Escravo das Sombras - Capítulo 1910
Capítulo 1910: Portão do Rio
Portão do Rio, a Cidadela do Clã Dagonet, foi construída sobre um largo rio. Ela o cortava como uma grande parede — ou melhor, uma série de paredes, descendo dos altos penhascos como degraus destinados a um gigante.
Era ao mesmo tempo uma barragem e uma eclusa. A maior parede segurava a poderosa correnteza. Cada degrau abaixo dela era separado por uma vasta câmara com portões imponentes, que podiam ser preenchidos com ou esvaziados de água com a ajuda de antigos encantamentos.
Um navio viajando de ou para o Tempestmar podia descer dos penhascos ou escalá-los devido ao sistema antigo de eclusas, sem jamais sair do rio. Ao mesmo tempo, nada podia nadar mais rio acima sem destruir a Cidadela — e mesmo assim, o atacante teria que sair da água e viajar por terra com as eclusas destruídas.
Havia quase um quilômetro de distância vertical entre o ponto mais alto do Portão do Rio e seu ponto mais baixo. Cada parede descendente era incrivelmente alta e espessa, construída de pedra monolítica, com ameias construídas em seu topo. Temíveis armas de cerco estavam posicionadas nas ameias — algumas encantadas com antiga feitiçaria, outras construídas pelos ferreiros do Clã Valor.
Centenas de Despertos se aglomeravam nas paredes, liderados por uma dúzia de Mestres.
Sete Santos estavam de pé na mais alta das paredes da fortaleza, olhando para baixo com expressões sombrias.
Eram Morgan, a Princesa da Guerra, e seis campeões cuja ajuda ela havia conseguido… ou coagido.
Nesse momento, havia pouca diferença.
Três dos seis Santos haviam pertencido uma vez à Casa da Noite — Santo Naeve, Santo Onda de Sangue e Santo Éter.
Os outros três estavam com o governo — Cantora da Noite, Besta de Guerra e Ceifador de Almas Jet.
Naquele momento, Naeve estava conversando com Besta de Guerra — Santa Athena, Criada por Lobos.
“…Então você já encontrou aquele demônio antes?”
Ela o encarou por um longo momento, depois sorriu de forma irônica.
“Nós até o matamos antes.”
Naeve voltou-se para um homem surpreendentemente belo, com cabelos ruivos e olhos verdes hipnotizantes, uma expressão de choque em seu rosto.
“Santo Rouxinol, isso é verdade?”
Santo Kai se mexeu desconfortavelmente.
“Não exatamente. O que matamos não era aquele demônio — era, sim, uma versão Corrompida de seu eu Transcendente conjurado pelo Pesadelo. Mesmo assim, nenhum de nós três ousa reivindicar qualquer crédito. Ele foi erradicado pela Dama Estrela Mutável.”
Ele suspirou.
“Ainda assim. Nós sabemos mais sobre do que ele é capaz do que qualquer outra pessoa. Isso deve ser de alguma ajuda.”
Naeve olhou para baixo, então lançou um olhar sombrio para o sul.
“…Ao menos sabemos que ele pode ser morto, então.”
Menos de um dia havia se passado desde que Mordret de… de Lugar Nenhum, na verdade, havia desembarcado na margem do Domínio da Espada. Os seis Santos que Morgan havia recrutado mal tiveram tempo para conversar enquanto eram levados por ela até o Portão do Rio.
A viagem do Bastião até ali foi rápida devido ao fato de haver três campeões Transcendentes da Casa da Noite com eles. A própria Morgan havia falado pouco com eles, passando a maior parte da jornada pensando em sua tarefa com uma expressão sombria no rosto.
No entanto, ela havia dado a cada um dos Seis Santos um amuleto em forma de uma bigorna perfurada por uma espada — exceto Rouxinol, que já possuía um.
Sua expressão havia sido solene ao confiar seus companheiros aos talismãs de aço.
