Escravo das Sombras - Capítulo 2000

Capítulo 2000: Bestas Humanas

Tamar foi envolvida por uma radiante luz azul cegante por um momento e, então, violentamente arremessada ao chão. Sua zweihander caiu de sua mão, chacoalhando enquanto deslizava pela superfície do osso encharcado de sangue. Sua armadura estava chamuscada e derretida em vários lugares, revelando pedaços de pele grotescamente queimada.

Fios de fumaça se erguiam debaixo dela, se dissipando no ar.

Chuva congelou por um instante, sua mente atordoada.

‘N—não…’

Então, Tamar se moveu fracamente, revelando que ainda estava viva.

O que a havia atingido não era diferente de um verdadeiro raio, mais do que capaz de transformar um corpo humano em cinzas. No entanto, a jovem Legado devia possuir uma Memória que lhe concedia um nível alto o suficiente de resistência a ataques elementares.

Foi assim que ela sobreviveu.

Mesmo assim…

Ela ainda estava ferida e estirada indefesa no chão, temporariamente incapaz de se defender.

E sua adversária estava ilesa, ainda segurando uma espada em sua mão.

Arcos azuis de eletricidade ainda dançavam através de sua armadura.

[Mova-se!]

A voz de seu irmão despertou Chuva de seu estupor.

A jovem Cavaleiro de Pluma deu um passo à frente, erguendo sua espada com uma mão trêmula. Seu rosto estava pálido — talvez porque não estivesse acostumada a matar pessoas, ou talvez simplesmente porque estava iluminado pelo brilho azul de seu temível Aspecto.

Um momento depois, Chuva saltou sobre Tamar e avançou contra a jovem mulher, preparada para atacar.

É claro que ela não tinha se esquecido de derramar essência na Peça de Resistência e limitar o alcance de sua defesa apenas à eletricidade — assim, elevando sua proteção contra isso ao máximo possível.

A jovem Cavaleiro de Pluma se encolheu e desviou seu olhar para o novo inimigo.

Sua espada se moveu, e outro raio de relâmpago estalou enquanto disparava contra Chuva.

Sua velocidade era intensa demais para desviar ou até mesmo reagir. Chuva apenas soube que havia sido atingida um momento depois, quando sua visão foi afogada em um mar de branco, e uma dor terrível atravessou todo o seu corpo.

…Mas não foi tão ruim.

Ela estava cega e com dor, mas havia sofrido poucos danos de fato. Parecia que a Memória protetora que seu irmão tinha criado para ela era bastante superior à que Tamar, uma verdadeira Legado, possuía.

Ela estava surpreendentemente pouco ferida.

A dor era realmente terrível, no entanto, e a carga elétrica atrapalhou bastante seu controle sobre o próprio corpo.

‘Ah… inferno…’

Chuva estava cega, mas ainda possuía a habilidade de sentir as sombras. Ela havia sido treinada para navegar pelo mundo com esse sentido, também.

Isso teria que bastar até que sua visão retornasse.

Ela ainda precisava lidar com a Cavaleiro de Pluma.

Um momento depois, ela afastou a espada da jovem mulher e empurrou seu ombro contra o peito da inimiga, mandando ambas voarem para longe de Tamar e rolarem pelo chão.

Chuva estava desorientada, mas ainda assim pulou de pé primeiro e desferiu um golpe com sua espada, sentindo uma sensação aterrorizante de urgência.

Ela estava cautelosa com sua adversária.

Seus movimentos eram fluidos e assustadoramente rápidos, mas a jovem Cavaleiro de Pluma ainda conseguiu bloquear o tachi negro. Ela ainda estava de joelhos e um pouco atordoada, usando ambas as mãos para receber o golpe de Chuva na lâmina de sua espada.

Chuva podia ver vagamente que o capacete de sua inimiga havia voado longe, e seus cabelos dourados estavam esvoaçando ao vento. A imagem era vaga e borrada, tornando difícil discernir qualquer detalhe.

Assim que as duas lâminas colidiram, Chuva soltou um sibilo de surpresa e recuou cambaleando.

‘Que… vadia astuta…’

Sua adversária de cabelos dourados havia usado o poder de seu Aspecto de uma maneira insidiosa. Em vez de canalizá-lo em um raio de relâmpago, ela simplesmente canalizou-o em sua espada de aço. A partir daí, ele viajou pela lâmina do tachi negro de Chuva e entrou em seu corpo, trazendo ainda mais dor.

“Aargh!”

O tropeço momentâneo de Chuva deu à bela Cavaleiro de Pluma todo o tempo que ela precisava para se levantar.

Mas no próximo momento, ela teve que se abaixar com uma expressão assustada enquanto Chuva lançava o tachi sem cerimônia contra seu rosto.

Quando a inimiga reagiu, Chuva já estava sobre ela, agarrando sua espada com uma mão e desferindo um soco devastador contra seu peito com a outra.

As mãos de Chuva estavam protegidas pelas luvas feitas de couro preto e opaco. Couro era um isolador bem melhor do que a lâmina do tachi negro, então tudo o que ela sentiu ao tocar a espada e o peitoral da inimiga foi uma leve ardência.

Ao mesmo tempo, sua força atual era assustadora o suficiente para fazer o aço da jovem Cavaleiro de Pluma afundar um pouco e para um grito abafado escapar de sua boca.

…Mas não o suficiente para fazer a jovem Legado perder sua vantagem, aparentemente.

No segundo seguinte, o joelho da Cavaleiro de Pluma atingiu a lateral de Chuva, e seus punhos a fizeram recuar em agonia — um atingiu suas costelas, o outro bateu em seu queixo, fazendo Chuva sentir o gosto de sangue.

‘Por que ela tinha que ser proficiente em combate corpo a corpo também…’

Ela cambaleou para trás, então instantaneamente girou e mergulhou para baixo, varrendo os pés de sua inimiga.

Sem dar à cavaleira de cabelos dourados uma oportunidade de se levantar, Chuva a pressionou contra o chão e desferiu um soco em seu rosto, fazendo o sangue brilhante jorrar do nariz da jovem mulher.

Um momento depois, as duas estavam se debatendo no chão encharcado de sangue, tentando esmagar, quebrar e estrangular uma à outra. As penas brancas da armadura da jovem Legado logo foram manchadas e se tornaram vermelhas, e a armadura de Chuva não estava melhor.

Chuva era mais forte… mas a jovem Cavaleiro de Pluma ainda estava coberta por uma rede azul de arcos elétricos, que continuamente machucavam e entorpeciam a adversária.

Nessa altura, a visão de Chuva já havia quase retornado, revelando o rosto sujo, ensanguentado e miserável de sua inimiga. O medo e a desespero em seus olhos… e uma assustadora intenção assassina queimando neles, também.

Por um momento, Chuva se sentiu desconectada de sua própria mente e corpo.

Naquele momento, as duas não pareciam guerreiras… ou mesmo humanas, realmente. Não havia graça, habilidade ou honra em sua luta violenta e feia.

Em vez disso, não eram diferentes de Bestas sujas e selvagens se dilacerando em um frenesi assassino.

Ainda assim, uma delas teria que morrer, e a outra iria sobreviver.

Essa… era a essência do combate.

Chuva não tinha tempo ou luxo para hesitar, pensar ou até mesmo sentir.

Ela só podia se esforçar para garantir que, no fim, fosse ela quem sobrevivesse.