Escravo das Sombras - Capítulo 1950
Capítulo 1950: Alto Feiticeiro
Algum tempo depois, Sunny soltou um suspiro trêmulo e se espalhou no chão. Sua mente parecia estar em chamas, e havia uma miríade de pensamentos fervilhando em sua cabeça.
Ele tinha razão!
Usar uma encarnação para aumentar uma Memória era, de fato, um divisor de águas. O ato de se fundir a uma Memória lhe deu um nível completamente novo de entendimento sobre como seus encantamentos funcionavam e como seu tecido de magias causava a existência desses encantamentos.
Era uma coisa ver a tapeçaria de cordas etéreas, mas experimentá-la como parte de si mesmo era completamente diferente.
Antes, Sunny podia estudar um tecido e tirar conclusões lógicas sobre como seus elementos funcionavam, bem como o papel que cada corda desempenhava na tapeçaria. Observando a estrutura e os princípios orientadores de inúmeros tecidos e comparando-os entre si, ele conseguia deduzir o propósito de alguns dos padrões e tecer Memórias recriando-os. Foi assim que sua carreira como feiticeiro começou… e ele tinha feito grandes avanços desde então.
Sunny aumentou gradualmente o repertório de padrões que podia tecer. Eventualmente, ele foi capaz até de entender os princípios por trás da estrutura desses padrões, o que lhe dava capacidade para mudá-los e modificá-los. Finalmente, ele chegou ao ponto em que podia tecer novos padrões e, assim, criar encantamentos um tanto originais, tudo sozinho.
No entanto, Sunny sempre permaneceu cego à verdadeira essência do tecido. Ele discerniu como muitos tecidos funcionavam, mas nunca entendeu o porquê. Em outras palavras, ele apenas observou os princípios orientadores do tecido sem nunca conhecer as razões subjacentes para que fossem como eram.
Sua experiência como feiticeiro tinha sido puramente empírica, sem o entendimento teórico do funcionamento interno e da causalidade da feitiçaria que praticava. Ele era, na melhor das hipóteses, um alquimista, não um químico.
Agora… tudo isso poderia mudar.
Claro, Sunny ainda não tinha compreendido as elaboradas leis subjacentes ao tecido. Mas ele havia obtido uma ferramenta para observá-las agora — para personificá-las agora — o que significava que, com o tempo, ele seria capaz de compreendê-las e aprendê-las.
Quando ele conseguisse…
Um leve riso escapou dos lábios de Sunny.
Se conseguisse entender o “porquê” do tecido em vez de apenas o “como”, ele não precisaria mais depender de imitação para criar encantamentos. Ele não precisaria mais de um repertório de tecidos e padrões — porque poderia resolver qualquer problema simplesmente conhecendo as regras para resolvê-lo.
Claro, isso não transformaria Sunny em um feiticeiro onipotente de uma hora para outra. Afinal, ter as ferramentas necessárias para resolver um problema não é o mesmo que dominá-las. Caso contrário, as pessoas teriam sido capazes de resolver… bem… algo terrivelmente complicado em matemática imediatamente após formular as regras da aritmética.
Para sua vergonha, Sunny não sabia suficiente sobre matemática para inventar um exemplo.
‘Por que estou pensando nisso?’
Isso… ele estava pensando nisso porque havia decidido descansar um pouco depois que seu cérebro quase derreteu como resultado de experimentar a fusão com o Sino de Prata.
Mas…
Ele já havia descansado o suficiente, não havia?
Sentando-se, Sunny balançou a cabeça energicamente… e convocou a Rocha Extraordinária.
“Vamos ver quais mistérios você está escondendo!”
Sunny não disse isso. A Rocha Extraordinária disse isso.
Mas no momento seguinte, Sunny tornou-se a Rocha Extraordinária.
Imediatamente, ele estremeceu.
Algum lugar distante, o Senhor das Sombras se chocou contra uma coluna enquanto saía do Templo Sem Nome. Em outro lugar, uma sombra escondida soltou um suspiro frustrado, fazendo Chuva se mexer um pouco em seu sono.
‘Vamos continuar!’
***
Algum tempo depois, Aiko voltou para o porão, carregando uma bandeja de comida. Seu chefe estava espalhado no chão em um estado desgrenhado, olhando para o teto com olhos vidrados.