“No momento, existem apenas sete desses em existência. Agora, seis deles estão aqui — estraguei muitos relacionamentos para tirá-los dos donos anteriores. Então, valorizem bem. Nunca se separem do amuleto e não permitam que aquele homem o tome de vocês. A menos que queiram se tornar um dos vasos dele.”
Santo Naeve estudou o amuleto com uma expressão melancólica. Depois de um tempo, ele perguntou:
“…Você não tem um para si mesma, Senhora Morgan?”
Ela balançou a cabeça.
“O sétimo… foi perdido na Antártica e nunca recuperado. Meu tio o usava. Claro, o Clã Valor possui outros meios de defesa contra aquele homem, mas nenhum é tão facilmente transportável. De qualquer forma, não se preocupe. Eu vou ficar bem.”
Ouvindo suas palavras, o Ceifador de Almas levantou uma sobrancelha.
“Oh? Como assim?”
Morgan respondeu com um sorriso afiado.
“Bem, se ele entrar na minha alma… eu simplesmente terei que matá-lo lá, não é? Como minha querida irmã fez, no Pesadelo.”
Ela vinha se preparando para lutar contra seu irmão novamente por quatro anos. Morgan duvidava que ele realmente se atreveria a desafiá-la para um duelo de almas, mas se ele o fizesse… desta vez, nenhum dos dois sobreviveria à batalha.
Morgan quase esperava que ele o fizesse.
De fato, os amuletos eram uma solução ruim para seu dilema. Isso porque, de tudo o que sua família havia aprendido sobre aquele homem, o único jeito de matá-lo era destruir sua verdadeira reflexão durante um duelo de almas… mesmo isso, só havia sido aprendido a partir do relatório da Estrela Mutável sobre os eventos de seu Terceiro Pesadelo.
Então, ao vestir os amuletos, seus campeões estavam rejeitando o único método de derrotar o inimigo.
Mas pouco podia ser feito sobre isso. Deixá-los indefesos era um risco grande demais — ela absolutamente não podia permitir que seu irmão tomasse mais Santos, porque ele seria capaz de conquistar mais Cidadelas vestindo seus corpos.
E perder mais Cidadelas para o Domínio Song não era uma opção.
Ela suspirou.
“Quanto tempo até ele chegar?”
Foi Santo Onda de Sangue, com sua voz profunda, quem fez a pergunta.
Morgan ponderou por um momento.
“Ele já chegou. Está apenas se escondendo e nos observando, por enquanto.”
Suas palavras pareceram inquietar os seis Santos — ou melhor, cinco deles. O Ceifador de Almas permaneceu relaxado e indiferente, apoiando-se em sua fantasmal foice de guerra enquanto estudava preguiçosamente as antigas paredes do Portão do Rio.
Criada por Lobos mudou de uma perna para outra, e então olhou para Morgan com um sorriso.
“Você sabe o que geralmente fazem em situações assim em romances heroicos, não sabe?”
Morgan não pôde deixar de admitir… que estava constantemente perplexa com aquela mulher.
Ela piscou algumas vezes, tentando se lembrar se algum dia tinha lido um romance heroico em sua vida.
Com certeza não.
“Não posso dizer que sei, Santa Athena.”
A mulher alta — bela como uma estátua da deusa da guerra que havia ganhado vida — sorriu.
“Bem, o tipo engenhoso de herói sempre explode uma barragem e afoga um exército de dez mil homens, conseguindo uma vitória impossível e provando seu gênio estratégico. Você é a estrategista, então… nós não vamos explodir o Portão do Rio, não é? Ah, e me chame de Effie.”
Morgan a encarou por alguns momentos, então lentamente balançou a cabeça.
“Não, nós não vamos explodir o Portão do Rio. Por que eu tentaria afogar um inimigo cujos vasos são todos Santos da Casa da Noite? Isso não faz nenhum sentido.”
Criada por Lobos… Effie… assentiu com conhecimento de causa.
“Uma boa decisão. Você realmente é um gênio!”