’
Sunny olhou para cima.
Havia alguém lá fora que ele tinha que matar.
De volta ao campo de batalha fraturado, a temida máscara preta tremeu.