Ela o cutucou cautelosamente com o canto do sapato.
“Ei, chefe. Uh… você está vivo?”
Sunny virou a cabeça e olhou para ela com uma carranca.
“Qual eu você está perguntando? Além disso, defina o significado de vivo. Também… defina o significado de você.”
Ele piscou algumas vezes, então balançou a cabeça.
“Esqueça. Sim, estou vivo. Mas o que você está fazendo aqui?”
Aiko soltou um suspiro e colocou a bandeja no chão perto dele.
“Aqui, coma um pouco. Achei que você estaria com fome.”
Sunny inclinou um pouco a cabeça.
“Huh? Por que eu estaria com fome?”
A garota pequena deu de ombros.
“Quero dizer… você está trancado no porão há três dias sem nunca sair…”
Ele a encarou por alguns momentos, então olhou para a comida.
Realmente cheirava muito apetitoso…
“Já passaram três dias? Nossa. Isso é loucura.”
Puxando a bandeja para mais perto, Sunny agarrou o prato mais próximo e colocou uma colherada de sopa aromática na boca.
“A Nephis voltou para o acampamento, por acaso?”
Aiko o observava comer com uma expressão duvidosa, então balançou a cabeça.
“Ainda não. Ela ainda está a caminho… inspecionando os postos avançados de extermínio ou algo assim, pelo que ouvi. Provavelmente estará aqui em mais alguns dias.”
Sunny assentiu.
“Certo. Avise-me quando isso acontecer… Vou ficar aqui no porão até lá.”
E então, pensando nisso, ele de repente a perfurou com um olhar intenso.
“Espere. Como está nosso negócio de lucro com a guerra?”
A garota pequena se encolheu.
“O quê?! Que lucro com a guerra? Não há lucro com a guerra acontecendo aqui! Apenas… um programa de redistribuição de Memórias completamente benigno e oficialmente sancionado, para a glória e benefício do grande Exército da Espada…”
Sunny acenou com a mão.
“Sim, sim. Tanto faz. Você já deveria ter pelo menos um pequeno estoque de Memórias no inventário, certo? Esperando para serem… redistribuídas. Empreste-me elas por alguns dias. Ah, também! Diga aos Guardiões do Fogo que, já que tenho tempo livre, posso modificar algumas Memórias para eles, gratuitamente. Deve haver pelo menos alguns deles ainda no acampamento, certo?”
Aiko piscou.
“Eu me recuso.”
Sunny congelou por um momento.
“O quê? Por quê?”
Ela cruzou os braços e fez uma careta severa.
“Gratuitamente? O que é isso? Nossos serviços são exclusivos e de ponta, então por que deveríamos fornecê-los gratuitamente? Continue sonhando!”
Sunny olhou para a garota pequena por alguns momentos, então acenou com a mão.
“Tudo bem, tanto faz. Apenas me arranje algumas Memórias — quanto mais, melhor!”
Sorrindo com satisfação, Aiko disse a Sunny para aproveitar sua refeição e saiu voando do porão… literalmente.
Ele sorriu.
“Ótimo…”
Estando banido do Feitiço, ele não podia transferir diretamente ou receber Memórias. Cada uma precisava ser modificada levemente antes que ele pudesse entregá-las ou reclamar posse — se a outra parte estivesse disposta, é claro.
Então, isso realmente exigiria algum esforço por parte de Sunny para conseguir as Memórias de Aiko.
Valeria a pena, no entanto, porque, se ele conseguisse…
Ele seria capaz de aumentá-las e estudá-las livremente, ganhando instantaneamente mais combustível para sua pesquisa atual. A avareza inflexível de Aiko à parte, Sunny deveria estar pagando aos Guardiões do Fogo pelo acesso gratuito aos arsenais de almas deles, em vez…
Mas, não importa.
Ele atacou a bandeja de comida vorazmente, sorrindo de orelha a orelha.
‘Já fiz um bom progresso.’
Em mais um dia ou dois, provavelmente estaria pronto para colocar seu novo conhecimento em prática e testar os primeiros resultados de seu recente avanço.
Portanto, seria hora de tecer algumas Memórias…